Numa gravação de cerca de cinco minutos, publicada nas redes sociais por alegados membros do grupo 'Amba Boys' (Rapazes de Amba, região onde se fala inglês), é possível ver os sequestradores a obrigar vários estudantes a dizerem os seus nomes e o nome dos seus pais.
"Queremos ir para casa, já não queremos ir à escola" dizem os alunos na gravação, enquanto os raptores asseguram que só serão libertados depois da criação de um novo Estado independente nas regiões anglófonas dos Camarões.
"Só os libertaremos depois da luta. Agora vão à escola aqui", afirmam os sequestradores sobre os jovens raptados no domingo, em Nkwen, no noroeste do país.
Ainda que o vídeo não tenha sido verificado de forma independente, vários pais dos rapazes já identificaram os seus filhos através das redes sociais.
O Governo camaronês, por sua vez, deu luz verde a uma operação de "busca intensiva", em que também participará o Exército, para encontrar os rapazes.
Um alegado comunicado da Comissão de Políticas Internacionais da Ambazonia (AIPC, em inglês), reclama que o vídeo é falso, e que os atos foram cometidos a mando do "regime ditatorial de Paul Biya [Presidente do país]".
"A AIPC apela ao regime ditatorial de Paul Biya que pare de raptar funcionários e alunos de escolas do sul dos Camarões, numa tentativa de culpar as forças de autodefesa no sul dos Camarões", lê-se no comunicado.
"A AIPC acredita que é o regime de Biya que está a cometer estes atos ofensivos, numa tentativa de ganhar a simpatia da comunidade internacional, enquanto que tenta desacreditar a causa legítima da restauração do estatuto de independência do sul dos Camarões", continua o documento.
A Comissão que pretende a independência mostrou-se cética com a possibilidade de um sequestro numa escola que está "fortemente guardada por soldados leais aos Camarões franceses".
Chris Anu, que reclama ser secretário das Comunicações da República da Ambazonia, partilhou hoje um vídeo em que assinala que os raptores não pertencem às forças separatistas.
"Esses rapazes que raptaram os alunos não são 'Amba Boys' ou das nossas forças de restauração. 'Amba Boys' não raptam alunos, não atacam alunos, escolas ou funcionários", diz Chris Anu no vídeo.
"Além disso, a pessoa que se ouve no vídeo é francófona. Ouçam o seu sotaque, e vão perceber que ele não está a falar a língua de contacto que os naturais da Ambazonia conhecem", acrescentou Anu.
Anu assinalou ainda que as forças separatistas não têm maneira de manter 81 reféns.
A chamada crise anglófona começou em 2016, com protestos pacíficos para um uso mais igualitário do inglês em tribunas e centros educativos nas regiões anglófonas do noroeste e sudoeste.
A forte repressão pelo Governo camaronês levou à eventual criação de grupos armados, no final de 2017.
No último ano, centenas de pessoas morreram devido a ataques violentos e confrontos entre as Forças Armadas e as milícias separatistas, com várias instituições - incluindo escolas - a serem invadidas.
Em setembro, durante o início do período escolar 2018-2019, seis alunas e o diretor de uma escola foram sequestrados na região anglófona dos Camarões, com um outro diretor a ser assassinado.
O Presidente dos Camarões, Paul Biya, reeleito para um sétimo mandato em 07 de outubro - numas eleições que a oposição considerou fraudulentas - mantém-se relutante em negociar com os separatistas.
Cerca de um quinto dos 22 milhões de camaroneses fala inglês, uma minoria resultante do período colonial.
Os Camarões foram uma colónia britânica e francesa até 1960, quando conquistou a independência das duas potências e instaurou um Estado federal, até à unificação, em 1972.