País em choque com emissão televisiva de julgamento de caso de violação
O suspeito é um pastor evangélico que era uma figura conhecida na televisão local. A vítima é uma mulher, atualmente com 22 anos, que reporta ter sido alvo de abusos quando tinha apenas 14 anos.
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Mundo África do Sul
Na África do Sul, onde em média são reportados cerca de uma centena de casos de violação por dia, decorre um julgamento com direito a transmissão televisiva que está a colher atenção nacional.
O interrogatório duro à principal testemunha, e a notícia de que a vítima tinha recebido ameaças de morte, levou uma multidão a manifestar-se junto ao tribunal, tendo inclusive levado à interrupção dos trabalhos, adianta a BBC.
Timothy Omotoso é um televangelista natural da Nigéria, de 60 anos de idade, que está a ser julgado num caso de violação e tráfico de menores na África do Sul. O pastor está a ser julgado a par de outras duas mulheres da mesma igreja - a Jesus Dominion International - de um total de 97 acusações. Os três arguidos declararam-se inocentes.
A vítima que expôs o caso é uma jovem atualmente com 22 anos, Cheryl Zondi, que terá sido vítima de vários abusos sexuais cerca de um ano após ter entrado para a igreja, numa altura em que tinha 14 anos de idade.
Cheryl Zondi tem recolhido apoios nas redes sociais e entre figuras públicas, que têm saído em sua defesa num país onde os crimes de natureza sexual nem sempre merecem a devida atenção por parte das autoridades e da sociedade. Ndileka Mandela, neta de Nelson Mandela, que revelou ter sido violada por um ex-companheiro, é uma das figuras que tem estado ao lado de Zondi.
Explica a BBC que além dos protestos perante as notícias que davam conta das ameaças, junta-se agora uma reação crítica pela forma como Cheryl Zondi foi tratada em tribunal pelo advogado de defesa de Timothy Omotoso.
Várias afirmações e perguntas do advogado mereceram apupos, inclusive no interior da própria sala do tribunal. "És uma boa atriz", disse a dada altura o advogado dirigindo-se à vítima, acrescentando de seguida que achava que Zondi estava a mentir.
"Estava preparada para o deixar violá-la? Basicamente consentiu?", perguntou o advogado sobre alegados episódios que terão acontecido numa altura em que Zondi era já maior de idade.
A dada altura, o advogado insistiu em saber em "quantos centímetros" a vítima tinha sido penetrada quando tinha 14 anos, uma pergunta que levou o próprio juiz responsável pelo caso, Mandela Makaula, a perguntar ao advogado como é que a vítima teria maneira de o saber. "Poderia ter sentido", defendeu-se o advogado Peter Daubermann.
A BBC realça que os interrogatórios em tribunal costumam ser particularmente intensos na África do Sul. O caso do atleta paralímpico Oscar Pistorius, condenado pela morte da companheira, incluiu alguns episódios de acesa troca de palavras entre advogado e réu.
Há, porém, quem refira que, neste caso, a advogado do pastor evangélico terá 'passado das marcas'.
A advogado de defesa queixou-se posteriormente de ter sido alvo de insultos à porta do tribunal pela sua postura e defendeu que não se pode preocupar com "sensibilidades" quando se trata da defesa do seu cliente. A estratégia da defesa virou entretanto a sua atenção para o próprio juiz do caso, a quem acusa de parcialidade.
O juiz rejeitou o pedido de escusa feito pela defesa de Timothy Omotoso.
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