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Venezuela: Onde se morre do "mal" e da "cura" da violência armada

Zulay González perdeu dois filhos, um vítima da violência armada na Venezuela e outro em resultado da resposta das autoridades a essa violência, que tem tido como principais alvos os jovens das zonas mais pobres do país.

Venezuela: Onde se morre do "mal" e da "cura" da violência armada
Notícias ao Minuto

16:11 - 20/09/18 por Lusa

Mundo Crise

O caso de Zulay González, um dos testemunhos que constam no relatório da Amnistia Internacional sobre a Venezuela, hoje divulgado, em Buenos Aires, na Argentina, é um exemplo dos muitos que fazem engrossar o número de homicídios no país.

Segundo Zulay González, o seu filho Lugo morreu, em março de 2012, em Cúa, no Estado de Miranda, quando seguia de motocicleta e foi intercetado por um grupo de homens que o balearam nas pernas, costas e cabeça.

Sete meses depois, outro dos seus filhos, Mario Lugo Fernandez, foi morto pelas autoridades quando vários membros do Corpo de Investigações Científicas e Criminais entrou num café nos arredores de Caracas à procura de membros de um "gang".

Zulay González, que afirmou ter visto tudo a partir da sua casa, adiantou que Mario estava na rua quando os polícias começaram a disparar, ordenando-lhe que parasse.

Adiantou que tentou intervir a favor do filho, mas foi impedida pelos polícias, que a insultaram e agrediram.

"Desaparece se não queres uma bala na cabeça", disseram-lhe, relatou Zulay González, que diz que, quando o filho foi enfiado num carro, ainda andava e falava. A próxima vez que o viu foi na morgue do hospital em Caracas.

"Olhei para o meu filho, limpei-lhe a cara. Tinha sido baleado na cabeça", disse, adiantando ter notificado as autoridades da morte nesse mesmo dia para que fosse investigada de imediato.

Foi-lhe dito pelas autoridades que Mario morrera num confronto com polícias e só conseguiu aceder ao processo de investigação cerca de dois anos após a morte.

A investigação arrastou-se, segundo o testemunho de Zulay González, devido a dificuldades na obtenção de documentos e à troca de procuradores.

Cinco polícias foram identificados como tendo estado envolvidos na morte de Mario, mas apesar das mais de 20 notificações nunca apareceram para serem ouvidos e, cinco anos depois, ninguém foi detido ou afastado do posto.

Mario estudava e conduzia um táxi para ajudar a família, teria feito 19 anos um dia após a sua morte e não tinha registo de crimes, nem era procurado pela polícia.

Zulay González nunca obteve resposta sobre a morte do primeiro filho.

"É melhor não fazer ondas. Já matamos esses bandidos", disseram-lhe, quando procurou saber do andamento da investigação junto do Ministério Público.

De acordo com o relatório "Esta não é forma de vida: A segurança pública e o direito à vida na Venezuela", entre 2015 e junho de 2017 registaram-se 8.292 alegadas execuções extrajudiciais no país.

O relatório revela que, em 2016, a Venezuela registou a maior taxa de homicídios da sua história, com mais de 21.700 mortes, 4.667 (22%) das quais responsabilidade de elementos das forças de segurança.

Relativamente a 2017, a organização considera pouco fiáveis os números avançados pelo Governo, que não contabilizam as mortes cometidas pelas forças de segurança e apontam uma taxa de homicídios de 62 por 100 mil habitantes.

Números de organizações não-governamentais, citados no relatório da AI, registam, por seu lado, uma taxa de 89 por cada 100 mil habitantes, o que coloca a Venezuela nos lugares cimeiros da lista de países com maior taxa de homicídios, a seguir à Síria e El Salvador.

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