Parece que a tradição já não é o que era no concurso Miss America. 

Na era do movimento #MeToo a Miss America assumiu que ia mudar regras, tentando assim afastar o concurso de críticas de sexismo. 

A edição deste ano decorreu este fim de semana e coroou a nova-iorquina Nia Imani Franklin, a afro-americana que, depois de se tornar Miss Nova Iorque, juntou agora o título de Miss America, tendo-se destacado numa prova de talento em que cantou ópera.

Nia Imani Franklin, porém, acabou por ter de partilhar as atenções com Emily Sioma, concorrente pelo Estado do Michigan.

Como dizíamos, a tradição parece que já não é o que era. Manda o cliché esperarmos que, na hora de falar sobre os problemas do mundo, as 'misses' se defendam e fiquem por um genérico desejo de 'paz em todo o mundo'. Ora Emily Sioma destacou-se pelas suas palavras, logo no momento da apresentação.

Foi assim que a Miss Michigan se apresentou no concurso: "Do Estado com 84% da água fresca do país mas sem água nenhuma para os seus residentes beberem, eu sou a Miss Michigan Emily Sioma".

A frase de Emily recorda o drama vivido em anos recentes pela comunidade de Flint, no estado do Michigan.

Para entendermos a 'estocada' que valeu tanta atenção nas redes sociais é preciso recordar o contexto político e social. Em Flint, no Michigan, problemas financeiros levaram a que cidade ficasse sob apertada gestão financeira.

Os planos de austeridade no Michigan levaram a que o município, que era o que mais pagava pelo consumo de água, se desligasse do sistema de Detroit para passar a abastecer-se no rio Flint.

A ideia pode parecer uma forma simples de poupar dinheiro. Porém, o que o mundo viu em Flint foi como uma decisão 'cega' de gestão trouxe problemas de saúde. É que a água do rio Flint não estava limpa. Testes à qualidade da água decretaram que esta era autêntico 'lixo tóxico'. Os residentes enfrentaram problemas de saúde graves, com o problema a tornar-se uma emergência a nível federal.

Emily, com pouco tempo para se apresentar, lembrou em poucas palavras a tragédia que se viveu em Flint, no Michigan. E a internet adorou.

“from the state with 84 percent of the u.s. fresh water but none for its residents to drink, i am miss michigan emily sioma” — the new #missamerica2019 pageant did not come to play pic.twitter.com/H05eifix2e

— alex rees (@maybealexislost) September 10, 2018

De tal maneira que havia até quem quisesse que a vitória fosse, de forma automática, para a concorrente do Michigan.

Miss Michigan should automatically win #MissAmerica for starting with this! #Home #GoGirl pic.twitter.com/fdhRILMEtA

— Joel Schipper (@JSchipperWDRB) September 10, 2018