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Portugueses em Chemnitz acusam extrema-direita de aproveitamento político

Portugueses a viver em Chemnitz, Alemanha, negam ter sido alvo de atos discriminatórios e acreditam que tem havido "aproveitamento político" da extrema-direita, depois da morte por esfaqueamento de um cidadão alemão.

Portugueses em Chemnitz acusam extrema-direita de aproveitamento político
Notícias ao Minuto

16:28 - 03/09/18 por Lusa

Mundo Alemanha

Chemnitz, cidade na Saxónia, no leste da Alemanha, tem sido palco de manifestações e confrontos na última semana.

Após a morte por esfaqueamento de um alemão, a 26 de agosto, e a detenção pela polícia de dois suspeitos do crime, um iraquiano e um sírio, grupos de extrema-direita lançaram no domingo passado uma "caça aos estrangeiros" nas ruas de Chemnitz.

A viver há sete anos na Saxónia, Lúcia Soares não esconde o receio: "tenho medo, apesar de ter dupla nacionalidade e de ser casada com um alemão, tenho receio de ir ao centro da cidade".

"Aqui há estrangeiros de primeira e segunda", confessa Lúcia Soares, que admite não ter sentido na pele "xenofobia ou racismo" apesar de estar certa de "que existe, por falta de conhecimento das pessoas e também pelo passado político que viveram".

Apesar de reconhecer que "o problema das pessoas de Chemnitz é com os refugiados", a enfermeira portuguesa não esconde que vai ouvindo alguns comentários racistas: "há uma colega de trabalho que diz que, se pudesse, pegava nos estrangeiros, juntava-os num avião e mandava-os para a terra deles".

Lúcia Soares lamenta que exista um "aproveitamento" por parte dos movimentos de extrema-direita alemães, revelando que "uma grande parte dos manifestantes que se tem juntado desde que começaram os protestos não é de Chemnitz, vem de outros lados da Alemanha".

Apesar de sentir medo, adianta que por agora não pensa em sair do país: "Tenho aqui a minha vida estável, o meu marido, os meus filhos e o meu trabalho, vou ficar por cá enquanto sentir que não estou realmente em perigo", adianta a enfermeira portuguesa de 50 anos.

Lúcia Soares não encontra justificação para os atos violentos contra os refugiados, mas acredita que "houve uma entrada descontrolada" de migrantes no país, defendendo outra forma de agilizar o processo por parte da chanceler Angela Merkel.

A morar em Chemnitz há cinco anos, Afonso Henrique Manita assegura que nunca teve "problemas, nem nenhuma situação desagradável ou de racismo, nem com alemães, nem com nenhum outro cidadão de outro país".

"Logicamente evito aproximar-me da zona das manifestações, pois se, por um lado, penso que há muito aproveitamento político por parte da extrema-direita, compreendo a parte alemã. Há muitos jovens recém-chegados como refugiados, a sua grande maioria recebe casa, dinheiro, escola e formação por parte do estado alemão e são muitos os que não querem trabalhar, nem estudar", reconhece o português que vive a dois quilómetros do local onde foi morto um cidadão alemão.

Mas Afonso Henrique Manita também recorda o tempo em que trabalhou com vários árabes, que o ajudaram muito e de quem ficou amigo.

Numa resposta enviada à Lusa, a embaixada de Portugal em Berlim revela não ter conhecimento de nenhum português envolvido nos acontecimentos de Chemnitz.

Esta tarde são esperadas milhares de pessoas na cidade para um concerto contra os protestos de extrema-direita.

O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Maas, reiterou os apelos para uma mobilização da sociedade alemã, que "se deve levantar do sofá", segundo as palavras do próprio, contra o racismo e a xenofobia.

"Devemos todos mostrar ao mundo que nós, os democratas, somos a maioria e que os racistas são a minoria. A maioria silenciosa deve levantar a voz", declarou o ministro, uma entrevista ao diário Bild no passado domingo.

Igualmente em declarações ao Bild, a ministra da Justiça alemã, a também social-democrata Katarina Barley, defendeu a abertura de uma investigação para determinar se os incidentes em Chemnitz foram planeados e organizados pela extrema-direita.

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