Em causa está a fuga de informação que permitiu a grupos extremistas divulgarem na Internet o mandado de detenção de um iraquiano suspeito da morte de um alemão, que contribuiu para alimentar a violência.
O ministro do Interior do Governo federal, Horst Seehofer, qualificou hoje a fuga de informação do mandado, coberto pelo segredo de justiça, de "absolutamente inaceitável".
"Quando ouço que o mandado foi provavelmente passado pela polícia à extrema-direita temos um grande problema para resolver", disse, horas antes, o vice-primeiro-ministro do governo regional da Saxónia, o social-democrata Martin Dulig, a uma rádio regional.
"Tem de ser claro que algumas coisas na polícia não vão ser toleradas", acrescentou. "Não é possível que polícias pensem que podem divulgar coisas que sabem que são um delito".
As autoridades alemãs confirmaram hoje que é autêntico o mandado de detenção divulgado na internet.
A Procuradoria de Desden, a capital da Saxónia, abriu um inquérito para "esclarecer o mais rapidamente possível" os factos.
Segundo a televisão pública alemã ARD, o documento foi divulgado por um grupo local de extrema-direita, o Pro-Chemnitz, que depois o retirou, por uma secção local do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) e pelo grupo Pegida (sigla em alemão para "Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente").
O documento continha não apenas o nome do suspeito como também de testemunhas, assim como o nome da juíza encarregada do processo, além de pormenores sobre as circunstâncias do crime.
O iraquiano, de 22 anos, e um alegado cúmplice, um sírio, de 23, são suspeitos de matar à facada um alemão de 35 anos na noite de sábado para domingo em Chemnitz, cidade da Saxónia.
O mandado não menciona o motivo do crime, mas a polícia já desmentiu rumores segundo os quais a vítima foi atacada por ter defendido uma mulher que estava a ser sexualmente agredida pelos suspeitos.
O homicídio deu origem, no domingo, a uma "caça aos estrangeiros" organizada por simpatizantes de extrema-direita nas ruas de Chemnitz, a que se seguiu, na segunda-feira, uma contramanifestação da extrema-esquerda na qual se registaram confrontos que causaram 20 feridos, entre as quais dois polícias.