O documento, subscrito por 103 grandes repórteres e chefes de redação, foi publicado hoje pela AFP na sua página de Internet (https://www.afp.com/fr/au-fil-de-lafp/tribune) e divulgado por vários media europeus, entre os quais Le Monde, Le Figaro, JDD, La Libre Belgique e o diário alemão Tagesspiegel, depois de o Parlamento Europeu ter rejeitado em julho uma reforma dos direitos de autor, que previa a criação de tal direito.
Em Portugal, o documento foi assinado pelos jornalistas Sofia Lorena, Paulo Moura e Cândida Pinto.
Os GAFA (Google, Facebook, Apple e Amazon) desencadearam uma campanha sem precedentes ao nível das instâncias europeias contra esta reforma, argumentando que corria o risco de minar a Internet gratuita.
"Em mais de 40 anos de carreira, vi o número de jornalistas no terreno diminuir de forma constante, enquanto os perigos não param de crescer. Tornámo-nos alvos e as reportagens estão cada vez mais caras", lê-se no apelo aos eurodeputados lançado por Sammy Ketz, diretor da delegação da AFP em Bagdad, que cobriu numerosos conflitos para a agência de notícias.
"Acabou a época em que ia para a guerra, de casaco, ou em mangas de camisa, um caderno no bolso, acompanhado por um fotógrafo ou um operador de imagem. Hoje, é preciso coletes à prova de bala, capacetes, viaturas blindadas, por vezes guarda-costas para evitar raptos, seguros". Quem paga estas despesas? Os media. E isso é caro", prossegue o texto, assinando por jornalistas de renome como a francesa Florence Aubenas, o alemão Wolfgang Bauer, o britânico Jason Burke ou o fotógrafo sueco Paul Hansen.
E o apelo continua: "Ora, os media que produzem os conteúdos e que enviam os jornalistas a arriscar a vida para assegurar uma informação fiável, pluralista e completa, por um custo cada vez mais elevado, não são os que tiram benefícios, mas as plataformas que se servem sem pagar. É como se vocês trabalhassem, mas uma terceira pessoa recolhesse, sem vergonha e descaradamente, o fruto do vosso trabalho".
"Agora, (os media) querem reclamar os seus direitos para poderem continuar a informar, pedem que sejam partilhadas as receitas comerciais com os produtores desses conteúdos, sejam media ou artistas. É isto os ´direitos conexos´, acrescenta-se no documento.
Rejeita-se, de caminho, "a posição partilhada pelo Google e pelo Facebook segundo a qual a diretiva sobre os ´direitos conexos´ ameaça a gratuitidade da internet".
"Trata-se da defesa da liberdade de imprensa, porque se os jornais não tiverem mais jornalistas, não haverá mais esta liberdade à qual os deputados, qualquer que seja a sua filiação política, estão ligados", conclui-se no documento, em que se apela aos parlamentares para votarem massivamente a favor da aplicação dos "direitos conexos" às empresas de informação, para que viva a democracia e um dos seus símbolos mais marcantes: o jornalismo".
A reforma dos direitos de autor na UE, que divide os europeus mesmo dentro dos próprios grupos políticos, será novamente debatida em sessão plenária em setembro e poderá ser alterada antes de nova votação.