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A carta de despedida que John McCain deixou à América

Senador morreu na sua casa, no passado sábado, após uma luta árdua contra um cancro no cérebro. Tinha 81 anos.

A carta de despedida que John McCain deixou à América
Notícias ao Minuto

10:10 - 28/08/18 por Pedro Filipe Pina

Mundo Senador

O senador republicano do Arizona John McCain deixou uma carta ao povo norte-americano para ser lida após a sua morte.

"Agradeço o privilégio que me deram de poder servir-vos e a vida gratificante que o serviço militar e o serviço público me permitiram levar. Procurei servir o nosso país honradamente. Cometi erros mas espero que o meu amor pela América seja ponderado, favoravelmente, contra esses erros", pode ler-se no início da missiva.

Já no fim da carta, que reproduzimos integralmente mais abaixo, McCain deixa um repto: "Não desesperem perante as dificuldades do presente e acreditem sempre na promessa de grandeza da América, porque não há nada de inevitável aqui. Os americanos nunca desistem. Nós nunca nos rendemos. Nós nunca nos escondemos da História. Nós fazemos História."

Herói de guerra, recorde-se, McCain deixou a sua marca na política norte-americana. Perdeu as eleições norte-americanas em 2008, contra o democrata Barack Obama, mas chega ao fim de vida recolhendo elogios à direita e à esquerda, pese embora muitos dos elogios cheguem de quem a dada altura esteve do outro lado da barricada.

O seu último grande ato político foi uma oposição ao também republicano Donald Trump, num voto contra que permitiu segurar um plano de saúde dos democratas a que muitos republicanos queriam pôr fim. 

A dada altura da guerra do Vietname tornou-se provavelmente o mais conhecido prisioneiro de guerra norte-americano detido pelos vietnamitas. Sofreu torturas durante os anos de detenção, torturas que o deixaram com o corpo castigado mas que não lhe roubaram o espírito de luta.

O fim da guerra não o tornou um pacifista. Ao longo das últimas décadas acabou por votar favoravelmente em momentos em que os Estados Unidos se preparavam para novo conflito, como após o 11 de Setembro. No fim de vida, McCain deixa uma carta à América mas de certa maneira também ao mundo. Nela, admite os seus erros. Mas espera que para a história fique, acima de tudo, o privilégio e a forma honrada como representou o seu país.

No fim de vida, McCain despede-se indo muito para lá das quezílias entre republicanos e democratas. Lembra o poder da América, num discurso elogioso para a sua nação, mas diz também que as "rivalidades tribais" diminuem essa América, tal como os "muros" atrás dos quais se escondem.

Eis a versão integral da carta que John McCain deixou com o seu colaborador de há muito Rick Davis, para que este a partilhasse com o mundo:

"Caros americanos, a quem eu servi, grato, durante 60 anos e em especial aos cidadãos do Arizona,

Agradeço o privilégio que me deram de poder servir-vos e a vida gratificante que o serviço militar e o serviço público me permitiram levar. Procurei servir o nosso país honradamente. Cometi erros mas espero que o meu amor pela América seja ponderado, favoravelmente, contra esses erros.

Por diversas vezes me apercebi de que sou a pessoa mais sortuda do mundo. É assim que me sinto mesmo agora que me preparo para o fim da minha vida. Adorei a minha vida, cada pedaço dela. Tive experiências, aventuras e amizades suficientes para dez vidas bem preenchidas e estou tão grato por isso.

Tal como a maioria das pessoas, tenho arrependimentos. Mas não trocaria um único dia da minha vida, fosse nos tempos bons ou maus, pelo melhor dia da vida de outra pessoa qualquer. Esse contentamento devo-o ao amor da minha família. Nenhum homem alguma vez teve uma mulher tão carinhosa ou filhos de quem tivesse tanto orgulho quanto o que eu tenho dos meus. E devo isso à América. Estar ligado às causas da América - a liberdade, a igualdade perante a lei, o respeito pela dignidade de todas as pessoas - traz uma felicidade mais sublime do que a dos prazeres fugazes da vida. A nossa identidade e autoestima não são circunscritas, mas sim aumentadas, por servirmos causas maiores do que nós.

'Caros Americanos' — esta associação foi sempre maior do que qualquer outra para mim. Vivi e morri como um orgulhoso americano. Somos cidadãos da mais incrível república do mundo, uma nação de ideais, não de sangue e terra. Somos abençoados e somos uma benção para a Humanidade quando defendemos e fazemos avançar esses mesmos ideais, em casa e no mundo. Ajudámos a libertar mais pessoas da tirania e da pobreza do que qualquer outro país na História. Adquirimos grande poder e riqueza nesse processo.

Enfraquecemos a nossa grandeza quando confundimos patriotismo com rivalidades tribais que espalham o ódio, o ressentimento e a violência pelos quatro cantos do mundo. Enfraquecêmo-lo quando nos escondemos atrás de muros em vez de os fazermos ruir, quando duvidamos do poder dos nossos ideais ao invés de confiarmos neles para serem a grande força de mudança que sempre foram.

Somos trezentos e vinte e cinco milhões de opinativos, vorazes indivíduos. Discutimos e competimos e por vezes vilipendiamo-nos uns aos outros nos nossos debates acalorados. Mas sempre tivemos muito mais em comum do que de diferente. Se nos conseguirmos lembrar mais vezes disso e dar o benefício da presunção que todos adoramos, este país vai ultrapassar estes tempos difíceis. Sairemos disto mais fortes do que nunca. Saímos sempre.

Há dez anos eu tive o privilégio de reconhecer a minha derrota na luta pela presidência. Quero terminar esta carta de despedida com a mesma fé inabalável que tenho nos americanos e que senti com tanta força naquela noite.

Ainda a sinto com essa mesma força.

Não desesperem perante as dificuldades do presente e acreditem sempre na promessa de grandeza da América, porque não há nada de inevitável aqui. Os americanos nunca desistem. Nós nunca nos rendemos. Nós nunca nos escondemos da História. Nós fazemos História.

Despeço-me, caros compatriotas. Que Deus vos abençoe e que Deus abençoe a América".

 

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