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Sea Watch 3, um navio parado à espera de salvar pessoas

Nos estaleiros de Bezzina, a poucos quilómetros da capital maltesa, o navio humanitário Sea Watch 3 aguarda, há um mês, que lhe seja dada autorização para cumprir a sua missão: salvar pessoas no Mediterrâneo.

Sea Watch 3, um navio parado à espera de salvar pessoas
Notícias ao Minuto

13:43 - 04/08/18 por Lusa

Mundo Migrações

Não é o único. Os navios "irmãos" Lifeline e Seefuchs, estão também ancorados nos portos de La Valetta e as organizações não-governamentais (ONG) que operam no Mediterrâneo queixam-se de dificuldades crescentes e acusam as autoridades de quererem criminalizar o resgate humanitário.

Enquanto isso, milhares de pessoas continuam a arriscar a vida na perigosa travessia do Mediterrâneo Central em embarcações sobrelotadas e sem condições.

Tudo começou em junho depois do navio Lifeline (ex-Sea Watch 2, que pertencia à ONG alemã Sea Watch) ser apresado e o capitão detido, alegadamente por irregularidades no registo marítimo.

Poucos dias depois, foi a vez do Sea Watch 3 ser bloqueado.

Para Sandra Hammady, a chefe de missão do Sea Watch em Malta tudo não passa de um pretexto.

"Não há qualquer base legal para nos bloquearem no porto, porque tudo está correto. Navegamos com bandeira holandesa, fomos inspecionados por um perito holandês que disse que estava tudo em ordem e já pedimos novamente às autoridades maltesas para sair", contesta.

O problema "nem sequer é para o Sea Watch ou para os outros navios", critica Hammady.

"O problema é para as pessoas que se estão a afogar. Junho foi o mês mais mortífero nos últimos cinco anos porque todos os navios de resgate estão parados. O navio está pronto para sair, a tripulação está motivada podíamos ir salvar vidas, mas estamos bloqueados num porto e enquanto se desenrolam jogos políticos e lutas pelo poder as pessoas afogam-se no Mediterrâneo.

As críticas dirigem-se não só a Itália e Malta, mas também aos outros países europeus.

"A Itália mostrou claramente que não quer sustentar o fardo sozinha, fechando os portos (...) Isto é um pedido de ajuda aos outros Estados-membros [da União Europeia] que não tem apoiado Itália e a Grécia ou outros países onde as pessoas desembarcam. A Itália está a tentar atingir a parte mais fraca que são as pessoas e a pressionar o governo maltês e as autoridades holandesas para os ajudar a manter os navios nos portos", destaca a responsável do Sea Watch

Para Sandra Hammady, a questão não é saber quem vai receber as pessoas: "Impedir o salvamento no mar significa que estas pessoas morrem. O problema está a ser resolvido de uma forma muito feia pela Europa: deixemo-los morrer no mar para não termos de lidar com este problema".

Denunciando a "falta de solidariedade" dos países europeus, a chefe de missão do Sea Watch, congratula-se, no entanto, com o apoio que tem sido dado por muitos "autarcas italianos e espanhóis que não apoiam a política de fechar os portos", pela Igreja e grupos civis e políticos.

"Isto mostra que não estamos a lutar sozinhos", salienta, afirmando também "que não há qualquer evidência de que os navios de resgate sejam um incentivo ao contrabando de pessoas" como alegam algumas vozes, entre as quais o ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, líder da Liga, um partido de extrema-direita.

E diz que as mortes no Mediterrâneo vão continuar a acontecer.

"As pessoas fogem da tortura, abuso sexual e escravatura. Enfrentam as coisas mais terríveis na Líbia e temos inúmeros relatos de organizações sobre o que está a acontecer. As pessoas que encontrámos no mar disseram-nos todas: mais vale morrer do que voltar à Libia", frisa.

Face ao desespero, conclui Sandra Hammady, as pessoas continuam a tentar a travessia: "Para as pessoas que atravessam o Mediterrâneo e para os contrabandistas que põem estas pessoas em barcos não faz diferença se estamos lá ou não".

À espera de poder cumprir o seu desígnio, a tripulação vai ocupando o tempo como pode. Usam o computador, cozinham, ocupam-se das tarefas do dia a dia e aproveitam alguns momentos de descontração no dia de folga.

Ao todo são 22 tripulantes incluindo pessoal médico (dois médicos e dois paramédicos), um cozinheiro, o capitão e o contramestre, três engenheiros e voluntários polivalentes.

Além de um mini-hospital totalmente equipado, o navio carrega no porão centenas de litros de água e vários quilos de mantimentos. Tudo está preparado para acolher e manter até 500 pessoas durante uma semana.

Agora só falta a autorização para sair do porto e navegar o Mediterrâneo em busca de mais refugiados que se juntem às 35.000 pessoas que a Sea Watch já ajudou a resgatar, desde que foi criada, em 2015.

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