Meteorologia

  • 25 ABRIL 2024
Tempo
14º
MIN 13º MÁX 19º

Grupo armado na Síria está a recrutar crianças junto de famílias pobres

Human Rights Watch exige o fim imediato desta prática. YPG garantem que crianças com menos 18 anos não entram em combates, e que as suas fileiras servem para dar proteção a mulheres e crianças, no entanto, há relatos de crianças mortas em combate.

Grupo armado na Síria está a recrutar crianças junto de famílias pobres
Notícias ao Minuto

08:54 - 03/08/18 por Pedro Bastos Reis

Mundo Human Rights Watch

As Unidades de Proteção Popular (YPG), uma milícia curda do norte da Síria que assumiu um papel importante no combate ao autodesginado Estado Islâmico, está a recrutar crianças, com menos de 18 anos, para as suas fileiras a famílias carenciadas.

A denúncia partiu da Human Rights Watch, que cita um relatório das Nações Unidas, relativo ao ano de 2017, que dá conta da existência de pelo menos 224 casos de crianças recrutadas pelas YPG, um número cinco vezes maior ao ano anterior, muitas delas do sexo feminino, para cumprirem serviço militar nas regiões controladas pela milícia curda.

De acordo com a Lei Internacional, é proibido que grupos armados não estatais recrutem crianças com menos de 18 anos, sendo que recrutar crianças com menos de 15 anos é considerado crime de guerra. Nesse sentido, a Human Rights Watch pede o fim imediato desta prática, que tem decorrido, sobretudo, junto de famílias carenciadas, que não têm como evitar que as suas crianças se juntem a milícias que lhes prometem uma vida melhor. A ONG pede ainda que os Estados Unidos, um dos aliados das YPG, façam pressão no sentido de pôr fim a esta prática. 

“É especialmente horrendo que o grupo recrute crianças de famílias vulneráveis em campos de deslocados sem o consentimento dos pais, sem que digam às famílias, sequer, onde estão as suas crianças”, denunciou Priyanka Motaparthy, a dirigente da Human Rights Watch responsável pelo estudo.

Apesar de em muitos casos as crianças abandonarem as famílias sem consentimento das mesmas para se juntarem às milícias, e de outros em que há mesmo relato de coações feitas junto dos pais e das crianças, vários casos relatados pela mesma ONG dão conta de casos em que as crianças partem voluntariamente.

Sem saber onde estão as crianças, muitas famílias, que equacionavam abandonar os campos de refugiados onde se encontram, não o fazem na esperança de que as crianças regressem.

“Não tive nenhuma chamada, nenhuma forma de falar com a minha filha. Só queremos saber se ela está viva ou morta. Quero sair do campo, tenho uma casa em Damasco. Quero ir para lá. Mas quero saber onde está a minha filha”, disse a mãe de uma jovem de 17 anos entrevistada pela Human Rights Watch.

A organização de defesa dos direitos humanos questionou as YPG, que garantem que as crianças com 16 ou 17 anos se podem juntar às suas fileiras, mas que em circunstância alguma são colocadas na frente de combate. Para além disso, a milícia curda garante que as crianças “são colocadas em centros especiais onde recebem treino intelectual e ocupacional”, sendo que as crianças do sexo feminino, em particular, procuram as milícias como forma de se protegerem de casamentos forçados, do assédio e da violência da guerra síria.

No entanto, uma das famílias ouvidas pela ONG diz que o seu filho, de 16 anos, morreu da combater pelas YPG pela reconquista da cidade de Raqa, na altura sob controlo dos jihadistas. 

Nesse sentido, a Human Rights Watch considera que se a verdadeira intenção das milícias é proteger as mulheres e crianças, então o que deve fazer é dar-lhes oportunidades para um futuro melhor, longe dos campos de batalha.

“Mesmo que as crianças estejam a fugir da violência ou da pobreza, as YPG, ao recrutá-las para as suas forças, não as estão a proteger”, afirma Motaparthy. “Se elas estão empenhadas em ajudar estas crianças, então devem cumprir as suas promessas e oferecer alternativas para garantir que as crianças não ficam sem futuro ou sem as suas vidas”, rematou.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório