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Mandela "combinava imponência com humor e humanidade"

O juiz jubilado Albert Sachs, que teve um primeiro contacto com Nelson Mandela em 1952, recordou hoje como o primeiro Presidente negro da África do Sul "combinava imponência com humor e humanidade".

Mandela "combinava imponência com humor e humanidade"
Notícias ao Minuto

17:24 - 18/07/18 por Lusa

Mundo Juízes

Albert Sachs tinha 17 anos e era estudante de Direito quando se juntou como membro voluntário à Campanha de Desafio contra Leis Injustas, lançada pelo Congresso Nacional Africano (ANC), nesse ano.

"Ele era o voluntário número um, eu era o 8.549. A minha memória mais forte do primeiro encontro com Mandela naqueles dias foi a do momento em que ele desceu umas escadas para ir ter com o grupo em que eu me encontrava, num piso inferior", lembrou Albie Sachs, à agência Lusa no dia em que se assinalam os 100 anos do nascimento de Nelson Mandela.

"Estávamos com um ar sombrio naquele espaço no subsolo e ele exibiu um sorriso largo e afável, quase como se estivesse a divertir-se ao olhar as nossas expressões sombrias", recordou.

Anos mais tarde, Mandela foi preso e a vida do ativista dos direitos humanos Albie Sachs sofreu muitas vicissitudes, a mais marcante das quais foi o atentado de que foi vítima a 07 de abril de 1988, quando despontava o dia em Maputo e a acalmia foi quebrada com o estrondo da detonação de bomba colocada no seu automóvel.

O combatente do 'apartheid' na África do Sul, que era perseguido pelo regime sul-africano pela campanha contra a segregação racial e pelo combate pela liberdade e pelos direitos humanos, ficou seriamente ferido e, apesar de a visão num olho ter sido muito afetada e de ter perdido parte do braço direito, sobreviveu para contar.

"A única coisa boa que o 'apartheid' teve foi a criação do antiapartheid'", graceja Albie Sachs, que completou 83 anos em finais de janeiro.

O 'apartheid' caiu e Mandela, Prémio Nobel da Paz em 1993, foi libertado e, não muito tempo depois, eleito Presidente em 1994, para um mandato de cinco anos.

Nelson Mandela, que se lembrou quando lhe falaram daquele jovem de 17 anos estudante de Direito voluntário na Campanha de Desafio contra Leis Injustas que se tornou homem, convidou Sachs para redigir a Constituição da África do Sul.

Albie Sachs, que começou a praticar advocacia aos 21 anos com a defesa de pessoas com vítimas da desigualdade e que, em 1955, participou no Congresso do Povo, em Kliptown, para a elaboração da Carta da Liberdade, fez parte "de uma larga equipa que, durante seis anos, produziu a agora muita admirada Constituição da África do Sul".

Uma Constituição que, recordou, foi inspirada na Constituição Portuguesa, que Sachs afirmou que constituiu uma inspiração para a sua luta contra o 'apartheid' na África do Sul.

Até 1994, na África do Sul, "a lei era racista, violenta para a população", lembrou Sachs, recordando que a elaboração da Constituição, na qual interveio, permitiu "fazer uma lei a favor da população, contra um poder totalitário do Estado, a favor da liberdade de expressão, da democracia e da justiça social".

"Foi uma decisão muito alegre e senti-me muito confortável com a transição" do regime do 'apartheid' para "uma democracia", com um texto constitucional imbuído "do espírito da Constituição portuguesa".

Albie Sachs referiu que, na altura da redação da Constituição da África do Sul, se consultou o texto fundamental da República Portuguesa, que, "depois da ditadura", tinha "um aspeto social muito importante, não só para os ricos e intelectuais, mas para todos".

"Olhámos para a Constituição de Portugal e esse foi o elemento da Constituição portuguesa que aproveitámos. As palavras não, mas o espírito", realçando o caráter "abrangente".

Para Albie Sachs, a Constituição portuguesa "é para toda a gente, com linguagem aberta, com valores muito bem registados, os valores de solidariedade e dignidade humana, muito mais justa contra a discriminação e o 'apartheid' e a favor da igualdade".

"Depois dos juízes que Mandela havia designado para o Tribunal Constitucional - todos tinham enorme simpatia e admiração por ele -, houve duas questões que suscitaram dúvidas e falava-se em inconstitucionalidades. Mandela foi à televisão e disse que, como Presidente, deveria ser o primeiro a aceitar a orientação da Constituição conforme interpretada pelo Tribunal Constitucional. Esse foi o dia em que a democracia constitucional nasceu em nosso país, um exemplo para o mundo", recordou.

Na celebração do centenário do nascimento de Nelson Mandela, que hoje se celebra em todo o mundo, Albie Sachs confessa ter tido uma "enorme admiração" por Nelson Mandela.

"Ele representou todos os nossos ideais a as nossas esperanças com um estilo maravilhoso. Ele era atencioso e valorizava opiniões fortes expressas por pessoas fortes que estavam em seu redor. Ele exemplificou um maravilhoso espírito de humanismo africano, alterando a missão da civilização. Era uma pessoa do nosso continente, que mostrava ao mundo quais deveriam ser os valores centrais de nossa época", afirmou Sachs.

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