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Desconfiança face a Trump pode minar candidatura de Isaacs às Migrações

A política migratória e a atual atitude anti-multilateralismo dos Estados Unidos podem comprometer a confiança dos países-membros da Organização Internacional das Migrações (OIM) em relação ao candidato à direção apadrinhado por Donald Trump, sustentou uma investigadora ouvida pela Lusa.

Desconfiança face a Trump pode minar candidatura de Isaacs às Migrações
Notícias ao Minuto

08:05 - 27/06/18 por Lusa

Mundo OIM

Ken Isaacs, vice-presidente de uma organização evangélica norte-americana de ajuda humanitária, foi o nome escolhido pela administração Trump para disputar a votação de sexta-feira que vai determinar quem irá suceder ao também norte-americano William Lacy Swing, um diplomata que assumiu a direção-geral da organização em outubro de 2008.

Ao longo dos últimos meses, os 'media' internacionais têm referido que a "prática de longa data" da organização escolher um candidato norte-americano poderá ser interrompida. Desde a sua fundação, em 1951, a OIM foi sempre liderada por um norte-americano à exceção na década de 1960 quando um holandês (Bastiaan W. Haveman) assumiu o cargo.

Feitas as contas, oito dos nove diretores-gerais da OIM foram norte-americanos.

"A questão que agora se está a colocar é: uma organização internacional que tem como vocação essencial dar resposta a um problema que é um problema mundial, que é um problema que tem usado sobretudo ferramentas de cooperação multilateral, se calhar agora faz sentido que o seu diretor-geral não seja alguém pelo menos apadrinhado pela atual administração norte-americana que tem outra visão", referiu, em declarações à Lusa, Lívia Franco, professora e investigadora principal do Instituto de Estudos Políticos (IEP) da Universidade Católica.

"O atual candidato apadrinhado pela administração Trump parece de facto que tem uma grande experiência de terreno, mas daquilo que têm sido as suas intervenções públicas mostra alguma sintonia com a administração. Isto não dá muita confiança à maioria de Estados (da OIM) que partilha deste consenso internacional e que acha que é importante codificar este consenso internacional", destacou ainda.

Para a especialista em assuntos internacionais, a escolha do novo diretor-geral da OIM está a dar que falar por várias razões, uma delas prende-se ao próprio objeto da organização.

A questão migratória, nesta última década, "tem de facto vindo a marcar muito, e cada vez mais, a agenda internacional e, nomeadamente, a agenda dos países do chamado mundo ocidental que achavam que esta era uma questão que, de alguma maneira, já estava resolvida, até do ponto de vista logístico e legal", afirmou.

No entanto, frisou a investigadora, as próprias democracias ocidentais perceberam que as suas ferramentas "não estavam a ser suficientes para dar uma resposta razoável" à crise migratória.

Outra das razões está ligada à evolução da própria organização, que há cerca de dois anos foi integrada na estrutura multilateral da ONU, dando-lhe "um mandato mais específico", assente numa lógica "mais holista e abrangente" que passa necessariamente pela cooperação multilateral.

"Ora, nós sabemos que a atual administração norte-americana propõe uma visão da política internacional que é diferente", sublinhou Lívia Franco, lembrando a premissa de Trump ("America First"), que também aplica em matérias migratórias.

"Tem uma perspetiva diferente (...) daquilo que é o grande consenso da comunidade internacional que é que estes problemas (migratórios) só se podem resolver criando lógicas de cooperação internacional, esta administração não concorda com isso. E especificamente tem, naquilo que são as suas prerrogativas enquanto Estado soberano, respostas individuais (...) que estão em contramão com o consenso internacional", prosseguiu.

Eleita em 2016, a administração Trump tem assumido, tanto a nível interno como externo, uma lista de decisões em matérias migratórias que tem gerado controvérsia.

Dessa lista constam, entre outras medidas, um decreto anti-imigração que proíbe a entrada de nacionais de alguns países maioritariamente muçulmanos; o abandono das negociações para um futuro pacto global para uma migração segura, regular e ordenada; um corte da ajuda financeira à agência da ONU que apoia refugiados palestinianos (UNRWA) e mais recentemente uma política de "tolerância zero" que tem separado filhos e pais na fronteira norte-americana.

Sobre o caso concreto do pacto global para a migração ('Global Compact for Migration', na versão em inglês), que deu os primeiros passos em setembro de 2016 quando os 193 membros da Assembleia-Geral da ONU adotaram, por unanimidade, a chamada "Declaração de Nova Iorque", Lívia Franco lembrou que "a grande maioria dos Estados" da OIM não abandonaram e estão muito empenhados no pacto.

Em relação à questão dos EUA se apresentarem como o maior contribuinte da OIM e como isso pode pesar na votação de sexta-feira, a investigadora do IEP reconheceu o papel central que Washington tem no orçamento administrativo central da organização porque, disse, "em todas as organizações internacionais em que os Estados Unidos participam são sempre o maior contribuinte", mas destacou que este organismo tem uma particularidade.

"Há um orçamento administrativo central que é dos Estados-membros (...). Mas depois na ação no terreno, cerca de 80% desse orçamento é de financiamento privado, não é dos Estados-membros. Isso dá-lhe alguma margem de manobra em relação aos Estados-membros", concluiu.

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