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Há uma "declaração de guerra aos migrantes"

LA jurista Claire Rodier, cofundadora da rede euro-africana Migreurop, referiu à Lusa que existe uma "declaração de guerra" aos migrantes e na ausência de uma séria política de coesão europeia para abordar o desafio das migrações.

Há uma "declaração de guerra aos migrantes"
Notícias ao Minuto

11:40 - 23/06/18 por Lusa

Mundo Claire Rodier

"A nossa ONG contacta com associações dos dois lados do Mediterrâneo e consideramos existir uma declaração de guerra aos migrantes. Estamos quase em guerra e quando considero que as migrações não vão terminar, não sei qual será o futuro, se vai ser de facto uma guerra aberta onde as pessoas são mortas", assinalou.

"Já as deixam morrer em grande número no Mediterrâneo, é a fronteira mais perigosa do mundo. Vai chegar-se ao ponto de disparar? Espero que não, mas é também necessário considerar o tempo longo", acrescentou a jurista e também diretora do Grupo de Informação e de Suporte aos Imigrantes (GISTI).

Claire Rodier recorda que no século XIX, em pleno território europeu, ocorreram movimentos migratórios mais significativos se comparados com os atuais, na sequência de 'pogroms', guerras, com muita mobilidade e grandes deslocamentos de populações, e que parecem ter sido esquecidos.

Em paralelo, sublinha que a componente económica da imigração, a necessidade de mão de obra, ou o seu excesso, também são fatores decisivos nos atuais fluxos populacionais.

"Se precisamos de mão de obra abrem-se as fronteiras, de contrário fecham-se. Isso acontece desde há 25 anos. Isolamos completamente a política de imigração de trabalho, enquanto a política de controlo das fronteiras, de asilo, é comum à União Europeia. Mas sobre a imigração de trabalho é cada país que decide, porque depende da respetiva economia", considerou.

Atualmente, não existe uma resposta adequada e "inteligente" por parte dos governos face aos desafios migratórios, em contradição com iniciativas provenientes de alguns municípios ou da sociedade civil, e deteta o primeiro sinal errático.

"O pacto UE-Turquia, de março de 2016, foi talvez a primeira etapa de uma assumida solução no exterior do espaço europeu em troca de dinheiro, e abertamente. 'Seis mil milhões de euros e guardas os imigrantes que não queremos'", assinalou numa referência ao designado acordo entre a União Europeia e a Turquia que interrompeu o fluxo migratório na região dos Balcãs e em direção à Europa central.

A ativista francesa, que na quinta-feira participou no Ciclo de Migrações a decorrer no Teatro Maria Matos, em Lisboa, com um programa de debates, fóruns e espetáculos, também não demonstrou "qualquer otimismo" sobre a cimeira da UE do final do mês, ou sobre a minicimeira de domingo dedicada ao problema das migrações e que vai reunir 16 dirigentes, mas sem a presença do grupo de Visegrad (Polónia, República Checa, Eslováquia e Hungria).

A "colocação à distância" dos migrantes, concentrados em campos "transitórios" no norte de África, e uma posterior "seleção dos verdadeiros refugiados" que poderão ser acolhidos em solo europeu é assim a perspetiva admitida pela cofundadora da rede euro-africana Migreurop.

Claire Rodier admite, no entanto, a aplicação de medidas positivas face ao desafio migratório, mas à margem dos poderes centrais.

"Se existirem alterações será através de alguns municípios, como já sucede em Itália, em Espanha, em França, e por parte das populações. Mas não pelos Estados, que estão paralisados por esquemas demasiado politizados, com o receio da extrema-direita".

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