Itália não vai recensear ciganos, garante Conte contra Salvini
O chefe do Governo italiano, Giuseppe Conte, assegurou hoje que o recenseamento dos ciganos, que o seu ministro do Interior, Matteo Salvini, da extrema-direita, quer não se vai fazer, por ser inconstitucional.
© Reuters
Mundo Conte
"Ninguém quer fazer registos ou recenseamentos baseados em etnias, porque seria sobretudo inconstitucional, porque é totalmente discriminatório", declarou Giuseppe Conte, em comunicado.
O texto de Conte, que lidera um Governo de coligação entre a Liga, de extrema-direita, dirigida por Salvini, e o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5E), foi divulgado depois das polémicas declarações do ministro do Interior, que avançou a possibilidade de fazer o recenseamento das comunidades ciganas.
Salvini propôs na segunda-feira um recenseamento da comunidade cigana para facilitar, entre outras possibilidades, a expulsão dos que tiverem nacionalidade estrangeira e estiverem em situação ilegal, uma vez que, nas suas palavras, "os ciganos italianos, infelizmente, tens de ficar com eles".
As palavras de Salvini, que tem o estatuto de vice-primeiro-ministro, causaram uma indignação generalizada, inclusive dentro do seu próprio governo.
O outro vice-primeiro-ministro, Luigi Di Maio, dirigente do M5E, aliado da Liga nesta coligação, lembrou que o recenseamento de parte da população em bases étnicas é contrário à lei italiana.
A Constituição proíbe qualquer distinção por "sexo, raça, língua, religião, opiniões políticas ou condição pessoal ou social", recordaram vários políticos e diversas organizações cívicas e próximas dos ciganos.
A Comissão Europeia, questionada sobre o assunto, recordou hoje que não se pode, por regra, "expulsar um cidadão europeu na base de critérios étnicos".
Hoje, em reação às críticas, Salvini reafirmou a sua posição: "Não cedo e vou em frente! Primeiro os italianos e a sua segurança", escreveu na sua conta pessoal na rede social Twitter.
Para o provar, felicitou-se com a destruição de um acampamento cigano, hoje ocorrida, em Carmagnola, uma pequena cidade administrada pela Liga, perto do Turim. "Da palavra à ação", afirmou Salvini, que tinha prometido durante a campanha eleitoral arrasar os acampamentos de ciganos com bulldozers.
Não há números oficiais sobre os ciganos na Itália, mas uma associação próxima desta comunidade estima-os entre 120 mil e 180 mil, na sua maioria com nacionalidade italiana.
A oposição de esquerda criticou fortemente a posição de Salvini, acusando-o de desenterrar as leis raciais votadas no período fascista nos anos 19330.
O ex-presidente da região da Lombardia, Roberto Maroni, da Liga Norte como Salvini, quando foi ministro do Interior durante o governo de Sílvio Berlusconi, entre 2008 e 2011, registar as impressões digitais das crianças de etnia cigana, mas o procedimento foi detido pela justiça italiana.
Salvini, de 45 anos, tem ocupado em premência as primeiras páginas desde a sua nomeação para o cargo, em 01 de junho.
Na semana passada, por exemplo, esteve em destaque pela sua oposição à entrada num porto italiano de um navio humanitário com 630 migrantes resgatados no Mediterrâneo.
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