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"Estamos a caminho da autodestruição"

O diplomata egípcio Mohamed El Baradei, ex-diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), alertou hoje para o facto de, com o tipo de armamento que existe, mais tarde ou mais cedo, o mundo vai "autodestruir-se".

"Estamos a caminho da autodestruição"
Notícias ao Minuto

10:43 - 07/05/18 por Lusa

Mundo El Baradei

"Mais tarde ou mais cedo, intencionalmente, por engano ou acidentalmente, vamos autodestruirmo-nos", afirmou à agência Lusa, em Cascais, arredores de Lisboa, o Prémio Nobel da Paz de 2005, em conjunto com a AIEA, e antigo vice-presidente do Egito (2013), que participa nos trabalhos da Horasis Global Meeting.

À Lusa, El Baradei saudou o acordo entre as duas Coreias e criticou implicitamente as declarações do primeiro-ministro israelita, Benjamim Netanyahu, sobre o Irão -- disse ter provas de que Teerão nunca abandonou o programa nuclear -, salientando que, se há novas informações, devem ser partilhadas, antes de anunciadas publicamente, com a entidade fiscalizadora, precisamente a AIEA.

"Obviamente (que a acusação israelita ao Irão) faz parte da competição geopolítica na região. Isto não é apenas sobre a questão nuclear. É sobre competição na região, os pontos de vista sobre o regime iraniano. O regime iraniano tem pontos de vista semelhantes sobre os israelitas", criticou, ao mesmo tempo que desdramatizou.

Para El Baradei, 75 anos, a situação desencadeada pelas palavras do chefe dso executivo israelita "fazem lembrar o Iraque".

"Isto fez-me lembrar o Iraque. Vêm os autointitulados serviços secretos duvidar da fiscalização da entidade que a garante, que é AIEA. Diria que, se houvesse qualquer nova informação sobre o Irão ou sobre qualquer outro país, devia ser partilhada com a AIEA", sustentou.

Sobre o acordo entre as duas Coreias, o diplomata egípcio, natural do Cairo, onde nasceu a 17 de junho de 1942 (75 anos), mostrou-se "muito satisfeito", reiterando a ideia que sempre defendeu de diálogo e atribuindo as razões de desconfiança à insegurança.

"Independentemente de se falar do regime coreano ou de qualquer outro regime, tem de se perceber que todos os regimes têm a sua própria noção de segurança interna ou de insegurança. E tem de se trabalhar com eles para lhes garantir o tipo de segurança ou de combater a insegurança seja ela real ou 'per si'. A Coreia do Norte sentiu-se insegura, argumentando que os Estados Unidos queriam destruí-la. Mesmo que estejam certos ou errados, teremos sempre de trabalhar com a Coreia do Norte", defendeu.

"Mas isto é um começo. Estamos a trabalhar com eles [Pyongyang e Seul) há 25 anos e para mim sempre foi claro que temos de conversar com eles, até que nos deem garantias de que não podem haver erros, e trazê-los para dialogar sobre a partilha da nossa segurança no seio da comunidade internacional", acrescentou.

Criticando o "populismo" de Presidentes como o dos Estados Unidos, Donald Trump, ou das Filipinas, Rodrigo Duterte, alertou para o caminho que está a ser seguido, advertindo para os perigos da autodestruição da humanidade.

"Estamos a lidar com o mundo de uma forma tal que não se partilham os valores. O mundo globalizou-se muito e é necessário adotar uma base de cooperação de 'win-win', não de 'eu ganho e tu perdes'. Todos estamos a perder porque não estamos a ser justos, não estamos a promover a igualdade e, nas esferas da segurança e económica, não tem havido essa aproximação de colaboração. Penso que estamos a caminho da autodestruição", alertou.

Para El Badarei, o populismo é o resultado do "descontentamento" das pessoas em relação à classe à política, em relação às condições de vida.

"Estão desiludidas e pensam, e sabem, que os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. É novamente a desigualdade, a injustiça. Quando se sente que estamos a ser tratados de forma injusta, o populismo tem um terreno fértil para desenvolver-se. Pode-se facilmente falar da exploração das pessoas", justificou.

O diplomata egípcio comparou a situação de hoje com a vivida na década de 1930, quando a crise económica desencadeada com o "crash" da bolsa de Nova Iorque, em 1929, gerou altos níveis de desemprego, o que permitiu aos populistas aproveitar "esse ambiente fantástico para avançar.

"E todos nós sabemos o que aconteceu no final dessa década e nos cinco primeiros anos da de 1940. Devemos aprender com os erros dos outros cometidos no passado, mas parece que nunca o conseguimos", afirmou.

"Esta é a altura em que temos de perceber que o que está a acontecer hoje é muito mais perigoso do que o que sucedeu na década de 1930. Com o tipo de armamento que existe, mais tarde ou mais cedo, intencionalmente, por engano ou acidentalmente, vamos autodestruirmo-nos. Se não mudarmos a nossa postura continuaremos a caminhar na direção errada", alertou.

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