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Não resiste à 'comida de plástico'? Saiba porquê e como evitá-la

E se lhe dissermos que os seus desejos e impulsos alimentares não vêm do estômago, mas sim do cérebro? E pior, vêm de uma parte do cérebro que praticamente não consegue controlar.

Não resiste à 'comida de plástico'? Saiba porquê e como evitá-la
Notícias ao Minuto

18:53 - 24/10/17 por Vânia Marinho

Lifestyle Stephan Guyenet

É isto que, em traços gerais, Stephan Guyenet, bioquímico e neurocientista norte-americano da Universidade de Washington, defende.

O autor do livro ‘The Hungry Brain: Outsmarting the Instincts That Make Us Overeat’ (‘O Cérebro Esfomeado: Ultrapassar os Instintos que nos Fazem Comer Demais’, em tradução livre para português) esteve recentemente na Conferência Internacional de Nutrição Evolutiva, em Lisboa, e falou um pouco sobre este assunto em entrevista ao Lifestyle ao Minuto.

O que é que se passa no nosso cérebro que nos impede de conseguir resistir a ‘fast food’ e ‘junk food’?

O cérebro humano está ‘programado’ para ser motivado por propriedades alimentares específicas. Estas são as propriedades que terão mantido os nossos antepassados vivos. Portanto, a seleção natural criou cérebros que são motivados por estas propriedades, que ajudaram tanto os nossos antepassados a sobreviver.

Estas propriedades incluem: açúcar, amido, gordura, proteína, sal e glutamato (aquele sabor umami que está no caldo de ossos, no molho de soja e em coisas do género). Estas são coisas que todos os humanos, independentemente da cultura, apreciam e procuram.

O que acontece é que estas propriedades alimentares são detetadas no sistema digestivo. À medida que come os alimentos há certos recetores no trato digestivo, particularmente no intestino delgado superior, que detetam estes compostos e reportam ao cérebro as quantidades de hidratos de carbono, proteína, gordura, sal, e tudo o que está na sua comida. Essencialmente, o que o cérebro faz é comparar isso com o que ele quer.

Se comer uma bolacha, por exemplo, o cérebro recebe a informação de que esta é uma grande fonte de gordura, hidratos de carbono e açúcar e isso faz disparar a dopamina. Provoca o aumento da dopamina em certas zonas do cérebro envolvidas na motivação. Quando o cérebro recebe essa dose de dopamina ele ‘diz’: ‘Uau, isto é fantástico’ e isso motiva-o a continuar a comer e a gostar dessa comida e a procurar essa comida no futuro.

Quando come uma bolacha, porque tem um alta concentração de açúcar e gordura, tem uma grande libertação de dopamina no cérebro e o que acontece é que o seu cérebro vai lembrar-se de tudo relativo aquela situação. O sabor, o cheiro, o lugar onde a comeu, quem estava consigo, etc.

Esses sinais sensoriais espoletam a sua motivação para comer esse tipo de alimentos da próxima vez que o encontrar.

Pode partilhar alguns conselhos ou dicas para ‘enganar’ o cérebro para evitar a comida pouco saudável e entrar no caminho para a perda de peso?

O grande problema em relação ao comer em excesso e ao ganho de gordura é que temos certos circuitos no cérebro que estão fora da nossa consciência e, portanto, do nosso controlo, e são eles que nos fazem comer demasiado. Não estou a falar de psicologia ou de Freud, mas de circuitos que regulam a fome, a gordura do corpo e a motivação. Isto não tem que ver com psicologia e emoções, tem que ver com estes circuitos reguladores. Eles estão sempre a trabalhar sem a nossa consciência.

Essencialmente há duas diferentes formas de controlar o seu consumo calórico. Uma é ignorar todos os circuitos não conscientes e quando lhe apetecer comer certas comidas, simplesmente dizer que não e decidir não comer ou comer menos. O problema é que esta técnica exige uma grande força de vontade e é muito difícil porque está literalmente a lutar contra si mesmo. A parte racional do seu cérebro está a lutar contra a sua parte não consciente: contra os impulsos para comer mais, os desejos alimentares. Ter essa luta diária é tão desgastante que o mais provável é que acabe por perder a batalha a longo prazo.

Eu acho que a melhor forma é dar à parte cerebral não consciente os sinais de que ela precisa para apoiar os seus objetivos. Para naturalmente reduzir o consumo de calorias sem ter de se debater com isso e sem ter de recorrer a uma enorme motivação em cada refeição.

Para conseguir isso tem de dar à parte não consciente do cérebro os sinais certos, porque ela é muito suscetível e está sempre a responder aos sinais do seu corpo e do ambiente que o rodeia.

Um exemplo simples disso é que se tem muita comida no seu ambiente pessoal, se está rodeado de comida muito tentadora – como batatas fritas, refrigerantes, bolo – o seu cérebro vê esses sinais e aumenta a motivação para comer e para comer mais. Portanto, se conseguir controlar o seu ambiente alimentar pessoal e não estar sempre a dar esses sinais ao cérebro, vai naturalmente ter menos desejo de comer e vai conseguir controlar melhor a sua ingestão de calorias.

Outro exemplo é que certos alimentos são mais saciantes por caloria do que outros. Se ingerir alimentos que consideramos que engordam - ricos em gordura, calorias, muito refinados - eles, por causa das suas propriedades físicas e químicas, não trazem muita saciedade por caloria.

Nós usamos a saciedade como sinal para parar de comer e, portanto, se precisa de mais calorias para se sentir saciado, vai consumir mais calorias em cada refeição. Isto também se deve aos tais circuitos cerebrais que regulam a saciedade. Essencialmente, quer dar a esses circuitos aquilo de que eles precisam para se sentirem saciados com menos calorias. Para conseguir isso, devemos consumir alimentos com uma menor densidade calórica, ou seja, com mais água e mais fibra. Portanto, aveia em vez de bolachas de água e sal, ou fruta fresca em vez de fruta seca ou doces. As primeiras saciam mais por causa da fibra e da água extra. Uma grande quantidade de proteína é outra propriedade a procurar por quem quer emagrecer.

Escolher alimentos com menos sabor também o pode ajudar a sentir-se mais saciado, pois a comida com mais sabor faz com que queira comer mais.

São apenas alguns exemplos do princípio geral de dar a estes circuitos cerebrais não conscientes os sinais ou as deixas de que eles precisam para apoiar o seu objetivo de consumir menos calorias. Ao fazer isso consegue sentar-se a comer e comer normalmente até se sentir saciado e ainda assim consumir menos calorias e perder peso. Para mim é aí que se quer estar. Quer estar num ponto em que a sua parte cerebral consciente e a sua parte cerebral não consciente estão a cooperar uma com a outra para atingir os seus objetivos.

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