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Nutrição oncológica. Uma aliança de valor para a saúde

A nutrição tem um papel fundamental no tratamento oncológico. É através dos alimentos que se atenuam os químicos administrados e é através dos alimentos que os pacientes encontram força para o dia de amanhã. Estivemos à conversa com especialistas para entender o verdadeiro papel da alimentação no tratamento do cancro.

Nutrição oncológica. Uma aliança de valor para a saúde
Notícias ao Minuto

07:30 - 04/02/17 por Daniela Costa Teixeira

Lifestyle Cancro

E tudo começa no alimento. Aquilo que comemos diariamente, juntamente com uma série de outros hábitos de vida, vai ditar a prevenção ou o aparecimento do cancro. A alimentação tem um papel determinante na doença… para o bem ou para o mal.

Mas não é só no pré-doença que a alimentação conta. A nutrição é um dos pilares do tratamento oncológico, ajudando o paciente a reforçar o sistema imunitário e a ganhar forças, de modo literal, para viver o dia de amanhã. A ligação entre a nutrição e a oncologia parece ser cada vez mais evidente, mas continua longe de chegar ao patamar desejado.

Estivemos à conversa com duas especialistas em oncologia para perceber qual é o real papel da alimentação na vida de um paciente com cancro e como uma escolha acertada dos alimentos pode ser o pilar do tratamento da doença. 

A má alimentação e a dificuldade em passar a mensagem

“Um em cada três cancros está associado à má alimentação e à obesidade, que influenciam o aparecimento do cancro do estômago, do pâncreas, do cólon, da mama, do útero e da próstata. Por isso, uma dieta saudável reduzirá os casos destes tumores”, começa por nos explicar a médica oncologista espanhola Paula J. Fonseca, que culpa a falta de tempo e a tendência para “improvisar” as refeições como umas das principais causas para o descuido alimentar.

Também a nutricionista Ana Rita Lopes, que é ainda co-coordenadora do conselho técnico-científico do projeto de Nutrição Oncológica (da aTTitude IPSS), defende a importância da alimentação com fator preventivo. Em declarações ao Lifestyle ao Minuto, a especialista salienta que “a alimentação é fundamental em todas as fases da nossa vida, desde a infância ao envelhecimento, e pode ser considerada como uma das causas do desenvolvimento de cancro, estimando-se representar cerca de 20% das mesmas”.

Contudo, embora se multipliquem as evidências científicas que apontam a alimentação como uma causa concreta do aparecimento do cancro, “a população em geral tende a desvalorizar a alimentação como um fator preventivo, ou seja, a sua importância é maioritariamente tida em conta durante o tratamento da doença oncológica”, continua a nutricionista Ana Rita Lopes.

A aposta da nutrição como parte integrante nos cuidados de saúdes primários seria determinante para a promoção da saúde e prevenção de doenças, nomeadamente o cancro. Contudo, o excesso de informação gera desinformação. O excesso de informação faz com que a seleção da informação credível se torne difícil. É preciso uma comunicação fundamentada cientificamente, clara e objetiva, com linguagem acessível e contextualizada e sem sensacionalismos”, diz a co-coordenadora do conselho técnico-científico do projeto de Nutrição Oncológica

A prevenção primária, ou seja, incutir hábitos saudáveis que vão da alimentação, ao exercício físico passando pela redução do stress, é fundamental, como destacou ao Notícias ao Minuto o presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro, Vítor Veloso. Até porque o perfil de pessoa mais suscetível a ter cancro “é aquele que fuma, que bebe, que é obeso e que tem uma vida sedentária e stressada”.

A alimentação e o tratamento. Uma ligação evidente?

“É percetível que é necessário existir um acompanhamento nutricional do doente em processo de tratamento”, diz a nutricionista Ana Rita Lopes, revelando que “os fármacos utilizados, nomeadamente a quimioterapia, provocam efeitos secundários que reduzem o apetite, provocam alterações do sistema digestivo (obstipação ou diarreia), vómitos, náuseas, intolerâncias alimentares”.

Neste tipo de situação, em que o paciente oncológico fica fisicamente mais fraco à boleia dos químicos administrados, “uma equipa multidisciplinar irá possibilitar um acompanhamento e equilíbrio nutricional do doente o que permitirá ganhos ao nível de um maior sucesso terapêutico e qualidade de vida durante o ciclo de tratamentos. Um doente bem nutrido será mais saudável e terá maior capacidade física para responder positivamente à doença”, salienta a também médica nutricionista do Hospital dos Lusíadas.

Apesar de acreditar que a nutrição tem vindo a ser cada vez mais valorizada em Portugal, a especialista lamenta o facto de este ainda não ser o “panorama ideal”. “Faltam nutricionistas nos vários locais e contextos que atuam na promoção da saúde e prevenção e tratamento da doença. A alimentação pode contribuir de forma considerável na prevenção de várias doenças como seja o cancro”, frisa.

Ainda no que diz respeito às consequências diretas da doença na saúde em geral e aos efeitos, muitas vezes nocivos, dos tratamentos, como o “desgaste no organismo”, a médica Paula J. Fonseca, autora do livro 'Comer para vencer o cancro' [Lua de Papel], destaca que “conseguir uma oferta adequada de nutrientes é essencial para o tratamento do cancro”, sendo “os batidos de iogurte, as frutas e os biscoitos” exemplos de alimentos mais tolerados pelos pacientes e que oferecem uma contribuição de nutrientes adequada.

Contudo, e embora tenha um papel determinante na saúde e no bem-estar do paciente, “a alimentação não pode ser vista como uma arma isolada contra o cancro, porém, é fundamental para a manutenção de um bom estado nutricional, potenciando, deste modo, os tratamentos e a recuperação”.

Para uma alimentação adequada, deve ser tida em conta a sintomatologia associada e a alimentação deverá ser adaptada a cada fase do tratamento, quer em termos nutricionais, quer em termos de preferências alimentares do doente. O importante será conseguir variar e individualizar a alimentação ao longo do período de tratamento, consoante as necessidades nutricionais, preferências e tolerância alimentar”, explica a nutricionista

Cada caso é um caso, mas todos os casos precisam do mesmo: uma alimentação adequada

“Não há nenhum elemento que tenha obrigatoriamente de estar presente em todos os planos [alimentares do paciente oncológico], uma vez que cada caso deve ser acompanhado de forma individualizada, de acordo com as necessidades nutricionais estabelecidas”, nota Ana Rita Lopes, que enaltece a importância da “conjugação dos diferentes alimentos dos vários grupos alimentares para conseguir o equilíbrio das nossas necessidades nutricionais”.

Como os cancros não são todos iguais e o impacto dos fármacos varia de pessoa para pessoa, ainda como a sua própria capacidade de resiliência, “o melhor conselho nutricional a fornecer aos doentes é adequar a alimentação que em cada momento mais se adapta à sua capacidade, tolerância e às suas preferências. A alimentação poderá inclusive ajudar a atenuar os sintomas da doença, associados ao tratamento”, garante a também membro do conselho técnico-científico do projeto Nutrição Oncológica.

Uma das principais consequências dos tratamentos oncológicos é a desnutrição, que não só "dificulta a tolerância aos tratamentos como a quimioterapia", como favorece ainda "o cansaço, as infeções, o aparecimento de anemia e a deterioração do sistema imunitário", destaca a médica espanhola, salientado que esta última consequência pode comprometer o sucesso do tratamento.

Porém, embora existam alimentos que beneficiam o ganho de peso e um bom funcionamento do organismo, outros podem ter um efeito completamente oposto, como nota Paula J. Fonseca, colocando na lista dos mais perigosos a uva e as plantas medicinais.

Em todos os pacientes desnutridos é fundamental assegurar que não existem causas físicas (dor, incapacidade para aceder ao alimento por dependência, má situação sociofamiliar, solidão) nem psíquicas (depressão, stress, ansiedade, medo) que dificultem o acesso aos alimentos”, lê-se no livro ‘Comer para vencer o cancro’, da médica oncologista Paula J. Fonseca e de Belén Álvarez, química especializada em nutrição

Já os sumos de frutas e legumes assumem-se com "aliados para desintoxicar o corpo", podendo o limão, a banana, o abacate, o abacaxi, a maçã, o pepino, a beterraba e o tomate assumir um papel de destaque, pois são alimentos nutricionalmente ricos e com propriedades anti-cancerígenas e anti-oxidantes.

"Por exemplo, um batido de pepino, limão e salsa, pela sua contribuição de potássio, pode remover os líquidos e reduzir o inchaço causado por alguns tratamentos", sugere a médica oncologista.

Projeto Nutrição Oncológica, uma aliança entre a culinária, a saúde e a formação

Foi a pensar na importância da nutrição no tratamento do cancro e, sobretudo, no bem-estar e na saúde do paciente que a aTTitude IPSS criou o livro ‘Receitas Deliciosas para Doentes Oncológicos em Tratamento’, que procura “ajudar estes doentes a encontrar para si próprios a alimentação que a cada momento mais se adapta à sua capacidade, tolerância e ao seu próprio gosto”.

Para isso, explica-nos a co-coordenadora do conselho técnico-científico do projeto, “procurámos obter a contribuição criativa e generosa de 15 conceituados chefs, tentando que a alimentação do doente oncológico em tratamento possa ser um elemento mais positivo na sua vida, com sugestões e ideias de receitas muito práticas, adaptadas às suas necessidades, mas, sempre que possível, equilibradas e agradáveis, sempre com a orientação de uma equipa técnico-científica”, que contou ainda com o contributo do médico oncologista da Fundação Champalimaud Carlos Carvalho.

O livro, publicado no final de 2015, conta com 3.500 unidades vendidas. “Com parte dos fundos angariados pela venda do livro foi possível atribuir 20 bolsas de formação avançada em cuidados paliativos pediátricos, compromisso assumido aquando da publicação do livro, permitindo a criação de seis equipas intra-hospitalares (compostas por um médico pediatra, psicólogo, assistente social e enfermeiro) em seis hospitais públicos de referência do país, que teve início em outubro de 2016”, revela-nos a nutricionista Ana Rita Lopes, que levanta ainda o véu à “segunda etapa do projeto”, que venceu o primeiro lugar da Bolsa de Cidadania Roche 2016.

Para o próximo ano, a aposta do projeto Nutrição Oncológica passa pela realização de workshops e formações em hospitais públicos de referência oncológica e pelo lançamento de uma página online focada na nutrição oncológica.

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