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"Criança que cresce sem amor ou aceitação será um adulto frustrado"

Já a sabedoria popular o diz (e com razão): ‘de pequenino é que se torce o pepino’. E Álvaro Bilbao tem a prova. O Lifestyle ao Minuto conversou com o especialista espanhol em plasticidade cerebral a propósito do seu mais recente livro, editado agora em Portugal.

"Criança que cresce sem amor ou aceitação será um adulto frustrado"
Notícias ao Minuto

07:15 - 08/10/16 por Daniela Costa Teixeira

Lifestyle Álvaro Bilbao

Entender o potencial do cérebro da criança e educá-la tendo por base todas as suas capacidades e necessidades. É isso que o neuropsicólogo espanhol Álvaro Bilbao ensina no seu livro ‘O Cérebro da Criança Explicado aos Pais’, editado em Portugal pela Planeta.

O Lifestyle ao Minuto conversou com o especialista sobre a importância do afeto, do estímulo e do comportamento dos próprios pais na educação dos filhos e como pequenos gestos podem ajudar a moldar uma personalidade na vida adulta. Já a sabedoria popular o diz (e com razão): ‘de pequenino é que se torce o pepino’. 

1. A importância dos primeiros anos de vida é um dos aspetos mais destacados no seu livro. Porque é que o período entre o nascimento e os seis anos é o mais importante?

Muitos pais pensam que este período é crucial para introduzir os idiomas e o pensamento musical. É certo que durante este tempo o cérebro tem uma maior plasticidade, mas a verdadeira razão pelo qual este período é precioso é porque durante estes anos desenvolve-se o vinculo, a auto-estima, a confiança e outras funções cognitivas como o controlo da atenção, a memória e a linguagem e, para tudo isso, o contacto estrito com os pais é imprescindível. Por isso é que defendo que os pais devem passar muito tempo com os seus filhos.

2. É cada vez mais comum alguns pais inscreverem os filhos em escolas e grupos desportivos desde pequenos (muitas vezes sobrecarregando-os) com o intuito de os tornarem melhores alunos e atletas. É uma decisão correta pressionar as crianças desde cedo?

Sabemos que é muito importante que [as crianças] joguem, conversem com os seus pais e que sejam abraçadas e beijadas. Esses momentos com os pais não se podem encontrar mais tarde. Além disso, sabemos que o jogo livre é muito importante para o desenvolvimento da inteligência, mas a criança pode aproveitar melhor se jogar em casa. Há ainda uma terceira razão, o principal problema de saúde entre as crianças da nossa geração, acima de obesidade ou de deficit de atenção, é o stress e ocupar todo o tempo e a procura [das crianças], não ajuda.

3. A personalidade dos pais (se mais emotivos ou racionais) pode influenciar a forma como prestam atenção ao cérebro intelectual e ao cérebro emocional da criança? Em que medida isso afeta a criança?

Sim. As crianças não só herdam a genética como também aprendem a maneira de se expressarem e de pensarem com os pais. O ideal é que os seus pais equilibrem a mente e o coração, porque aí encontram a verdadeira maturidade.

4. E o comportamento dos pais também pode interferir de algum modo com a forma de estar da criança? Existe uma tendência para imitarem o que veem?

Sim. Mesmo que não escutem, as crianças assistem a tudo o que fazemos. Os pais que choram têm crianças mais agressivas, já os pais que protegem demasiado têm crianças inseguras e aqueles que exigem muito desenvolvem uma auto-exigência nos filhos.

5. A recompensa é um outro aspeto mencionado no livro. Como é que os pais podem recompensar uma criança e como é que sabem qual o melhor momento para o fazer?

A criança recebe recompensas de forma natural quando descobre algo num armário, quando consegue um desenho bonito com esforço… nestes casos, não há que reforçar. Somente recomendamos reforçar [a recompensa] perante comportamentos novos em que as crianças são melhores do que o habitual. Por exemplo, se uma criança tende a levantar-se nove vezes da mesa e num dia se levanta ‘apenas’ cinco, é um bom momento para o recompensar. Aos pais custa entender isto, porque só veem o negativo, mas sabemos que temos que recompensar pelos progressos por mais pequenos que sejam.

6. Existe algum perigo associado a este ato de recompensa? O que é que os pais devem evitar?

Sim. Os pais devem evitar recompensar tudo o que a criança faz e devem ser seletivos com o progresso. Se não, a criança pode crescer insegura e necessitada de recompensas a todo o momento. No entanto, é importante que os pais saibam que o reforço é uma ferramenta eficaz e positiva e que deve estar muito presente em casa. Também é importante saber que a recompensa não deverá ser significativa, mas simplesmente um ‘obrigado’, um sorriso, uma carícia na cabeça, ou dizer que a criança tem trabalhado muito e que se tem portado muito bem.

7. Em muitas famílias existe o ato de recompensa, mas também o ato de castigar. Porque é que os pais não devem castigar os filhos?

Os castigos já se demonstraram pouco eficazes em muitos estudos. As crianças simplesmente não aprendem bem através do castigo. Além disso, gera-se ansiedade e baixa auto-estima na criança. Existem outras alternativas mais eficazes, como estabelecer limites, normas ou consequências naturais. Não obrigo os meus filhos a comerem fruta e verduras, mas temos uma regra: não podem comer bolachas ou doces até que comam frutas e verduras.

8. Em que medida os limites são importantes para um cérebro equilibrado? Quando é que os pais devem traçar essas limitações?

Os limites são essenciais e mais educativos porque previnem os maus comportamentos e assim a criança aprende mais rápido. Os pais não devem repreender a criança, mas sim estarem atentos e prevenirem que faça [algo de mal]. É mais eficaz. Em minha casa há escadas e nunca colocamos uma barreira, apenas lhes ensinamos os limites das escadas. É mais pacífico, mais eficaz e consome menos energia a longo prazo.

9. A forma como os pais comunicam entre si vai influenciar a capacidade comunicativa da criança?

Sim, influencia a capacidade de comunicação, mas também a memória, a atenção e a capacidade de resolver problemas. No meu livro explico como os pais podem enriquecer as suas conversas para ajudar a desenvolver o intelectual dos seus filhos e conseguirem, por exemplo, que tenham uma memória fotográfica. Assim, a criança desfrutará de ir à escola porque ser-lhe-á fácil de aprender e recordar.

10. O lado emocional é também um dos temas do seu livro. Em que medida o mau desenvolvimento de um cérebro emocional pode ser penoso para a criança na vida adulta?

Terrivelmente. A criança que cresce sem amor suficiente, carinho ou aceitação, converte-se num adulto com baixa auto-estima, irritado, frustrado e cheio de inseguranças profundas. Uma criança muito estimulada intelectualmente, mas pouco emocionalmente, até pode conseguir um bom emprego, um bom par ou mesmo uma família, mas nada disso importará, porque se não se amar a si mesmo, não vai poder apreciá-lo.

11. A inteligência emocional depende apenas da forma de ação dos pais ou está à mercê de outros fatores?

Cada criança vem dotada de um carácter mais positivo do que negativo, mas os pais podem ajudar e muito. Existem muitos jogos e conversas diárias que ajudam a criança a desenvolver, por exemplo, um estilo de pensamento positivo. Assim, a criança que é mal-humorada por natureza pode tornar-se mais otimista.

12. É fácil encontrar um equilíbrio entre amor e regras sem deixar a criança confusa?

Sim!! É muito simples, porque as regras aplicadam-se com amor. A criança entende que o pai deve educar e, de fato, sente-se mais amada e unida aos pais que dizem ‘não’ e colocam limites do que aqueles que os deixam fazer o que quiserem. Claro, isso acontece se os limites forem colocados com carinho, não se forem impostos com gritos ou bofetadas.

13. No seu livro fala ainda de uma ligação entre gadgtes e défice de atenção. Explique melhor esta relação e as suas possíveis consequências.

Sabemos que há uma relação entre passar mais tempo com gadgets e um maior deficit de atenção. Cremos que tem a ver com a maturidade da zona do cérebro que elege a que devemos prestar atenção. Se a criança passa os seus primeiros anos a ver jogos e desenhos visual e foneticamente muito estimulantes, vai achar a professora, o quadro negro e os livros demasiado lentos e aborrecidos e o seu cérebro não será capaz de prestar atenção. Alem disso, utilizamos os gadgets para distrair a criança cada vez que se tem que se esforçar, quando tem que comer, quando tem que se vestir, quando tem que esperar pelo pediatra… é lógico que depois, na escola, quando tem que prestar atenção, distraia-se.

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