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"Alimentação é a pausa do trabalho. Não há consciência alimentar"

Comer com consciência... e sem produtos de origem animal. Ao seu terceiro livro, Magda Roma tira todas as dúvidas acerca da alimentação vegan e mostra como uma dieta natural e equilibrada pode ser o segredo para se ter mais saúde. O Lifestyle ao Minuto entrevistou a nutricionista.

"Alimentação é a pausa do trabalho. Não há consciência alimentar"
Notícias ao Minuto

08:17 - 25/07/16 por Daniela Costa Teixeira

Lifestyle Magda Roma

A Mónica surgiu no meu gabinete em abril de 2015. Ela tinha uma alimentação convencional com uma quantidade normal, para os dias de hoje, mas que considero um absurdo, de produtos de origem animal e tinha três problemas de saúde a desenvolverem-se no corpo dela. Ela viu o meu primeiro livro ‘A Dieta Anticancro’ comprou mas marcou a consulta na mesma. Propôs-lhe isenção de produtos de origem animal durante 2 meses, e após perder mais de 10 quilos os três problemas de saúde da Mónica desapareceram”.

Foi assim que a nutricionista Magda Roma e Mónica Venda se conheceram. Desde então nunca mais se largaram: “ela, com o dom da criação na cozinha, e eu, com os conhecimentos nutricionais e saúde”. Foi uma espécie de fusão que deu origem a um blogue, a uma série de workshops e showcookings e agora a um livro - ‘O Livro das Receitas Vegan’ [Esfera dos Livros].

O Lifesytle ao Minuto entrevistou a nutricionista Magda Roma e revela-lhe, de forma completa, tudo o que precisa de saber sobre a alimentação vegan e sobre o livro agora lançado.

Têm sido publicados em Portugal vários livros acerca da alimentação saudável e até mesmo vegetariana. Porque é que quis apostar na alimentação vegan? É ainda um tema pouco explorado no nosso país?

Sim é um facto, mas este é o primeiro que tem a preocupação de ser isento de produtos de origem animal. Não o idealizámos porque era uma oportunidade, mas idealizámos fruto do trabalho que já temos desenvolvido nas nossas ações de formação, como workshops e showcookings e agora mais recentemente em cursos de cozinha natural vegetariana que já vai para a 6ª edição. Na realidade, eu como nutricionista entendo que a alimentação deve ser variada e equilibrada. Todos os nutricionistas o dizem, no entanto a variação no conceito convencional é variar a carne ao almoço e o peixe ao jantar. O reino vegetal tem todos os nutrientes que necessitamos e que se encontram também nos produtos de origem animal e todos os demais que não se encontram na carne ou peixe. Falo de vitaminas, minerais e fitonutrientes. Além disso, a proteína animal está presente no regime alimentar, desde o início ao fim do nosso dia, e os estudos referem que o excesso de proteína animal está relacionado com diversas doenças. O que se pretende com este livro é ensinar às pessoas várias opções alimentares, saudáveis, equilibradas, variadas e isentas de produtos de origem animal para que possam alternar a sua dieta. É também um livro para todos aqueles que já deixaram definitivamente os produtos de origem animal e são vegetarianos.

Qualquer pessoa pode seguir uma dieta vegan? O que é que deve ser feito antes de mudar a alimentação para um registo que exclui tudo o que é de origem animal?

Qualquer pessoa pode seguir uma dieta vegetariana, isso seria o melhor de quatro mundos. Digo quatro mundos porque seria maravilhoso para a prevenção e tratamento de inúmeras doenças, seria esplendoroso para os animais que deixariam de sofrer em prol das nossas gulas, para o meio ambiente que está a sufocar com a poluição que a produção animal provoca e, por fim, para o planeta que conseguiria equilibrar novamente as suas reservas naturais. Para uma pessoa seguir um regime vegetariano deve aprender a conhecer melhor os alimentos, os nutrientes e a origem dos mesmos. Este livro tem uma grande ajuda nesse sentido. Eu aconselho sempre, como nutricionista que sou, ao fazer a transição, se é que é essa a vontade da pessoa, ser uma transição acompanhada por um profissional que domine, mas não é isso que se pretende apenas com este livro, este livro são mais de 100 opções isentas de produtos de origem animal. São opções, não são obrigações.

Qual o principal erro quando se segue uma deita vegan sem aconselhamento especializado?

O mesmo erro quando temos qualquer outra orientação alimentar, a variedade alimentar. As pessoas tendem a repetir aquilo de que gostam e sabem fazer. Esse é o problema e é por esse mesmo motivo que eu dou cursos e workshops e este livro surgiu.

No seu livro destina uma parte a desmitificar ideias sobre este tipo de alimentação. Existe ainda muito ceticismo e muitas teorias erradas em torno de uma alimentação sem produtos de origem animal?

Sim e é normal que tal aconteça. Repare, quando desconhecemos algo, duvidamos e temos como mau hábito, criticar no lugar de procurar saber mais informação. Não sabe a ‘luta’ psicológica que um vegetariano tem para que a sociedade (família, amigos, colegas de trabalho) o entenda. Como profissional de saúde tenho essa dificuldade junto do meu meio social agora imagine qualquer outra pessoa que não seja da área.

A alimentação vegetariana e vegan estão muito associadas a uma ética de sustentabilidade e cuidados perante o planeta. O ato de comer está tão mecanizado que as pessoas, nos dias de hoje, nem pensam no que estão a meter à boca?

Não podia estar mais correta. A alimentação nos dias de hoje é o momento de pausa do trabalho. Não há consciência alimentar. As pessoas não se questionam ao final do dia se ingeriram vegetais, legumes, aminoácidos na quantidade certa, se beberam a água suficiente, se foram ao WC as vezes necessárias… o stress, a exigência laboral está a tentar tornar-nos máquinas automáticas quando não o somos. O nosso corpo é uma máquina maravilhosa mas quando lhe colocamos constantemente combustível errado ela, mais cedo ou mais tarde vai ceder. É preciso voltarmos à nossa essência. Digo essência porque se fizermos um exercício simples, por exemplo quando temos cãibras sabemos que temos que comer mais banana. Mas como nós não temos cãibras não nos lembramos da banana. O ser humano só aprende na dor e é preciso o corpo se manifestar com um sintoma para nós nos lembrarmos do que precisamos.

Qual o papel da indústria alimentar nesta falta de consciencialização?

Simplifica demais o papel do consumidor. Se você deseja um bacalhau com natas, é só ir ao supermercado e comprar congelado, semi-preparado ou então, hoje em dia, já feito. Mas antigamente, você teria que comprar o bacalhau, demolhar várias vezes, tinha que descascar as cebolas, o alho, saltear, fazer o molho branco ou colocar as natas… entende? Está fácil demais. Mas depois o consumidor até podia ter interesse e verificar os ingredientes, as calorias, etc. Mas não, é comprar, aquecer e comer. Já não pensamos, já não precisamos de pensar, há alguém que pensa por nós e esse alguém é a indústria. Mas, como em tudo tem que haver lucro, eu pergunto: quanto custaria fazer um bacalhau antigamente? Seria dois euros? Claro que, por estes preços, o consumidor acha excelente, pois enche a barriga mas nem se questiona se o que está a pagar é diretamente proporcional à qualidade e se o é então deveria ter um comportamento diferente.

O que é que os nutricionistas, médicos e outros profissionais de saúde podem/devem fazer para fazer soar ainda mais alto os alertas associados à má alimentação?

Deveria de haver políticas de saúde. Penso que o Governo deveria criar políticas de saúde. Aumentar consideravelmente o IVA dos produtos açucarados e de baixa qualidade; proibir a agricultura com utilização de sementes transgénicas ou tornar toda a agricultura biológica como alguns países da Europa já o fizeram. Infelizmente no nosso país somos muito poucos a terem consciência e não tendo consciência só interessa uma única coisa, o lucro/ganho.

Deveria haver uma disciplina de 'Alimentação' a ser lecionada no ensino obrigatório, para que de base as nossas crianças e adolescentes fossem habituados a terem hábitos saudáveis e conhecerem os alimentos e entenderem a importância dos nutrientes na saúde.

Os médicos deveriam ter reciclagem de nutrição aplicada, uma vez que os médicos e outros profissionais de saúde não têm conhecimentos suficientes, no âmbito da alimentação, para sugerirem convenientemente.

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