O emagrecimento, o cancro e a saúde mental são os temas mais visados pela desinformação sobre saúde em Portugal, afirmou à Lusa a diretora do Viral Check, Sara Beatriz Monteiro.
"Há temas muito comuns sobre os quais há muita desinformação, um deles é a área da nutrição e do emagrecimento, porque no mundo ocidental há um grande problema com a obesidade e excesso de peso", começa por explicar a diretora do projeto de desinformação em saúde Viral Check.
Na área do cancro, a jornalista explica que "há imensa desinformação sobre isso, desde mezinhas e questões mais espirituais relacionadas com a cura da doença".
"No tratamento do cancro a desinformação pode afastar as pessoas do tratamento correto e diminuir a probabilidade de sobrevivência", alerta Sara Beatriz Monteiro.
A jornalista refere também que a saúde mental tornou-se recentemente uma área alvo de desinformação, com a proliferação de narrativas que envolvem "ervas para a depressão, suplementos para a depressão ou gomas que acabam com a ansiedade".
Assim, "a nutrição, o emagrecimento, o cancro e a saúde mental são muito atacadas" pela desinformação, afirma a jornalista.
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Em agosto, o Polígrafo e o Viral Check anunciaram o lançamento do projeto "Vital - O Portal do Cancro", dedicado a informar sobre boas práticas clínicas e combater mitos nocivos sobre o cancro e "promover informação rigorosa, verificar factos e desmistificar mitos sobre a oncologia".
Desta forma, a jornalista explica que a desinformação em saúde "pode ter um impacto direto nas decisões que as pessoas tomam", o que levanta vários riscos, como a ineficácia de tratamentos.
"Muita desinformação em saúde tem a ver com produtos naturais que muitas pessoas acham que se não fizer bem, mal também não vão fazer", explica a diretora do Viral.
"Há alimentos e produtos naturais que podem interagir com a medicação, potenciando os seus efeitos secundários ou anulando a sua eficácia. Uma das plantas que é muito promovida como sendo supostamente eficaz no tratamento da depressão é a erva de São João, que tem interações com vários medicamentos, portanto também há esse risco", explica.
Além destes, o risco do abandono do tratamento convencional pode não só levar a um diagnóstico mais tardio, como influenciar as opções de tratamento.
Um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta para que a desinformação sobre esta área está a crescer à medida que mais pessoas obtêm informações de saúde em media digitais, como mecanismos de pesquisa ou redes sociais.
"Embora o aumento do acesso à informação sobre questões de saúde possa ser visto como geralmente positivo, a disseminação de informações médicas imprecisas é problemático. Pode levar a um estilo de vida prejudicial ou a escolhas alimentares inadequadas, a automedicação, ao abandono do tratamento médico e a diagnósticos incorretos", lê-se no estudo.
Nesta perspetiva, e em comparação com a desinformação política, Sara Beatriz Monteiro remata que a desinformação na área da saúde tem riscos mais diretos e imediatos.
Sara Beatriz Monteiro é diretora do Viral Check, um jornal de 'fact-checking' totalmente vocacionado para a clarificação da desinformação em saúde, nomeadamente a que é partilhada através das redes sociais, pretendendo ser um agente ativo na promoção da literacia em saúde.
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