A morte do Roscoe abalou, não só o piloto de Fórmula 1, como todos os seus seguidores. Inclusive Lewis Hamilton já agradeceu o apoio "impressionante" dos fãs.
Como o buldogue do automobilista britânico, também outros animais de famosos já fizeram parar as redes sociais — A despedida da cadela Roxy de Daniela Ruah e a dor sentida e partilhada por Maria João Bastos após a morte da chihuahua Amélie, em 2016.
Em exclusivo ao Notícias ao Minuto, a psicóloga Cátia Silva, desmistificou algumas emoções que os fãs ou qualquer outra pessoa pode carregar quando vê, ainda que através de um ecrã, o sofrimento de um dono.
Para a especialista, esta situação pode resumir-se a "uma capacidade inata para a empatia", que permite o ser humano sentir a dor do outro como se fosse a própria dor. E tratando-se o dono de uma figura pública, como Hamilton, existe ainda uma identificação acrescida.
por ser uma pessoa admirada e vista por muitos como uma inspiração. Os seguidores não acompanham apenas as pessoas, mas também a sua vida pessoal e claro que o seu animal fazia parte desse acompanhamento. Assim, quando acontece a sua morte, sentimos uma espécie de perda coletiva, mesmo sem termos convivido com ele. - psicóloga Cátia SilvaA especialista explica que esta dor "é semelhante à de um luto simbólico", porque apesar de não ser a dor de quem perde o seu próprio animal, não deixa de ser uma tristeza real e que se pode relacionar com o conceito de "dor empática", isto é, "não sofremos apenas pela ausência do animal, sofremos também porque vemos Hamilton sofrer e conseguimos conceber como seria estar no lugar dele", acrescenta.
Como se pode gerir esse sentimento?
O primeiro passo é validar a emoção, ou seja, sentir tristeza pela perda de um animal que acompanhámos, ainda que à distância, e é legítimo, explica Cátia Silva. Faz sentido estar tristes por um animal que não era nosso? "Faz, porque estamos a reagir à dor humana que testemunhamos e à relação simbólica criada". Algumas estratégias úteis indicadas pela especialista incluem:
- Partilhar emoções: escrever uma mensagem de apoio, deixar um comentário ou simplesmente falar sobre o que sentimos ajuda a processar a emoção.
- Autocompaixão: aceitar que a tristeza existe, mas cuidar de si, evitando críticas internas como “isto é ridículo”.
E quando se trata de um animal nosso, como podemos fazer esse luto?
Estudos mostram que a ligação com os animais de estimação ativa zonas do cérebro relacionadas com vínculos afetivos fortes, semelhantes às relações humanas. Não é “apenas um cão ou um gato”, é um membro da família.
O luto pode ser vivido de forma saudável se:
- Permitirmos a dor: chorar, falar sobre o animal, recordar memórias boas. Negar ou reprimir apenas prolonga o sofrimento.
- Criarmos rituais de despedida: guardar uma fotografia especial, fazer uma caixa com objetos do animal, plantar uma árvore em sua memória. Os rituais ajudam o cérebro a simbolizar a perda.
- Dar tempo: o luto não tem prazo. Cada pessoa precisa do seu tempo para integrar a ausência e manter a memória do animal viva de forma saudável.
O que pode atenuar a dor?
A dor não desaparece de um dia para o outro, mas pode ser suavizada por diferentes fatores:
- O tempo: com os dias e semanas, a intensidade da tristeza tende a diminuir, mesmo que a saudade permaneça.
- Rede de apoio: falar com pessoas que também valorizam a relação com animais traz conforto e validação.
- Manter a memória viva: guardar fotografias, partilhar histórias, ou até ajudar outro animal em situação de necessidade. Para muitas pessoas, adotar outro animal no futuro pode ser uma forma de dar continuidade ao amor, sem substituir o que se perdeu.
A psicóloga Cátia Silva sublinha a necessidade de pedir apoio psicológico se a dor se tornar demasiado intensa ou impedir o seu funcionamento diário.