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"A grávida tem necessidades de nutrientes, mas não deve 'comer por dois'"

Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, a médica Selma Souto falou da relação que existe entre obesidade e a gravidez. Será que devem comer tudo e sem preocupação? Existem riscos para o bebé? Qual a importância de hábitos saudáveis.

"A grávida tem necessidades de nutrientes, mas não deve 'comer por dois'"

© Shutterstock

Adriano Guerreiro
05/10/2025 08:32 ‧ há 13 horas por Adriano Guerreiro

Lifestyle

Entrevista

Será que na gravidez, uma mulher pode comer de tudo e não ter grandes preocupações com a alimentação? O facto de estar a alimentar outro ser pode levar a isso mesmo, mas deverá ser tido algum cuidado nesta fase para evitar alguns problemas? 

 

"A grávida tem necessidades aumentadas de energia e de nutrientes, sendo este aumento dependente do trimestre em que se encontra, porém, isto não significa que deva "comer por dois'", revela em entrevista ao Lifestyle ao Minuto a médica Selma Souto.

A especialista falou ainda sobre a relação entre obesidade e gravidez, os riscos que as mulheres podem ter e  qual a importância da adoção de hábitos saudáveis. "Estima-se que cerca de 25% de todas as complicações na gravidez estejam de algum modo associadas ao excesso de peso ou à obesidade materna."
  Notícias ao Minuto A médica Selma Couto falou sobre a relação entre obesidade e gravidez© Selma Souto

Pessoas que sejam obesas têm mais dificuldade em ter filhos, poderá existir alguma ligação?

Sim, existe uma relação entre excesso de peso ou obesidade e infertilidade. As implicações da obesidade manifestam-se desde o início do processo reprodutivo com aumento da prevalência de infertilidade que pode ter várias causas, tais como a maior prevalência de síndrome de ovário poliquístico, a resistência à insulina e a alterações nos níveis de estrogénio e andrógenios, interferindo na ovulação, o menor sucesso das técnicas de reprodução medicamente assistida e o maior risco de abortamentos espontâneos e de repetição.

Durante a gravidez, muito por culpa dos chamados 'desejos', pode revelar-se uma altura complicada para a mulher manter hábitos saudáveis. É importante, mesmo assim, fazer esse esforço?

Sim, a mulher grávida deve procurar ter uma alimentação saudável, completa, equilibrada, variada e segura. Deve também ter-se em consideração, na dieta da grávida, os micronutrientes fundamentais como os minerais (ferro, iodo e cálcio), vitaminas (ácido fólico, vitamina C e vitaminas lipossolúveis) e as fibras solúveis e insolúveis. 

Leia Também: Vírus do Papiloma Humano. Vacina revela-se "altamente eficaz"

Pais obesos ou com excesso de peso vão ter necessariamente uma criança com excesso de peso?

Não necessariamente, mas o risco é maior, porque sabemos atualmente que a obesidade tem um forte componente genético.

A educação e a adoção de hábitos saudáveis podem ser importantes antes mesmo da conceção?

Sim, é fundamental a adoção de um estilo de vida saudável antes da mulher engravidar. Deve procurar manter um peso saudável, praticar atividade física regular, ter uma alimentação equilibrada, dormir bem, reduzir o stress, evitar álcool e tabaco e claro fazer o acompanhamento médico e a suplementação sempre que indicada.

A nossa sociedade ainda conta muito com o estigma da obesidade?

É importante informar a população que a obesidade não é uma escolha individual. O estigma pode aumentar o risco de ansiedade, depressão e isolamento social, podendo agravar a obesidade. Deve combater-se o estigma associada à doença e promover-se o respeito pela pessoa que vive com obesidade.

Como se consegue manter uma gravidez saudável quando, por vezes, existe o apelo de 'comer por dois' e poder sentir tem de ser alimentado mais um ser?

É verdade que a grávida tem necessidades aumentadas de energia e de nutrientes, sendo este aumento dependente do trimestre em que se encontra, porém, isto não significa que deva “comer por dois”! Em alguns casos, pode ser necessário o acompanhamento por nutricionista.

Além de uma consulta com um especialista na gravidez, é importante um acompanhamento com uma nutricionista tanto na gravidez como no pós parto?

Algumas grávidas e mulheres no período pós- parto podem precisar de consulta de Nutrição para prescrição de um plano alimentar personalizado, em função do seu estado nutricional, antecedentes clínicos, hábitos alimentares ou hábitos sócio-culturais. 

Qual impacto o excesso de peso pode trazer à saúde do bebé e da mãe?

A obesidade é a patologia mais frequente na mulher em idade reprodutiva, aumentando globalmente os riscos associados à gravidez. Estima-se que cerca de 25% de todas as complicações na gravidez estejam de algum modo associadas ao excesso de peso ou à obesidade materna.

A mulher com obesidade tem maior risco de ter previamente à gravidez diabetes tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemia (i.e. colesterol ou trigliceridos elevados) e sindrome de apneia do sono, que são fatores que podem aumentar o risco obstétrico. Na gravidez, a mulher com obesidade tem um maior risco de diabetes gestacional, pre-eclampsia, parto pré-termo, parto distócico, cesariana eletiva e emergente, tentativa falhada de indução de trabalho de parto e complicações anestésicas.  No pós-parto têm maior risco de deiscência da sutura, tromboembolismo venoso, terminação precoce da amamentação, anemia pós-parto pelo maior risco de hemorragia pós-parto e depressão.

Relativamente às complicações fetais e morbilidade infantil, a exposição intrauterina à obesidade materna e o ganho ponderal excessivo na gravidez estão associados a macrossomia, recém-nascidos grandes para a idade gestacional, maior adiposidade corporal e distócia de ombros.

Os descendentes de mulheres com obesidade apresentam ainda maior risco de obesidade na infância, síndrome metabólico, doença cardiovascular, doença hepática não alcoólica, asma, perturbações do espectro do autismo, atraso de desenvolvimento, síndrome de hiperatividade/défice de atenção.

A diabetes gestacional acaba por ser um dos problemas. Muitas grávidas nem sabem que a têm. Qual as consequências se não for vigiada, o que se deve ter em conta, quais os sinais?

De facto, um dos fatores de risco para a diabetes gestacional é o excesso de peso ou obesidade materna. A diabetes gestacional, quando não controlada, aumenta o risco de complicações para o recém-nascido, tais como restrição do crescimento do feto, macrossomia fetal, hipoglicemia neonatal e hiperbilirrubinemia; e para a mãe,  maior risco de diabetes gestacional na próxima gravidez, diabetes tipo 2 e síndrome metabólico.

O exercício físico é algo que precisa de ser mantido mesmo numa altura em que a mobilidade por parte da grávida é mais complicada?

A atividade física deve ser estimulada durante a gestação desde que não haja qualquer contraindicação do ponto de vista obstétrico.

Leia Também: Epilepsia: Número de casos é o dobro do estimado e falha acompanhamento

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