Esta quinta-feira, 15 de maio, assinala-se o Dia Mundial da Ortodontia. A propósito da data, o Lifestyle ao Minuto falou com João Cerejeira, especialista em Ortodontia pela Ordem dos Médicos Dentistas.
A definição desta especialidade da medicina dentária, importância de se ter um eixo da boca alinhado, os problemas e tratamentos, e a prevenção, foram algumas das temáticas que o médico dentista nos explicou.
É uma palavra com que todos estão familiarizados, mas talvez não saibam ao certo o que abrange. O que é, em concreto, a especialidade da medicina dentária ortodontia?
A ortodontia é a especialidade da medicina dentária que se dedica ao diagnóstico, prevenção e tratamento das más oclusões e das deformidades dentofaciais. As más oclusões são incorreções na posição, e alinhamento dos dentes que podem provocar um mau posicionamento dos maxilares entre eles, e um fecho da boca incorreto. As deformidades dentofaciais ocorrem quando o desalinhamento entre os ossos da face (maxila e mandíbula), e naturalmente entre os dentes, atinge proporções mais significativa.
É muito comum ouvir-se que a saúde começa pela boca, e é verdade, é a porta de entrada para muitas doenças.
Neste dia 15 de maio celebra-se o Dia Mundial da Ortodontia. Qual a importância de termos um eixo da boca alinhado?
O facto de termos os dentes bem alinhados e corretamente encaixados permitem, por um lado, termos uma melhor estética do sorriso, o que impacta diretamente a nossa autoestima. Permite também uma melhor função mastigatória, e uma melhor saúde bucal geral, porque os dentes bem alinhados, além de facilitar a auto higiene oral através do fluxo salivar, permitem ainda que a escovagem seja feita de uma forma mais eficiente, o que leva a uma redução do risco de cáries e de doenças periodontais. É muito comum ouvir-se que a saúde começa pela boca, e é verdade, é a porta de entrada para muitas doenças.
Quais são os problemas que podem advir se não tivermos?
Os dentes desalinhados e mal posicionados, por um lado dificultam a higiene oral pela maior dificuldade em se fazer uma escovagem adequada o que leva, naturalmente a um maior risco de aparecimento de cáries e de doenças periodontais (gengiva e osso), que pode levar em último caso à perda de dentes e das suas estruturas de suporte.
Já em termos de função mastigatória, o que acontece é que as más oclusões, ao dificultarem uma ação mastigatória tão eficiente como quando os dentes estão bem alinhados e bem posicionados, não permite que os alimentos sejam tão bem mastigados, impactando negativamente na função digestiva.
A má posição dos dentes, leva também muitas vezes a desgastes excessivos de certos dentes por abrasão dentária.
Não menos importante, uma mastigação menos eficiente, e uma posição incorreta de fecho dos maxilares pode também levar a problemas de ordem muscular (musculatura orofacial) e articular (articulações têmporo-mandibulares).
Por fim, em termos estéticos, um sorriso não tão bonito pode trazer alguns problemas de autoconfiança e autoestima com o inerente prejuízo social.
João Cerejeira, médico dentista© João Cerejeira
Quais são os tratamentos mais comuns para tratar estas problemáticas?
Para tratar este tipo de problemas existem os tratamentos ortodônticos que podem ser realizados em fases mais ou menos precoces, e podem ser feitos com diversos tipos de aparelhos, nomeadamente aparelhos ortodônticos removíveis, aparelhos ortopédicos, aparelhos funcionais, aparelhos fixos e, cada vez mais frequentemente, alinhadores dentários.
Existe algum tipo de prevenção?
Com certeza que sim. A prevenção está relacionada com a necessidade de nós, médicos dentistas, acompanharmos os pacientes de preferência logo desde idade precoce. É nestas fases que determinadas anomalias de posição dos dentes, dos maxilares, ou até de problemas funcionais, como formas incorretas de engolir, de falar, ou até a existência de hábitos prejudiciais, podem ser detectadas e tratadas. Só assim poderemos evitar problemas futuros com o agravamento deste tipo de situações, e até desencadeamento de outros problemas relacionados e mais complexos.
Costumo dizer aos meus pacientes que uma boca com os dentes alinhados, é como um carro com a direção bem alinhada, em que os pneus duram mais tempo.
De que forma a ortodontia e o acompanhamento é importante em cada fase da vida, da infância até à idade adulta, passando pela adolescência?
Sem dúvida que este acompanhamento é de facto muito importante em todas as etapas da vida. Eu diria que a importância das fases precoces é enorme. Isto porque, de uma forma relativamente simples, conseguimos por vezes interceptar e tratar alguns problemas também ainda pequenos, que se tornariam grandes problemas em idade adulta. Por exemplo, temos situações como a compressão do maxilar superior, que é uma situação muito frequente em crianças, e que nós tratamos de uma forma realmente simples em idades precoces. A evolução destes casos sem tratamento até à idade adulta complicam claramente o sucesso do tratamento, obrigando muitas vezes a recorrer à cirurgia ortognática para resolver os problemas. Outras situações também de mau desenvolvimento ortopédico, como são os casos de desenvolvimento deficiente da mandíbula, podem, na verdade, representar um problema cirúrgico em idade adulta, caso não sejam detectados e tratados em idade precoce.
Convém também relevar a importância de detectar e tratar em idade precoce situações de má posição e função da língua, fala e ainda outros problemas da atividade motora, de forma a evitar problemas de agravamento futuro.
Nos adolescentes, temos ainda algum potencial ortopédico bem como uma plasticidade óssea que nos permite ir mais além, do que no tratamento de um adulto. Costumo dizer aos meus pacientes que uma boca com os dentes alinhados, é como um carro com a direção bem alinhada, em que os pneus duram mais tempo. Aqui não são pneus, mas são as estruturas bucais que têm essa vantagem.
No tratamento dos adultos, naturalmente que, dadas as vantagens que um correto alinhamento dentário oferece, como já referi anteriormente, quanto mais cedo tivermos oportunidade de intervir tanto melhor. Não obstante, em qualquer idade, mesmo até em pacientes idosos, podemos melhorar substancialmente a aparência dos dentes e do sorriso como também as funções oro-faciais, ainda que à medida que a idade avança, aumenta também a necessidade de recorrer a tratamentos interdisciplinares, nomeadamente com o recurso a implantes, tratamentos periodontais, reabilitação oral com facetas cerâmicas, etc.
A correção de problemas pode começar logo tão cedo como aos 4/5 anos de idade, como pode ser feita depois dos 80 anos.
A correção de problemas deve ser feita apenas quando a dentição definitiva está completa?
A correção de problemas pode começar logo tão cedo como aos 4/5 anos de idade, como pode ser feita depois dos 80 anos. Em boa verdade pode ser feita em qualquer altura da vida já que os dentes podem ser movidos com ortodontia desde que estejam implantados em osso alveolar, numa situação saudável.
No entanto, idealmente devemos ver as crianças pela primeira vez ainda com a dentição primária pois só assim podemos usar essa vantagem que é o simples facto de termos podido detectar, diagnosticar e tratar o problema, evitando tratamentos mais complexos no futuro.
E, mesmo que feita na idade adulta, é possível que haja retrocessos mais tarde, uma vez que os nossos dentes se movimentam durante toda a vida?
Sim, a questão é muito pertinente. Repare no seguinte, quando no decurso de um tratamento ortodôntico conseguimos obter um encaixe dos dentes inferiores sobre os superiores muito perfeito, e além disso, quando os colocamos numa posição de muito equilíbrio nas suas arcadas dentárias e numa boa relação com a língua, com as bochechas e os lábios, portanto, num total equilíbrio funcional, criamos condições naturais para que o alinhamento final se mantenha estável por muito tempo.
Contudo, estamos a falar de um órgão que funciona, que envelhece. E, na verdade, o que acontece é que, ao longo da vida, o perímetro da arcada dentária vai encurtando. É pois, natural, que existam algumas pequenas movimentações dentárias durante a vida, movimentações essas que por vezes podem legitimar pequenas correções à posteriori, para voltar a organizar a posição e o alinhamento dos dentes e melhorar a oclusão.
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