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Prolapso dos órgãos pélvicos. O problema que muitas mulheres ignoram

Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, no âmbito da rubrica O Médico Explica, Catarina Neves, médica interna de ginecologia/obstetrícia no Centro Hospitalar Universitário do Algarve, em Portimão, esclarece várias dúvidas sobre esta patologia, em relação à qual acaba por ser complicado perceber os números no país "uma vez que muitas mulheres não procuram ajuda médica".

Prolapso dos órgãos pélvicos. O problema que muitas mulheres ignoram

O prolapso dos órgãos pélvicos é um problema que afeta várias mulheres principalmente na altura da menopausa. Uma vez que se trata de uma condição benigna, é muitas vezes ignorada, apesar dos problemas e do desconforto que possa causar.

"A prevalência do prolapso dos órgãos pélvicos é difícil de estimar, encontrando-se subestimada, uma vez que muitas mulheres não procuram ajuda médica", revela ao Lifestyle ao Minuto Catarina Neves, médica interna de ginecologia/obstetrícia no Centro Hospitalar Universitário do Algarve, em Portimão, em mais uma rubrica O Médico Explica.

O diagnóstico da patologia, que pode afetar mais as mulheres entre os 50 e os 79 anos, é feito através de um exame ginecológico. Existem vários tipos de prolapso e também diversas formas de tratamento, sendo a cirurgia uma das mais eficazes. 

O que é o prolapso dos órgãos pélvicos?

Os órgãos pélvicos (útero, bexiga, reto e intestino) são, normalmente, suportados por músculos e ligamentos que se inserem nos ossos da bacia e que constituem o pavimento pélvico. Quando estes tecidos de suporte enfraquecem, tornam-se flácidos e sofrem estiramento, pode haver protusão e abaulamento destes órgãos nas paredes da vagina, que se designa por prolapso. O prolapso dos órgãos pélvicos é, sobretudo, um problema após a menopausa. É uma patologia que afeta a qualidade de vida da mulher, sendo um ponto fundamental da avaliação da saúde da mulher. 

Estudos indicam que cerca de 40% das mulheres entre os 50 e os 79 anos possam apresentar algum tipo de prolapso

Existem diferentes tipos de prolapso?

Sim, consoante o órgão atingido e a região da parede vaginal afetada. O cistocelo consiste no prolapso da parede anterior da vagina, estando associado a descida da bexiga. O histerocelo diz respeito ao prolapso da parte superior da vagina, com descida do colo do útero e do corpo do útero. Já o retocelo é referente ao prolapso da parede posterior da vagina, estando associado a descida do reto. Depois há ainda o prolapso da cúpula vaginal, que ocorre mais frequentemente após uma histerectomia [cirurgia de remoção do útero]. Na mesma mulher podem coexistir diferentes tipos de prolapso, uma vez que os órgãos pélvicos e as suas sustentações estão relacionadas. 

É algo muito comum em Portugal?

A prevalência do prolapso dos órgãos pélvicos é difícil de estimar, encontrando-se subestimada, uma vez que muitas mulheres não procuram ajuda médica. Os estudos indicam que cerca de 40% das mulheres entre os 50 e os 79 anos possam apresentar algum tipo de prolapso.

Quais são os principais sintomas?

O prolapso dos órgãos pélvicos pode ser ligeiro, não causando qualquer tipo de sintomatologia e sendo apenas diagnosticado durante um exame ginecológico de rotina. 

Os sintomas podem interferir significativamente com a qualidade de vida nas suas atividades diárias, na prática de atividade física ou comprometendo a atividade sexual.

Os principais sintomas são sensação de pressão, desconforto ou dor pélvica que melhora com a posição deitada, perceção de ’bola’ ou massa dentro ou na entrada da vagina, sintomas urinários como dificuldade em urinar ou em esvaziar completamente a bexiga, infeções urinárias, perda involuntária de urina ou urgência em urinar, e dificuldade em evacuar ou desconforto durante as relações sexuais.  

Existem alguns fatores de risco, como a idade, por exemplo?

Os principais fatores de risco para o prolapso dos órgãos pélvicos são o processo normal do envelhecimento e a menopausa, a gravidez, especialmente em situações de múltiplos partos, partos instrumentados e recém-nascidos grandes para a idade gestacional, obesidade, situações que aumentam a pressão abdominal, como a tosse crónica, obstipação e trabalhos com carga de peso, cirurgia de remoção do útero [histerectomia] prévio, o  risco hereditário de prolapso ou algumas doenças  do tecido conjuntivo, por exemplo, síndrome de Marfan ou síndrome de Ehlers-Danlos.

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Quando é que uma mulher deve ficar mais preocupada?

As mulheres devem manter uma vigilância ginecológica adequada à sua idade e características específicas. Deverão recorrer ao seu médico assistente ou ginecologista caso surjam sintomas ou sinais sugestivos da doença.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é realizado, na maioria das vezes, numa consulta de ginecologia com recurso a uma história clínica completa e ao exame ginecológico cuidadoso. Por vezes, podem ser necessários exames adicionais para ajudar a esclarecer a completa natureza do problema, como a ecografia ginecológica, a ressonância magnética, os estudos urodinâmicos, que avaliam a capacidade da bexiga armazenar e esvaziar urina, ou a uretrocistoscopia, que permite a visualização da uretra e da bexiga. 

Estima-se que a taxa de cura do prolapso com recurso a tratamento cirúrgico seja aproximadamente entre 75% e 90%É possível viver com prolapso? O que pode acontecer se não tratado?

O prolapso dos órgãos pélvicos é uma condição benigna, que não acarreta risco de vida e, portanto, a utente pode optar por não realizar qualquer tratamento. No entanto, se não for tratado, à medida que a mulher vai envelhecendo, pode haver agravamento do grau do prolapso, condicionando mais sintomas e desconforto. 

Que tipos de tratamento existem e como são feitos?

As mulheres assintomáticas ou ligeiramente sintomáticas sem afeção da qualidade de vida podem não necessitar de qualquer tratamento. No entanto, devem adotar hábitos que reduzam o risco de agravamento do prolapso, nomeadamente, uma alimentação equilibrada que promova o bom funcionamento intestinal, evitando a obstipação, a ingestão de água em quantidade adequada, a cessação tabágica, o controlo de tosse crónica; a manutenção de um peso corporal dentro dos limites saudáveis e a evicção de cargas e esforços repetidos. Nas mulheres sintomáticas com afeção da sua qualidade de vida, existem tratamentos cirúrgicos ou não cirúrgicos disponíveis. O tratamento médico (não cirúrgico) é o preferencial quando se pretende preservar a capacidade reprodutiva da mulher e permite adiar o tratamento cirúrgico definitivo e inclui exercícios de fortalecimento e reabilitação do pavimento pélvico ou pessários vaginais, que são dispositivos de silicone, colocados na vagina e que suportam os órgãos prolapsados, aliviando os sintomas. No que diz respeito ao tratamento cirúrgico existem diferentes vias de abordagem, por via vaginal, laparoscópica ou abdominal, com ou sem recurso a próteses. Todas são decididas de forma individualizada entre o médico e a doente. 

Qual é o mais eficaz?

A escolha do tratamento depende de diversos fatores como o tipo e intensidade da sintomatologia, a idade da mulher, a existência de doenças concomitantes, as expectativas quanto à atividade sexual e ao projeto reprodutivo e a presença de fatores de risco para recidiva. Portanto, o tratamento deverá ser uma decisão partilhada entre o médico e a doente. Estima-se que a taxa de cura do prolapso com recurso a tratamento cirúrgico seja aproximadamente entre 75% e 90%. Na maioria das vezes, a recorrência do prolapso deve-se à manutenção dos fatores de risco. 

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