Há quem sonhe em ter um cão ou um gato desde sempre e escolha o Natal para cumprir esse desejo. Independentemente de ser, ou não, um bom presente, acontece que, em alguns casos, o entusiasmo inicial passa a arrependimento e a decisão acaba em abandono. Basta olhar para os números do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas: em 2022, os Centros de Recolha Oficiais resgataram 41.994 animais das ruas.

É verdade que um amigo de quatro patas é um antídoto contra vários males, desde o stress à depressão. O que não faltam são investigações que comprovam esses e outros benefícios. Mas, ainda que estas lhe pareçam razões mais do que suficientes para receber um patudo na família, lembre-se que existem outros aspetos que devem pesar na decisão.

Toda a família deve estar a favor da decisão de adotar um novo animal de companhia e saber quais são as responsabilidades de cada um

Para evitar que o número de abandonos dispare, há perguntas que devem ser feitas. E foi a pensar nisso e para esclarecê-lo no essencial que o Lifestyle ao Minuto esteve à conversa com Carolina Bartolomeu, médica veterinária e vet channel manager da Nestlé Purina.

Leia Também: Descobrimos a resposta a um dos maiores mistérios sobre cães. Está a par?

Que sinais indicam que estamos realmente preparados para assumir o compromisso de receber um animal em casa?

Um animal de companhia vem com a promessa de que irá trazer alegria e boa disposição a uma casa, enquanto lhe estamos a oferecer uma oportunidade de ter um lar cheio de amor. Contudo, temos de ter presente que, ao darmos as boas-vindas a um animal, ele torna-se um elemento da família que está inteiramente dependente de nós. Por isso, antes de darmos este passo, devemos sempre assegurar-nos que reunimos todas as condições para o receber e que estamos preparados para cuidar dele ao longo de toda a sua vida. Trata-se de um compromisso de longo prazo que pode ir entre uma a duas décadas, de acordo com a esperança média de vida de cães e gatos. Toda a família deve estar a favor da decisão de adotar um novo animal de companhia e saber quais são as responsabilidades de cada um.

Como é que uma família se pode preparar para a chegada deste novo elemento?

Quando chegar o dia de receber o nosso novo animal de companhia, toda a família deve agir de forma a que o acolhimento do novo membro ocorra da forma mais suave possível. O nosso novo amigo deverá ter tempo para se ambientar e sentir-se instalado na sua nova casa. Devemos dedicar tempo ao animal para lhe permitir adaptar-se ao ambiente e estabelecer uma rotina. Trabalhar a partir de casa ou tirar alguns dias de férias permitirá passar algum tempo importante de qualidade com ele. Toda a família deverá respeitar uma lista de regras da casa. É importante que todos os membros da família sejam consistentes e estabeleçam regras. Por exemplo: será confuso para um cão se alguém o deixar ir para o sofá e outro membro da família não o deixar.

E quando há crianças na família? Como é que devemos introduzir o animal?

Os animais e as crianças podem construir um relacionamento positivo quando as apresentações são feitas da forma correta. No entanto, não devemos deixar as crianças sozinhas com os animais de companhia. Devemos explicar-lhes os limites na interação com cães e gatos e que eles não são brinquedos, mas sim seres vivos. Por isso, a aproximação das crianças aos animais deve ser calma. O primeiro encontro deve ser num local amplo e calmo e a criança deve fazer uma primeira aproximação até deixar que o cão ou o gato reconheça e se interesse por um contacto mais próximo. Podemos incentivar que a criança faça uma festa ao seu novo amigo, mas apenas num momento em que o animal já se encontra relaxado. Conhecer a linguagem corporal de cães e gatos por parte das crianças é essencial para que a relação entre ambos seja um sucesso. Enquanto a criança não tiver a maturidade suficiente para esta interpretação, deve haver sempre um acompanhamento próximo por parte dos adultos.

Leia Também: André Santos: "Ter animais é a forma mais pura de amor incondicional"

Que outras questões devemos ter em conta?

Cão ou gato; júnior ou adulto; se for cão, se será de porte pequeno ou porte grande; adotar ou comprar; qual a raça pela qual iremos optar; macho ou fêmea, qual o espaço que temos disponível para ele; qual o tempo disponível de cada membro da família; qual o médico veterinário que irá acompanhá-lo; quais as condições da nossa casa para adotarmos um animal; qual o tipo de alimentação pela qual iremos optar...

A decisão de adotar ou comprar é de cada família

Como tornar a casa mais segura?

Há vários perigos nas nossas casas que devem ser acautelados na hora de trazer um cão ou gato para juntos de nós. Fechar bem janelas e portas para evitar fugas e quedas inesperadas, esconder os cabos elétricos atrás dos móveis, fechar a tampa da sanita, colocar os caixotes do lixo num local que não seja de fácil acesso, fechar sempre as portas dos eletrodomésticos, colocar uma proteção nas lareiras e manter os objetos decorativos que se possam partir fora do alcance de gatos traquinas, assim como substâncias e plantas tóxicas para cães e gatos são algumas das coisas que devemos ter em conta para tornar a casa mais segura para os animais.

Quais os indispensáveis no kit de boas-vindas de um patudo?

Quando recebemos o nosso novo cão ou gato em casa, já devemos ter algumas condições asseguradas. Os locais a que eles tenham acesso devem ser seguros e também deve ser definido o seu local de descanso, de alimentação e de higiene. Um comedouro para alimentação e um bebedouro para água são também imprescindíveis. Em relação à alimentação, devemos, sempre que possível manter aquela com a qual o nosso cão ou gato está habituado e, caso decidamos alterá-la, fazê-lo de forma gradual ao longo de 10 dias. Uma cama confortável e adequada às características do seu novo amigo, utensílios de escovagem e corte de unhas e de higiene oral também não devem ficar de fora do kit de boas-vindas. Para cães, um peitoral e uma trela são essenciais para poderem passear em segurança na rua. Cães e gatos também precisam de brinquedos seguros para poderem ser estimulados.

Bebé, jovem/adulto ou sénior. No seu entender, por qual optar? 

Todas as idades de cães e gatos trazem felicidade, novidade, desafios e oportunidades. Adotar um cão ou gato adulto é uma nova oportunidade que eles poderão ter de encontrar uma família cheia de amor para lhes dar. Um animal adulto já tem a sua personalidade formada e a associação ou criador conseguirão dar essas indicações, tornando a convivência com eles mais previsível. A experiência diz-nos que há bonitas histórias de encontros para toda a vida, desde juniores até séniores.

Leia Também: É por isto que os cães ficam com os olhos coloridos nas fotografias

Falava há pouco da questão da adoção e da compra. Considera que uma destas escolhas é melhor do que a outra?

Quer compremos ou adotemos, estará à nossa espera um futuro fantástico e repleto de aventuras. A decisão de adotar ou comprar é de cada família. Existem milhares de cães e gatos abandonados em associações por todo o país à espera de um lar. A maioria não tem uma raça definida, sendo que as suas especificidades podem não ser tão fáceis de prever como quando um cão ou gato de uma raça específica é comprado. Em todo o caso, as famílias que optarem por acolher um animal vindo de uma associação poderão contar com o apoio destes profissionais para saber mais sobre a personalidade e necessidades do seu novo amigo.

Cães e gatos oferecem amor, afeto e amizade incondicional, bem como um conjunto de benefícios, tais como melhorias na nossa saúde e bem-estar geral

Quais os aspetos a ter em conta no momento da escolha do veterinário?

O importante é, desde o início, visitar um médico veterinário e definir os passos a seguir para garantir uma prevenção adequada e contribuir para uma boa saúde do seu melhor amigo ao longo da vida. Caso tenha um médico veterinário de animais anteriores ou recomendado por familiares ou amigos, poderá ser um critério para escolha, pois vai transmitir confiança e segurança neste novo momento da vossa vida. Outros critérios podem ser a proximidade a casa, o conjunto de serviços disponíveis, como, por exemplo cirurgia, internamento e urgências.

Ainda não falámos sobre os benefícios de ter um animal de estimação, mas a verdade é que eles existem.

Sim. Cães e gatos oferecem amor, afeto e amizade incondicional, bem como um conjunto de benefícios, tais como melhorias na nossa saúde e bem-estar geral. Crianças de famílias com cães são menos propícias a ter comportamento antissociais e verifica-se também que, no caso dos adultos, os animais de companhia podem atenuar os sintomas de depressão, ansiedade e de demência. Em especial para os idosos, os gatos e cães oferecem um senso de propósito e ajudam a reduz a solidão. Estes são alguns dos benefícios documentados que os animais de companhia podem trazer à nossa vida.

Foi com isto em mente que a Purina realizou, no passado mês de outubro, a iniciativa 'Pets at Work'?

Acreditamos que os animais e as pessoas estão melhor juntos. Queremos que mais pessoas usufruam das vantagens que os animais nos trazem, desde saúde até locais de trabalho mais felizes. Esse é o motivo pelo qual trabalhamos para que mais empresas se juntem a este movimento 'pet friendly' e permitam que mais pessoas possam ir para o escritório com o seu cão. Em Portugal, os nossos escritórios são 'pet friendly' desde 2018 e queremos que mais empresas se juntem a nós neste caminho.

Como é que a presença de animais de companhia no trabalho melhora o bem-estar e aumenta a produtividade?

Recebemos cães nos nossos escritórios europeus desde 2003. Em Portugal, começámos com um projeto piloto em 2016 e a nossa sede em Linda-a-Velha é 'dog friendly' desde 2018. Um ano antes, em 2017, realizámos um estudo com outras empresas e milhares de indivíduos que já experimentaram as vantagens de juntar pessoas e os animais de companhia no local de trabalho e com milhares de pessoas que amam os animais por toda a Europa.

O que é que concluíram?

Toda esta experiência e investigação deu-nos um conhecimento real sobre as coisas extraordinárias que os animais de companhia podem oferecer às empresas e aos seus colaboradores. Desse estudo, concluiu-se que 44% das pessoas acreditam que ter animais de companhia no trabalho melhora o equilíbrio trabalho-vida pessoal; 41% das pessoas acreditam que facilita os contatos e o relacionamento com outros colegas; 34/  das pessoas afirmam que cria uma atmosfera mais descontraída; e 46% dos colaboradores encara a possibilidade de poder levar o seu animal de companhia para o trabalho como um benefício. No fundo, a presença de cães no trabalho aumenta a produtividade, melhora os índices de envolvimento, retenção e bem-estar, inspira-nos e ajuda a reduzir o stress.

Leia Também: Provavelmente comete algum destes erros ao pegar no seu cão ao colo