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Ser mãe depois de um cancro do ovário. É possível? Falámos com uma médica

A médica oncologista Cristiana Marques, esclarece uma das principais dúvidas das mulheres.

Ser mãe depois de um cancro do ovário. É possível? Falámos com uma médica
Notícias ao Minuto

08:50 - 23/02/23 por Ana Rita Rebelo

Lifestyle Entrevista

Há tipos de cancros que podem comprometer a fertilidade da mulher, nomeadamente os ginecológicos. Altamente 'silencioso', o cancro do ovário afeta cerca de 600 mulheres por ano em Portugal e tem associada uma elevada taxa de mortalidade. Até 2035, prevê-se, em todo o mundo, um aumento de 55% nos casos e mais 67% de mortes. 

O que está a falhar? Os sintomas nem sempre levantam suspeitas, o que faz com que  oito em cada 10 casos sejam descobertos numa fase avançada, muitas vezes com metástases.  Foi a pensar nisso que, no final de janeiro, a associação Movimento Cancro do Ovário e outros Cancros Ginecológicos, a Associação Evita e a Associação de Enfermagem Oncológica Portuguesa lançaram um guia gratuito sobre cancro do ovário e os sinais que o corpo dá.

"O cancro do ovário e o seu tratamento podem ser muito desafiantes em todas as esferas da vida da mulher", lembra a médica oncologista Cristiana Marques, em entrevista ao Lifestyle ao Minuto. No entanto, isto não significa que uma mulher em idade fértil não possa engravidar ou sequer acalentar essa esperança. "A remoção cirúrgica do ovário e da trompa apenas do lado afetado pode ser uma solução para as mulheres mais jovens que ainda desejem uma gravidez futura."

Notícias ao Minuto © Cristiana Marques

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Em que consiste o cancro do ovário?

O cancro do ovário corresponde a uma proliferação não controlada das células deste órgão com crescimento e invasão de estruturas próximas ou à distância. 

Como se classifica e quais os subtipos mais frequentes? 

Dependendo da célula que origina o tumor, podemos ter cancro do ovário epitelial (origem no tecido epitelial) ou estromal (origem células germinativas ou estroma). O cancro do ovário epitelial é o mais frequente, e dentro deste grande grupo o subtipo mais frequente é o seroso de alto grau. Existem outros subtipos, como o endometrióide, o células claras, o mucinoso e o seroso de baixo grau. É extremamente importante caracterizarmos o subtipo de cancro do ovário para que seja definido o melhor tratamento.

É um cancro com uma rápida metastização? 

O subtipo mais frequente do cancro do ovário, o seroso de alto grau, tem rápida metastização, sobretudo para os órgãos pélvicos e para o peritoneu. Estes são geralmente os primeiros locais de metastização. 

O cancro do ovário não é tão comum como o da mama, por exemplo, mas a verdade é que, no ano passado, era a oitava causa de morte por doença oncológica na mulher em todo o mundo. Quer isto dizer que é uma doença bastante letal, sobretudo por ser um dos cancros mais difíceis de diagnosticar. A que se deve essa realidade?

O cancro do ovário é uma doença 'silenciosa', no sentido em que quando existem sintomas temos geralmente um cancro avançado. Como não existe um método de rastreio eficaz, o diagnóstico é caracteristicamente em estádios mais avançados com consequente compromisso no prognóstico, pois quanto mais precoce é o diagnóstico, melhor é o prognóstico. 

O cancro do ovário pode ser confundido, inicialmente, com a patologia benigna do foro gastrointestinal ou genito-urinário

Atualmente, qual a incidência do cancro do ovário no mundo e em Portugal? Em que faixas etárias é mais comum?

O cancro de ovário é o quinto tipo de cancro mais comum em mulheres. O risco estimado ao longo da vida para uma mulher desenvolver cancro de ovário é de cerca de um em 54. Todos os anos, em Portugal, são diagnosticados cerca de 600 novos casos. O cancro do ovário é diagnosticado geralmente após os 50 anos, mas há exceções, nomeadamente nas doentes com síndromes de predisposição hereditária para o cancro, que ocorrem geralmente em idades mais jovens. 

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Até 2035, prevê-se que a incidência mundial sofra um aumento de 55% e que a mortalidade dispare 67%. Ainda estamos a tempo de mudar estas previsões? 

A investigação científica na área de oncologia, tem tido um crescimento enorme nos últimos anos, refletindo-se em tratamentos progressivamente mais eficazes e melhor tolerados. Também há muita investigação a decorrer para identificação precoce, pelo que o cenário pode ser diferente do esperado se não existirem novidades científicas. Neste entretanto, é fundamental cada um de nós agir ativamente pela manutenção da sua própria saúde, pela alimentação saudável, pelo exercício físico e pela manutenção das rotinas médicas.

Neste momento, qual a percentagem de casos em que a doença é diagnosticada numa fase precoce?

Atualmente, apenas cerca de 20 a 30% dos casos são diagnosticados em estádios precoces. 

Apesar de se tratar de uma doença frequentemente assintomática em fases iniciais, quais os sinais a que as mulheres devem estar atentas?

Os sintomas aos quais as mulheres devem estar atentas e que devem motivar avaliação médica são: distensão abdominal persistente, enfartamento precoce, perda de apetite, dor abdominal, sintomas urinários (como a frequência ou urgência urinária), alteração do trânsito intestinal (diarreia ou obstipação), a fadiga extrema e a perda de peso.

Com que outras patologias se pode confundir?

O cancro do ovário pode ser confundido, inicialmente, com a patologia benigna do foro gastrointestinal ou genito-urinário. Contudo, a persistência dos sintomas, deve motivar sempre uma avaliação dirigida a outras etiologias, nomeadamente o cancro ginecológico. 

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Um estudo realizado no Reino Unido demonstrou que, pelo menos, dois terços das mulheres não estariam a par dos sintomas de cancro do ovário. Este cenário é extrapolável à realidade portuguesa?

Sim. O cancro do ovário é um tumor pouco frequente, pouco falado nos canais de comunicação e, como tal, menos conhecido pelo público em geral. Daí a importância de se divulgar informação sobre esta temática. 

Quais as causas do cancro do ovário? Tem origem hereditária? 

A causa exata do cancro de ovário permanece desconhecida, mas estão identificados alguns fatores de risco, como a idade, a obesidade, a menarca precoce, a menopausa tardia, o baixo número de gestações e a história familiar.  Cerca de 10-20% dos cancros do ovário associam-se a uma síndrome de predisposição familiar para o cancro.

O que podem as mulheres fazer para prevenir esta doença nos casos em que a origem é, digamos, aleatória? É verdade que a utilização de contracetivos orais ou a amamentação, por exemplo, podem prevenir o desenvolvimento desta doença?

Ter um peso corporal adequado e um estilo de vida ativo, com a prática regular de exercício físico, é fundamental para a prevenção de muitas doenças oncológicas. A amamentação e o uso de anticoncepcional oral também são protetores do cancro do ovário. Nas famílias portadoras de mutação no gene que aumenta a suscetibilidade para cancro do ovário ao longo da vida (por exemplo: BRCA1/2), após o cumprimento do plano familiar, é-lhes proposta a cirurgia redutora de risco, nomeadamente a ooforectomia (remoção dos ovários).

Faz sentido existir um rastreio para qualquer cancro e por isso é que continua a haver investigação científica nesta área

Quanto ao tratamento, que opções estão disponíveis além da cirurgia?

Os tratamentos existentes no caso do cancro do ovário, além da cirurgia, são a quimioterapia, inibidores da PARP (poliadenosina difosfato ribose polimerase) e anti-angiogénicos. 

As mulheres que têm um cancro do ovário poderão ser mães? Como preservar a fertilidade destas mulheres? 

O diagnóstico do cancro do ovário em idade mais jovem pode acarretar desafios acrescidos. A remoção cirúrgica do ovário e da trompa apenas do lado afetado pode ser uma solução para as mulheres mais jovens que ainda desejem uma gravidez futura, dependendo das características do tumor. No entanto, as sobreviventes de cancro do ovário devem remover o ovário e a trompa remanescentes e o útero, completando a cirurgia após terminarem o planeamento familiar. Esta trata-se de uma situação que requer uma avaliação clínica minuciosa e um diálogo estreito entre o doente e o profissional de saúde.

Quais os desafios que esta doença oncológica apresenta e de que forma é que altera a rotina das mulheres?  

O cancro do ovário e o seu tratamento podem ser muito desafiantes em todas as esferas da vida da mulher, quer seja física, psicológica, social, conjugal ou económica. Desde obrigar a interromper as rotinas, ao confronto com a finitude e ao início de um percurso com múltiplas visitas ao hospital, tratamentos com efeitos secundários, frequentemente com diminuição dos rendimentos, etc. Por isso, as doentes devem procurar redes de apoio na família e na sociedade (associações de doentes), bem como apoio psicológico e dos serviços sociais, nos cuidados de proximidade ou no centro onde são seguidas, para que tenham o apoio necessário para ultrapassarem esta fase. A rede de apoio deve ser mantida no pós-tratamento para que, na eventualidade de surgirem sequelas, consigam lidar com a situação da melhor forma possível.

Como apoiá-las da melhor forma?

Para lidar melhor com o cancro do ovário, é importante que as mulheres tenham confiança nas equipas que as assistem, idealmente, em centros de referência e com experiência. O apoio dos cuidadores e da família, bem como o contacto próximo com os cuidados de saúde primários, deve ser privilegiado, para que as doentes sejam referenciadas para as unidades oncológicas, sempre que necessário, durante o tratamento ou na fase do seguimento.

No seu entender, faz sentido um rastreio para o cancro do ovário?

Faz sentido existir um rastreio para qualquer cancro e por isso é que continua a haver investigação científica nesta área. Infelizmente, todos os estudos publicados até ao momento, utilizando os exames existentes, mostraram ser ineficazes para o rastreio do cancro do ovário. 

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