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Dia Europeu do Ex-Fumador: "Vale sempre a pena deixar de fumar"

A 26 de setembro, assinala-se o Dia Europeu do Ex-Fumador, por isso, falámos com António Bugalho, médico pneumologista nos hospitais CUF e professor na NOVA Medical School, em Lisboa.

Dia Europeu do Ex-Fumador: "Vale sempre a pena deixar de fumar"

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o tabagismo provoca, anualmente, em todo o mundo, cerca de cinco milhões de mortes. Como a 26 de setembro se assinala o Dia Europeu do Ex-Fumador, falámos com António Bugalho, médico pneumologista nos hospitais CUF e professor na NOVA Medical School, em Lisboa, sobre as vantagens de parar de fumar e como o fazer. 

Ao Lifestyle ao Minuto, o especialista garante que "vale sempre a pena deixar de fumar", salientando que ao parar de fumar se sentem benefícios imediatamente, que vão aumentando, gradualmente, ao longo dos anos. 

Aliás, segundo a Direção Geral de Saúde, diversos estudos mostram que os fumadores morrem cerca de 10 anos mais cedo do que as pessoas que nunca fumaram. No entanto, aqueles que conseguem parar, podem conseguir recuperar os anos de vida potencialmente perdidos devido ao tabaco e diminuir, significativamente, o risco de morte prematura.

Além disto, o médico fala da importância de procurar ajuda, quando se quer parar, assim como sobre o fenómeno dos cigarros eletrónicos e tabaco aquecido. 

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Deixar de fumar? "Vantagens são múltiplas e variadas. (...) Em termos de saúde (...) e estéticas. Os dentes não ficam tão deteriorados e tão amarelos. Não há um envelhecimento tão precoce da pele, as unhas não ficam tão danificadas pela nicotina e pelos outros constituintes do tabaco

Quais são as vantagens de parar de fumar? 

As vantagens são múltiplas e variadas. Em termos de saúde, que são aquelas mais faladas, a pessoa imediatamente quando deixa de fumar - passado 20 minutos -, fica com os níveis de monóxido de carbono mais baixos, quer a nível do ar que deitam fora, quer a nível do sangue. Mais ou menos, passado duas a três horas, a pressão arterial normaliza; passado um mês, começam a recuperar a sua capacidade respiratória. Depois, à medida que os anos vão passando, vai-se diminuindo o risco de um conjunto de doenças, nomeadamente, as cardiovasculares e as pulmonares, assim como o risco de neoplasias. O tabaco está associado a neoplasia da cabeça e pescoço, do pulmão, da bexiga e, à medida que os anos passam, desde que a pessoa deixou de fumar, o que vai acontecendo é que o risco dessas neoplasias vai diminuindo gradualmente. Ao final de mais ou menos 10 a 12 anos o risco de cancro do pulmão assemelha-se muito, apesar de ser sempre um bocadinho mais elevado, ao de um nunca fumador. 

Depois existem outras vantagens em termos estéticos. Os dentes não ficam tão deteriorados e tão amarelos. Não há um envelhecimento tão precoce da pele, as unhas não ficam tão danificadas pela nicotina e pelos outros constituintes do tabaco. 

Notícias ao Minuto Dr. António Bugalho© DR  

Há também vantagens económicas, ou seja, a pessoa poupa dinheiro, porque o tabaco é um produto relativamente caro e que causa dependência. Como tal, há sempre uma valia, há sempre benefícios em deixar de fumar. 

Outro conceito que é fundamental perceber é que vale sempre a pena deixar de fumar. Quanto mais cedo se deixa de fumar, maior é o ganho, mas vale sempre a pena. Se a pessoa tiver que ser operada a qualquer coisa, o risco cirúrgico é sempre muito maior nas pessoas que fumam, comparativamente às pessoas que não fumam. Mesmo nas pessoas que já têm cancro, a resposta aos tratamentos, atualmente, é melhor nas pessoas que deixaram de fumar, comparativamente a pessoas que mantêm hábitos tabágicos. 

São muito poucos os fumadores dependentes que se conseguem transformar em fumadores ocasionais.

O que é preciso fazer para deixar de fumar? 

O primeiro passo é a pessoa querer. Não há milagres, no sentido em que se a pessoa não quiser, por muita ajuda que tenha, por muitas restrições que existam, arranja sempre uma forma de fumar. Há pessoas que deixam sozinhas e o conseguem fazer com sucesso, no entanto, é um número muito baixo, cerca de 6% a 10%. O tabaco acaba por criar uma dependência muito grande e quando as pessoas não fumam entram numa coisa chamada sintomas de abstenção. Têm pensamentos recorrentes com o tabaco, dormem mal, estão sempre a pensar na mesma coisa, ficam com maior irritabilidade e ansiedade. Tudo isso está associado à dependência nicotínica. A pessoa até pode estar motivada, mas perante estes sintomas, que tornam o seu dia a dia difícil, acaba por recair. 

Algumas pessoas pensam que ao substituir o seu tabaco normal por outros tipos de tabaco estão mais protegidas e que isso até pode facilitar o ato de deixar de fumar. Nós sabemos que isto também não é bem verdade

No caso da pessoa não o conseguir sozinha deve procurar ajuda e neste momento qualquer profissional de saúde está apto para o fazer. A estratégia que é mais eficaz é motivacional e de mudança de hábitos. Habitualmente, a redução não é eficaz, ou seja, uma pessoa que fuma 20 cigarros, por dia, e começa a fumar dois ou três, não consegue parar. Não resulta porque vai haver sintomas de dependência nicotínica e a pessoa começa a sentir vontade novamente de fumar e aumentar o seu consumo. São muito poucos os fumadores dependentes que se conseguem transformar em fumadores ocasionais. Isso, praticamente, não existe. Há estratégias que envolvem que a pessoa defina um dia para deixar de fumar e o comunique à sua família e aos seus amigos. Normalmente, é mais fácil, para as pessoas que fumam mais de 10 cigarros por dia, deixar de fumar com auxílio de medicação. Existem vários tipos como comprimidos, sprays e pastilhas. Como é muito variável consoante o grau de dependência, a pessoa, o tipo de tabaco fumado e outros fatores, pode haver interferência, portanto o melhor é consultar um profissional de saúde que o ajude nesse processo. 

Algumas pessoas pensam que ao substituir o seu tabaco normal por outros tipos de tabaco estão mais protegidas e que isso até pode facilitar o ato de deixar de fumar. Nós sabemos que isto também não é bem verdade. Mesmo que a pessoa escolha cigarros com filtro, com menor conteúdo de nicotina, com menor conteúdo de alcatrão, vaporizadores ou até cigarros eletrónicos. Isso acaba por perpetuar grande parte da dependência, sendo essa dependência física e psicológica, porque todos os produtos contém nicotina. 

Grande parte dos estudos científicos e dessa publicidade que o tabaco aquecido acaba por ser melhor foi veiculada por quem o vende

Os cigarros eletrónicos e o tabaco aquecido, muito popular nos dias de hoje, são uma alternativa menos prejudicial?

Grande parte dos estudos científicos e dessa publicidade que o tabaco aquecido acaba por ser melhor foi veiculada por quem o vende. Portanto, nessa perspetiva, acaba por ser uma falácia, quem o vende diz que ele é bom. Mas, há aqui vários constituintes, primeiro, os estudos científicos que foram feitos de uma forma independente provam que esse tabaco aquecido, também tem malefícios. Segundo, nós não conhecemos ainda, todas as características desse tabaco, o que faz com que seja um risco. Por exemplo, nós tivemos a nível mundial, nos Estados Unidos, pessoas que morreram graças aos vaporizadores. Nós também não sabemos que efeito é que isso vai ter em termos futuros, em relação a determinados cancro, nomeadamente, ao do pulmão. 

No final da década de 70, surgiram cigarros com filtro e também se dizia que eram muito mais seguros, porque o filtro filtrava as partículas. O que nós percebemos, passado mais ou menos 30 anos, é que entre outras coisas, o perfil de cancro mudou. As partículas são mais pequenas, mais finas, acabando por se depositar a nível mais periférico no pulmão e, enquanto antigamente, tínhamos cancros mais centrais, agora temos cancros mais periféricos. Aquela noção que foi passada, aos fumadores, que estavam mais seguros, porque havia filtro, acaba no final de 30 anos por ser errónea. Porque há tantos ou mais cancros hoje, comparativamente ao passado. 

Depois há outra coisa, estes vaporizadores e cigarros eletrónicos não se destinam a substituir o cigarro tradicional. Pessoas que já fumaram 20, 30, 40 anos de cigarro tradicional sentem a diferença e vão manter o seu cigarro. Algumas pessoas até podem fazer essa mudança, a pensar que estão a fazer uma coisa mais segura, que foi veiculada por quem o vende. Isto acaba por se tornar mais apelativo para gerações mais novas que mesmo não estando muito interessadas no cigarro normal, podem ser atraídas por gadgets e coisas que são atribuídas a um determinado estatuto, e que até tenho epíteto de ser seguras. O objetivo é captar uma nova franja da população de forma a perpetuar as vendas. São estratégias de marketing que resultam quando são bem implementadas, mas que depois podem ter efeitos graves, em termos de saúde. É importante perceber que, em Portugal, a percentagem de fumadores desse tipo de cigarros ainda é relativamente baixa, mas noutros países, como nos Estados Unidos, já existe uma muito mais importante percentagem de fumadores de cigarros eletrónicos. O que antecipa, em termos futuros, determinadas dificuldades, sobretudo em termos de saúde pública, uma vez que o nosso objetivo não é que as pessoas se tornem ex-fumadores, mas sim que sejam nunca fumadores. A prevenção primária seria sem dúvida mais eficaz. Nunca começar a fumar é o ideal, quem começa a fumar, o ideal é sempre cessar o mais rapidamente possível. 

Em média, cada fumador tem cerca de cinco recaídas, quando faz tentativas sérias para deixar de fumar.Depois de parar de fumar quais são os sintomas mais comuns provocados pela abstinência? 

Existe uma dependência que é física e um dependência que é psicológica. Habitualmente, a física dura as primeiras semanas, já a psicológica é muito mais duradoura. Normalmente, as pessoas têm uma vontade irresistível de fumar, porque faz com que se sintam mais tranquilas, sentindo-se melhor com elas próprias. Porque a nicotina, a partir do momento em que a pessoa fuma o cigarro, chega ao cérebro e preenche os recetores nicotínicos, a nível cerebral, em mais ou menos 10 segundos. Portanto, há logo uma sensação de recompensa, que é imediata. Quando a pessoa não fuma há maior irritabilidade, ansiedade, pode haver insónias, alterações do estado do humor, dores abdominais, sensação de mau estar geral e sobretudo aquilo a que os ingleses chamam de 'craving' - a vontade irresistível de fumar. Portanto, a pessoa sente-se tão mal que acaba por fumar, para deixar de se sentir mal. 

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O que se deve fazer no caso de uma recaída? 

Em média, cada fumador tem cerca de cinco recaídas, quando faz tentativas sérias para deixar de fumar. Não é por uma pessoa ter uma recaída que não o podemos ajudar. A ideia é, mesmo que a pessoa tenha uma recaída, deve continuar a procurar ajuda e deve continuar a fazer determinadas estratégias, no sentido de se tornar um ex-fumador. O facto de ter um ato falho, não faz com que a pessoa deva desistir, pelo contrário, faz com que aprenda com os seus erros, saiba como os pode corrigir e identifique barreiras que não tinha identificado anteriormente. Isso pode tornar essa pessoa mais forte numa futura tentativa para deixar de fumar. 

Em que situações se deve considerar necessário marcar uma consulta de cessação tabágica? 

Deve ser marcada por todas as pessoas que querem deixar de fumar e que não o conseguem fazer sozinhas. Assim como por pessoas que têm muitos sintomas de dependência ou que têm determinadas doenças que tornam mais difícil deixar de fumar. Uma grávida que quer deixar de fumar, mas não o consegue sozinha, pode ser um motivo para uma consulta. Alguém que teve uma doença grave, por exemplo, um enfarte do miocárdio e é fumador, está a tentar deixar de fumar, mas os sintomas são muito marcados. Alguém que começa a pensar nisso e não sabe bem como o deve fazer sozinho também pode procurar uma consulta. Às vezes nem é preciso uma consulta de cessação tabágica, basta falar com o profissional de saúde, depois o próprio pode fazê-lo ou encaminhá-lo. 

Neste momento, existem estratégias nutricionais, assim como alguns medicamentos, que ajudam a tirar parte do apetite aumentado.

Muitas pessoas preocupam-se com o aumento de peso, após deixar de fumar, isto é realmente uma preocupação verdadeira? Como é que pode ser evitada? 

Há vários fatores, por um lado, a nicotina é discretamente anoréxica, tira parte do apetite. Por outro lado, a nicotina também diminui o olfato, portanto quando as pessoas deixam de fumar, pode haver um discreto ganho que está calculado em cerca de três ou quatro quilos. Entre outras coisas, como têm um maior olfato, ou seja, mais cheiro a comida pode-lhes saber melhor. Mas também é fundamental que isto não seja uma barreira para as pessoas deixarem de fumar. Neste momento, existem estratégias nutricionais, assim como alguns medicamentos, que ajudam a tirar parte do apetite aumentado. Tudo isto faz com que a pessoa, com uma alimentação cuidada, exercício físico de forma regular e, juntamente, com medicação possa conseguir, perfeitamente, controlar o seu peso.

As terapias com medicamentos são sempre aconselhadas? Ou são para casos mais específicos? 

As terapias com medicamentos podem aumentar o sucesso. Estão, sobretudo, preconizadas em pessoas que são grandes fumadoras que, por exemplo, quando acordam fumam o primeiro cigarro, num espaço de 30 minutos, ou que fumam mais de 10 cigarros, por dia. São pessoas que já sabemos que vão ter uma maior dificuldade e que possivelmente vão ter mais sintomas de privação e, nessa altura, faz sentido fazer medicação. Existem medicamentos de venda livre, como os substitutos de nicotina, as pastilhas, as gomas e os adesivos, mas na maioria dos casos diria que é mais eficaz fazer-se um programa mais estruturado porque as pessoas têm dúvidas. Assim podem ter maior insucesso. Quando as pessoas têm dúvidas o conselho é que sejam avaliados por um profissional de saúde que os ajude nesse sentido. 

Então, os medicamentos de venda livre podem nem sempre resultar… 

A pessoa, por exemplo, compra uns adesivos, usa e continua a fumar, isto está completamente contraindicado. A partir do momento em que a pessoa coloca o adesivo é suposto que essa nicotina, seja libertada pela pele, para o nosso organismo, para que a pessoa não fume. Ao fazê-lo está a aumentar ainda mais a doses de nicotina. Com isso pode sentir efeitos secundários quer do próprio ato de fumar, quer das medicações. Há conselhos que têm de ser dados por um profissional de saúde que pode ser, numa fase inicial, um farmacêutico, um enfermeiro ou um médico de medicina geral e familiar. Depois, se as pessoas têm mais dúvidas, convém serem avaliadas por alguém na área e numa consulta de cessação tabágica estruturada. 

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