Uma intoxicação alimentar é uma consequência da ingestão de toxinas ou dos agentes patogénicos que as produzem através do consumo de alimentos contaminados. Estas toxinas são produzidas por bactérias e alguns fungos quando se lhes oferecem as condições idóneas, e é assim mais frequente acontecer após o consumo de alimentos, sólidos ou líquidos, fora de prazo de validade, mal embalados ou que não sejam armazenados nas condições de temperatura e humidade adequadas à sua conservação.
Pouco tempo após o consumo dos alimentos contaminados (normalmente menos de 24 horas) surgem os sintomas: náuseas, vómitos, diarreia, desconforto abdominal e até mesmo febre. São, de uma forma geral, situações autolimitadas e o maior risco no decurso da doença é a desidratação.
Porque é mais comum no verão? Precisamente porque nesta altura do ano, as condições meteorológicas e nomeadamente o calor propiciam o desenvolvimento destes microorganismos.
A prevenção passa por consumir alimentos frescos e pouco processados, bem lavados e higienizados, adequadamente cozinhados (nomeadamente ovos, carne e marisco) e respeitando sempre as suas datas de validade. Armazenar os alimentos nas condições adequadas de refrigeração (frigorífico abaixo do 4.4ºC e congelador abaixo dos -18ºC). Manter uma higiene adequada das mãos, sobretudo após procedimentos como despejar o lixo, mudar fraldas, utilizar a casa de banho, assoar o nariz, tocar nos animais. Higienizar os utensílios de cozinha após estarem em contacto com o marisco ou carne crua.
Quais são os sinais de alerta que devem motivar a procura de ajuda médica?
- Presença de sangue nas fezes ou no vómito;
- Febre superior a 38.5 graus que não cede com os antipiréticos ou que se mantém após 24 horas;
- Dor abdominal severa e sobretudo se for localizada;
- Mais de seis dejecções diarreicas nas últimas 24 horas;
- Se existirem sinais de desidratação - tonturas, confusão mental, muita sede, boca e mucosas secas, não urinar há mais de cinco horas ou notar a urina muito concentrada e escura;
- É necessário ter especial atenção a crianças, idosos e pessoas com comorbidades pelo maior risco de desidratação.
A maioria destas situações são autolimitadas e têm um curso benigno. O tratamento propriamente dito das intoxicações alimentares é sintomático, na maioria dos casos, e passa sobretudo por repor os líquidos corporais que se perdem com a diarreia, a febre e os vómitos. Guardar repouso, evitar o calor e beber água ou soluções de reidratação oral em quantidade moderada várias vezes ao dia. Devem ser vigiados os sinais de alerta que, no caso de surgirem, devem motivar a procura de ajuda médica.
Se necessário, pode então ser-lhe prescrito tratamento farmacológico com recurso a anti-diarreicos, anti eméticos (anti-vómitos) além dos analgésicos (para tratar a dor) e antipiréticos (para tratar a febre) sempre que sejam necessários.
Nos casos em que se atinge um ponto de desidratação grave poderá estar indicado a reposição de líquidos em contexto hospitalar. Apenas em casos muito selecionados pode estar indicada a terapêutica com recurso a antibióticos.
Provavelmente já viveu ou já ouviu alguma história sobre aquele piquenique de verão onde alguém levou uma maionese de peixe ou aquele doce de natas e que umas horas depois estava a família toda a vomitar. É importante escolher bem: o que come e onde o come nesta época solarenga. Já dizia o grego Hipócrates, pai da medicina que 'o teu alimento seja o teu medicamento', uma frase com 2500 anos mas que continua a fazer sentido aplicar nos nossos dias.
*Artigo assinado por Luis Bismarck, coordenador de medicina geral e familiar no Hospital CUF Torres Vedras
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