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Exercício físico pode evitar ou atrasar aparecimento de Parkinson

A propósito do Dia Mundial da Doença de Parkinson, que se assinala esta segunda-feira, a 11 de de abril, Joaquim Ferreira, professor de Neurologia e Farmacologia Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e director Clínico do Campus Neurologico Senior (CNS), e com Ana Castro Caldas, coordenadora clínica do CNS, explicaram ao Lifestyle ao Minuto tudo o que há a reter sobre esta perturbação cerebral.

Exercício físico pode evitar ou atrasar aparecimento de Parkinson
Notícias ao Minuto

09:25 - 11/04/22 por Ana Rita Rebelo

Lifestyle Dia Mundial da Doença de Parkinson

A doença de Parkinson, a patologia neurodegenerativa mais prevalente a seguir ao Alzheimer, afeta já cerca de 20 mil portugueses e estima-se que nos próximos 30 anos este número possa duplicar. O alerta é deixado por  Joaquim Ferreira e Ana Castro Caldas, neurologistas do Campus Neurologico Senior.

Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, os especialistas reconhecem que a Covid-19 atrasou a referenciação de doentes, os tratamentos e consequentemente, provocou um "agravamento das queixas de ansiedade e sintomas depressivos, devido ao período difícil vivido pelos doentes e as suas famílias". Os doentes com Parkinson em fase avançada já não conseguem controlar os seus sintomas através de fármacos orais convencionais e dependem de terapêuticas avançadas. Neste momento "o melhor tratamento para a doença inclui uma abordagem multidisciplinar", defendem.

Os peritos acrescentam que "é cada vez mais recomendado que todas as pessoas realizem exercício físico". "Pensa-se que a melhor estratégia para evitar ou atrasar o seu aparecimento seja a realização de atividade física regular", explicam Ana Castro Caldas e Joaquim Ferreira.

O que é o Parkinson?

Joaquim Ferreira (JF): É uma doença neurológica frequente, que resulta da diminuição de uma substância no cérebro chamada dopamina e que se caracteriza por causar uma lentidão dos movimentos.

Infelizmente não existe nenhum tratamento que cure a doença ou atrase a sua progressão

Em Portugal, estima-se que existam quantas pessoas diagnosticadas com a doença?

JF: Os dados disponíveis sugerem que existem em Portugal cerca de 20 mil doentes. Contudo, estima-se que nos próximos 30 anos este número possa duplicar.

Notícias ao Minuto Joaquim Ferreira© DR

A pandemia veio agravar a situação destes doentes?

JF: Sim. E este agravamento deveu-se à maior dificuldade de acesso a consultas de medicina geral e neurologia, à diminuição ou suspensão das sessões de fisioterapia e de terapia da fala, à menor atividade física e social em virtude do confinamento e ao agravamento das queixas de ansiedade e sintomas depressivos, devido ao período difícil vivido pelos doentes e as suas famílias.

A doença manifesta-se a partir de que idade?  

JF: Tende a surgir depois dos 55 anos. Contudo, embora seja menos frequente, existem doentes que começam com a doença antes dos 40 anos.

É possível evitá-la?

JF: Infelizmente não existe nenhum tratamento que cure a doença ou atrase a sua progressão. Também não existe nenhum tratamento que possa evitar ou atrasar o seu início. Pensa-se que a melhor estratégia para evitar ou atrasar o seu aparecimento seja a realização de atividade física regular. Desta forma, é cada vez mais recomendado que todas as pessoas realizem exercício físico.

Quais as diferenças entre a tradicional doença de Parkinson, a doença de Parkinson com início precoce e o Parkinson juvenil, ou parkinsonismo?

JF: A doença de Parkinson dita tradicional começa mais frequentemente depois dos 55 anos. Quando a doença começa antes dos 40 anos é mais frequente encontrar alterações genéticas nestes doentes. Por outro lado, nas pessoas mais novas a doença tende a ser mais benigna, progredir mais lentamente e provoca menos alterações cognitivas. Em contrapartida podem desenvolver mais frequentemente movimentos involuntários (discinesias) e a alternância entre momentos em que a medicação faz efeito e em que a medicação não faz efeito. O termo parkinsonismo é muitas vezes utilizado para designar outras doenças denominadas mais corretamente por síndromas parkinsónicos atípicos. Estes síndromas atípicos, como atrofia multissistémica e paralisia supranuclear progressiva, são doenças que, numa fase inicial, podem assemelhar-se à doença de Parkinson, mas que com a sua progressão desenvolvem sintomas mais graves e mais difíceis de tratar.

Além dos tremores, existem alterações associadas à doença de Parkinson que, por vezes, surgem décadas antes do aparecimento da sintomatologia motora. Nesse sentido, a que sintomas devemos estar atentos?

JF: Hoje sabemos que anos antes do início dos sintomas que levam ao diagnóstico, os doentes podem apresentar obstipação (prisão de ventre), diminuição do olfato, sonhos vívidos (encenar os próprios sonhos, frequentemente pesadelos) e diminuição do humor (sintomas depressivos). Embora não haja dúvidas de que estes sintomas já estão associados à doença, são pouco específicos, pelo que a sua presença por si só não permite fazer o diagnóstico.

Que sinais de alerta podem passar despercebidos ou ser confundidos?

JF: Os sinais de alerta que devem levar alguém ao médico incluem o início queixas de tremor numa das mãos ou perna, a lentidão de movimentos, a diminuição do balanceio de um braço, o arrastar de uma perna ou a alteração da escrita com a letra a ficar mais pequena. 

O melhor tratamento para a doença inclui uma abordagem multidisciplinar

Embora as causas da doença sejam desconhecidas, existem fatores de risco. Quais são?

JF: O principal fator de risco para a doença de Parkinson é a idade. Há um pequeno grupo de doentes (< 10%) em que são encontradas alterações genéticas que podem causar ou aumentar o risco para desenvolver a doença. Embora ao longo dos anos tenham sido sugeridos outros fatores de risco para a doença, como os pesticidas, não está demonstrado que sejam causa da doença.

Uma vez que não existe cura, de que forma se pode minimizar o impacto da doença? Que alternativas existem à terapêutica farmacológica?

Ana Castro Caldas (ACC): O melhor tratamento para a doença inclui uma abordagem multidisciplinar. Isto significa ser acompanhado por um neurologista com experiência no acompanhamento de doentes com doença de Parkinson e que prescreverá os tratamentos farmacológicos mais adequados, conjuntamente com a manutenção de uma atividade física regular e a realização dos tratamentos de reabilitação considerados benéficos ,nomeadamente a fisioterapia, a terapia da fala, entre outros. Nesta abordagem multidisciplinar incluem-se também outros profissionais de saúde como os terapeutas ocupacionais, nutricionistas, psiquiatras, psicólogos e enfermeiros.

Notícias ao Minuto Ana Castro Caldas© DR

Quais as terapêuticas existentes?

ACC: A doença de Parkinson é uma doença tratável. Felizmente existem múltiplos medicamentos altamente eficazes para o tratamento da doença. O tratamento mais eficaz e seguro continua a ser a levodopa. Existem contudo, muitos outros tratamentos farmacológicos que são também eficazes e a abordagem farmacológica da doença deve ser realizada por neurologistas com experiência no tratamento desta doença.

E em que consiste o tratamento cirúrgico? 

ACC: O tratamento cirúrgico mais frequente é a cirurgia de estimulação cerebral profunda. É uma abordagem terapêutica altamente eficaz nos doentes que reúnem os critérios para a sua realização. Apenas uma pequena percentagem de doentes, vêm, ao longo da doença, a ser considerados bons candidatos para a cirurgia.

É uma opção segura?

ACC: Embora seja uma intervenção terapêutica segura, existe sempre um pequeno risco de poderem ocorrer complicações (<2%). É por esta razão que esta opção só é colocada nos doentes em que a abordagem farmacológica já não garante uma boa qualidade de vida.

A doença de Parkinson não é diagnosticada só aos mais velhos. Nesse sentido, consideram que os mais jovens deveriam ter uma resposta diferenciada?

ACC: Não considero que haja necessidade de os doentes mais novos terem acesso a uma resposta diferente. Porém, a doença manifesta-se de forma diferente nos doentes que começam com sintomas em idades mais jovens e, desta forma, a competência da equipa de profissionais que acompanham estes doentes assume ainda maior relevância. Num estádio inicial é importante a promoção da autonomia e do estilo de vida saudável. Em estádios mais avançados, os cuidadores têm um papel fundamental

Quais os principais receios e dificuldades relatos por quem vive com esta doença?

ACC: O principal receio partilhado pelos doentes é o risco do agravamento da doença no futuro e da dependência de terceiros. Uma das questões mais frequentemente colocada, ou pensada, mas que não é dita, é a pergunta sobre o que vai acontecer no futuro e o que devem esperar.

Como é que se pode facilitar o dia a dia destes doentes?

ACC: O que mais pode facilitar o dia a dia dos doentes é o conhecimento da doença por parte daqueles que os rodeiam. Esta é uma doença intrigante, flutuante e muitas vezes não compreendida por quem está ao lado dos doentes. Desta forma, assume particular importância a educação de toda a comunidade que envolve os doentes sobre as características e as especificidades desta doença.

Qual o papel da família e dos cuidadores?

ACC: Embora seja possível que um doente se mantenha ativo e autónomo durante muitos anos, muitos doentes apresentam, ao fim de algum tempo, uma perda de autonomia e uma dependência de outros. Desta forma, assume extrema relevância o apoio da família e dos cuidadores. Da mesma forma que a doença de Parkinson é dinâmica e vai progredindo, os cuidados e as necessidades vão sendo diferentes ao longo da progressão da doença. Num estádio inicial é importante a promoção da autonomia e do estilo de vida saudável. Em estádios mais avançados, os cuidadores têm um papel fundamental na estabilidade, cuidados diários e prevenção de complicações como as quedas, alimentação e tomas de medicação.

A doença de Parkinson não tem obrigatoriamente de evoluir para um declínio cognitivo e demência, tal como sucede na doença de Alzheimer

Quais os principais mitos associados à doença?

ACC: Há vários. Um dos mais frequentes é associar o Parkinson a uma doença que inevitavelmente leva os doentes a ficarem confinados a uma cadeira de rodas. Não é verdade e não tem de acontecer. Um outro erro frequente é pensar que a doença de Parkinson e a doença de Alzheimer são a mesma doença ou que são parecidas. É importante clarificar que a doença de Parkinson não tem obrigatoriamente de evoluir para um declínio cognitivo e demência, tal como sucede na doença de Alzheimer.

Leia Também: Lançada associação para ajudar doentes com Parkinson juvenil

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