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Podemos falar de menstruação? 

"Evitar a palavra 'menstruação' espelha o evitamento coletivo de diversas questões. Não é a palavra que gera preocupação em quem faz um trabalho de educação sexual e menstrual, é o peso social que esta negação tem", afirma Beatriz Pires, psicóloga, educadora menstrual em formação e criadora de conteúdo digital, num artigo de opinião partilhado com o Lifestyle ao Minuto.

Podemos falar de menstruação? 
Notícias ao Minuto

07:30 - 01/04/22 por Notícias ao Minuto

Lifestyle Artigo de opinião

Somos educadas para ser discretas e reservadas. Quando se trata de menstruação, a imposição desse comportamento torna-se ainda mais forte. Ouvimos e repetimos, sem questionar, frases como 'joga o Benfica', 'estou naquela altura do mês', 'estou com o Chico'; aplicou-se, até, a palavra 'período', também dita com timidez, para designar a menstruação.

Evitar a palavra 'menstruação' espelha o evitamento coletivo de diversas questões. Não é a palavra que gera preocupação em quem faz um trabalho de educação sexual e menstrual, é o peso social que esta negação tem e o impacto que causa na transmissão de informação fidedigna, na educação para a saúde e no autoconhecimento, que permita autonomia e o reconhecimento, por parte de quem menstrua, de potenciais situações problemáticas.
No âmbito da educação menstrual, de forma resumida, podemos falar de três componentes: a física, a psicológica e a social - e há desconhecimento em todas elas. Ao nível físico, perpetuam-se vários mitos. Acredita-se que dores menstruais (ou dismenorreia) são normais, mas não são. A prevalência de condições potencialmente causadoras de dismenorreia, como endometriose, adenomiose, miomas uterinos ou quistos nos ovários é elevada, pelo que as dores devem ser valorizadas e investigadas pelos profissionais de saúde. Não faz sentido, nomeadamente, que o diagnóstico de endometriose possa demorar entre oito e 10 anos, muitas vezes após diagnósticos incorretos de outras patologias e de atitudes negativas, por parte dos especialistas, baseadas neste mito.  

Notícias ao Minuto Beatriz Pires
Ensina-se, na escola, que o ciclo menstrual tem 28 dias e que ovulamos no 14.º dia do ciclo, mas isto é mentira e pode ser motivo de preocupação infundada. Devemos manter uma monitorização dos nossos ciclos, a fim de identificar padrões, mas é importante saber que há ciclos mais curtos (de 24 dias, por exemplo) e outros mais longos (de 31 dias, por exemplo), sem se tratar de irregularidade menstrual – geralmente, aponta-se como saudável uma diferença máxima de nove dias entre o ciclo mais curto e o ciclo mais longo do ano. 

Repete-se, também, a ideia de que o sangramento de quem toma a pílula contracetiva é menstruação, sendo que, na verdade, durante a toma de contraceção hormonal, o ciclo é suspenso e, na paragem da toma, há um sangramento de privação que, em aspeto e duração, pode ou não ser semelhante à menstruação. 

Ao nível psicológico, pensemos na famosa síndrome pré-menstrual, que muitas mulheres acreditam que têm, sem saber bem o que é. Sabem que ficam com o humor alterado, instabilidade emocional, irritabilidade, alterações no apetite, maior fadiga, ansiedade, menor resistência ao stress, podendo ou não ter sintomas físicos, como tensão mamária ou dores musculares. Nestes casos, é possível que estejamos perante uma perturbação disfórica pré-menstrual, que é uma perturbação psicológica limitante e causadora de sofrimento, da mesma categoria da Depressão Major, e que requer atenção profissional. As alterações cognitivas, emocionais e/ou comportamentais podem estar associadas, ainda, a uma desregulação hormonal, que deve ser avaliada. 

Há, também, o impacto psicológico da menstruação, nomeadamente da menarca: de que forma estávamos preparadas para ela? Como estamos a preparar as crianças e pré adolescentes para que a sua chegada não seja um evento negativo? Mantemos um discurso de que menstruação, por si só, é uma limitação nas nossas vidas? Porque não é, se houver a resolução de diversos problemas associados a ela e se não nos forem impostas limitações. 

E, por último, temos de falar da componente social. Quando ignoramos sistematicamente a temática da menstruação, invisibilizamos várias causas e, consequentemente, pessoas: quem não tem possibilidade financeira de adquirir protetores menstruais (sejam descartáveis, como pensos higiénicos ou tampões, ou reutilizáveis, como o disco, o copo menstrual ou os pensos de pano); quem não tem acesso garantido a água ou saneamento básico, que permita realizar a sua higiene, nomeadamente durante a menstruação; quem não tem condições de vida mínimas que garantam igualdade e dignidade menstrual; quem se insere em contextos socioculturais que veem a menstruação como um elemento de impureza, ou pecado até; quem tem de adiar a sua vida não por conta do sangue menstrual, mas de como lidamos socialmente com ele.

A menstruação é parte de um ciclo, mas a sua invisibilização também: quanto menos se fala, menos oportunidades há para falar e, não havendo debate, seja nas escolas ou com profissionais de saúde devidamente educados na matéria, continuam a perpetuar-se mitos, falta de informação e o tabu da menstruação. E continua o ciclo: se é tabu, então não podemos falar...

Leia Também: Endometriose. "Um dos mitos é o de que é normal ter dor na menstruação"

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