Interoceção: o pouco conhecido sexto sentido que olha para dentro

Quando pensamos nos nossos sentidos, os principais que vêm à mente são visão, tato, olfato, paladar e audição. Todos esses sentidos refletem a capacidade do corpo de responder a estímulos externos. Mas e responder ao que está a acontecer dentro do nosso organismo? É aí que entra a interoceção.

A interoceção é um dos vários “novos” sentidos que estão agora na vanguarda da investigação médica e científica. É um tema muito discutido recentemente porque estamos a começar a entender o quanto afeta o nosso bem-estar. Se não reconhece os sinais físicos que o corpo emite quando está a sentir ansiedade, como pode tomar medidas para o acalmar?

Clique nesta galeria para saber mais sobre a interoceção e como ela pode ser usada para melhorar a saúde mental.

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O que é interoceção?

A interoceção é a perceção dos sinais que os seus órgãos internos enviam ao cérebro. Isso inclui o coração, os pulmões, o intestino e a bexiga. É a capacidade de reconhecer as sensações que vêm de dentro do seu corpo.

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Nos bastidores Os nossos órgãos estão em comunicação constante com o nosso cérebro, mas geralmente num nível subconsciente do qual não estamos cientes. Não sentimos o nosso corpo a regular a nossa pressão sanguínea ou  os níveis de açúcar no sangue, mas existem certas sensações internas das quais estamos cientes.

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O batimento cardíaco Por exemplo, se nos sentarmos quietos e fecharmos os olhos, podemos sentir o batimento cardíaco. Na verdade, podemos ouvir como se o som estivesse a vir de dentro dos nossos ouvidos, e não de fora.

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Sinais comuns

Somos capazes de reconhecer todos os tipos de sinais que os nossos órgãos enviam ao cérebro, como fome, sede, náusea, vontade de ir à casa de banho e até comichão (afinal, a pele é o maior órgão do corpo).

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Interoceção e emoções

Outro exemplo é o aperto dos músculos do estômago ou qualquer outro tipo de tensão no corpo. Essa consciência de interoceção é particularmente importante quando se trata das nossas emoções e estado de bem-estar.

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Resposta de medo

Se de repente se depara com um cão rosnando furioso, o seu corpo responderá num piscar de olhos. A sua frequência cardíaca aumentará e os seus músculos ficarão tensos. Esta é uma reação fisiológica ao medo, mas ocorre antes mesmo de se perceber que está a sentir medo.

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Corpo antes da mente

De acordo com os cientistas modernos, só nos damos conta do nosso estado emocional quando percebemos a mudança no nosso estado físico através da interoceção. Medo, felicidade, tristeza e excitação, todos emitem sinais físicos dentro do corpo. A interoceção está profundamente ligada à intuição.

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Consciencialização individual

Cada pessoa tem um nível diferente de consciência dos seus sinais interocetivos. Podíamos pedir a um grupo de pessoas para contarem os seus batimentos cardíacos durante um minuto sem medirem a pulsação e, em seguida, compará-los com uma leitura real. É provável que houvesse uma grande variação na precisão de contagem de cada pessoa.

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Impacto no bem-estar

O nível de consciência dos nossos sinais interocetivos está diretamente ligado à nossa capacidade de regular as nossas emoções. Se notarmos que a frequência cardíaca aumentou, os músculos estão tensos e a respiração é superficial, seremos capazes de reconhecermos que estamos chateados ou ansiosos.

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Inteligência emocional Isso dá-nos uma melhor visão do que está a acontecer nesse momento e permite-nos tomarmos melhores decisões. Se estivermos a sentirmo-nos oprimidos, podemos fazer uma pausa, reconhecermos essas emoções e respirarmos fundo algumas vezes. Se estivermos a ter confronto com um colega de trabalho, podemos reconhecer que estamos a ficar nervosos e darmos um passo atrás.

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Interoceção e saúde mental Se não estivermos cientes e familiarizados com os sinais do corpo, é menos provável que sejamos capazes de controlarmos as emoções. É por isso que a interoceção está profundamente ligada à saúde mental e ao bem-estar.

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Depressão e desconexão

Um estudo com um grande grupo de pessoas que sofrem de depressão mostrou que tinham baixos níveis de perceção interocetiva dos seus batimentos cardíacos. Se não conseguirmos sentir os sinais que o corpo nos está a enviar, isso pode deixar-nos letárgicos e emocionalmente entorpecidos. Esses são sintomas comuns de depressão.

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Ansiedade e hiperconsciência

Quem sofre de ansiedade tem maior probabilidade de entrar em contacto com os seus sinais interocetivos, mas pode interpretá-los mal. Os sintomas físicos de ansiedade incluem aumento da frequência cardíaca, aperto no  p e i t o,  respiração superficial, aumento da temperatura corporal e muitos mais.

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Instintos de sobrevivência

O nosso corpo reage fortemente ao stress e ansiedade porque estão diretamente ligados à nossa sobrevivência. O corpo entra num intenso estado de preparação quando sente uma ameaça, libertando adrenalina e cortisol e reduzindo o funcionamento de órgãos não essenciais.

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Estímulos de medo modernos Hoje em dia, uma "ameaça" pode ser uma entrevista de emprego ou uma situação social que nos deixa nervosos, ao invés de um tigre faminto! Nós sabemos que não é a mesma coisa, mas o nosso corpo não! Independentemente disso, algumas pessoas com ansiedade começam a entrar mais em pânico quando percebem os sinais interocetivos de que estão em stress.

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Dramatização dos sinais corporais Quem passa por um ataque de pânico pela primeira vez, muitas vezes pensa que está a ter um ataque cardíaco e acaba nas urgências. Mesmo em circunstâncias menos dramáticas, os sinais físicos de ansiedade podem aumentar os sentimentos de medo e piorar a experiência emocional para algumas pessoas.

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Intuição e desapego

Os estudos sugerem que a interoceção está ligada ao nosso sentido profundo de intuição. O corpo responde antes mesmo de estarmos conscientes do que está a acontecer. Quem tem um fraco sentido de interoceção pode sentir-se alienado, o que pode ser um sinal de doença mental mais séria.

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Sinais precoces de doença mental Os investigadores acreditam que a diminuição da sensibilidade aos sinais interocetivos pode ser um sinal de dissociação mental, que pode ser um precursor de delírios e psicose. A pessoa torna-se cada vez menos conectada consigo mesma e com a realidade.

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Senso próprio A interoceção ajuda-nos a formar o nosso sentido mais básico de identidade. Os pacientes que sofrem de psicose muitas vezes parecem experimentar uma espécie de despersonalização que os desconecta desse sentido.

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Terapias interocetivas

Estão a ser desenvolvidas novas terapias para ver se o aumento da consciência interocetiva pode ajudar a tratar a ansiedade e outros problemas de saúde mental. Pessoas com autismo são mais propensas a lutarem com a interoceção, bem como com a ansiedade, e os primeiros estudos sugerem que o treino interocetivo pode reduzir significativamente os níveis de stress.

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Regulação emocional

Uma maior consciência dos sinais interocetivos pode ajudar-nos a reconhecer o nosso estado emocional, desdramatizar e formular uma resposta útil à situação que reduza os níveis de stress.

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Atenção plena interocetiva

A professora Cynthia Price, da Universidade de Washington, tem estado a desenvolver uma nova forma de atenção focada na interoceção. A atenção plena (mindfulness) geralmente lida com a experiência mental e aquietação da mente, mas o método de Price traz o foco para as sensações interocetivas no corpo.

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Investigação com adicção

O seu trabalho inicial foi com pacientes que sofrem de problemas de abuso de substâncias, que lutam frequentemente para controlarem as suas emoções e se sentem desconectados de si mesmos, o que agrava o seu vício.

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Resultados promissores

Até agora, esta forma de atenção plena interocetiva demonstrou reduzir a depressão e a necessidade de consumir dos seus pacientes. Um estudo de um ano mostrou que aumentou a capacidade dos pacientes de se absterem do abuso de substâncias, em comparação com os tratamentos-padrão.

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Benéfico para todos No entanto, a atenção plena interocetiva não é apenas útil para quem sofre de doenças graves. A professora Price acredita que esta prática pode ser benéfica para qualquer pessoa que deseje reduzir o stress e ter mais autoconsciência na sua vida.

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De dentro para fora

Incrivelmente, os nossos sinais interocetivos também podem influenciar os nossos sentidos externos, como a visão e a audição. Diz-se "ver para crer", mas, neste caso, é mais "crer para ver".

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A complexidade do corpo humano

Em geral, pensamos no cérebro como a motherboard no topo da pirâmide que controla o resto do corpo. A interoceção mostra-nos que o cérebro muitas vezes está apenas a responder a sinais dos nossos órgãos internos, portanto na verdade pode ser o contrário.

Fontes: (Psychological Science) (Frontiers) (The Guardian)

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