Apesar de na maioria dos casos de asma o tratamento convencional - corticoterapia inalada com frequência associada a um broncodilatador - conseguir controlar satisfatoriamente a doença, uma percentagem de doentes permanece por controlar. Esse controlo deve ser avaliado nas suas várias dimensões que incluem o controlo de sintomas e o risco de evento futuro.
Em relação ao risco de evento futuro, ele traduz-se nos desfechos adversos relacionados quer com a atividade da doença, de que são exemplo as agudizações e o declínio funcional, quer com os efeitos adversos de terapêuticas como os corticóides sistémicos (vulgo cortisona), muitas vezes utilizados no tratamento da asma. Isso faz-se sentir não só para a corticoterapia sistémica, de longa duração, mas também para esquemas intermitentes, com impacto significativo na morbilidade da asma grave, muito relacionado com as comorbilidades cardiovasculares e metabólicas inerentes ao seu uso. Entre elas contam-se a dislipidemia, hipertensão, diabetes e obesidade, e outras importantes como a osteoporose, o risco de fraturas, o aumento do risco de infeção, de complicações oculares e de alterações psiquiátricas.
A relação risco/benefício, depende sobretudo da situação em que a sua utilização é por vezes inevitável, devendo por isso ser racional e criterioso. Por exemplo, no contexto das agudizações, os ciclos de corticoterapia sistémica estão claramente indicados, mas, também aí, o seu uso deve ser racional e apenas nas doses e no tempo necessário. Para além disso, as causas das agudizações devem ser identificadas com o objetivo de minimizar o uso de corticoide.
Outras estratégias que devemos ter em conta na abordagem dos asmáticos, para além da otimização da terapêutica inalatória com as várias classes de fármacos disponíveis, e sobretudo nos mais difíceis, é procurar otimizar os vários fatores internos e externos ao doente, bem como várias doenças que frequentemente se associam à asma e que contribuem para a dificuldade do seu controlo. Por exemplo, a rinosinusite, a polipose nasal, a obesidade, a disfunção laríngea induzida, a apneia do sono, as bronquiectasias, entre outras.
Por isso mesmo, para a melhor abordagem destes doentes mais difíceis, deve procurar-se um acompanhamento diferenciado, que possa oferecer tratamentos dirigidos ao tipo de asma em questão e ao seu grau de gravidade.
Nos casos verdadeiramente graves (cerca de 5% da população asmática) podemos hoje contar com terapêuticas sofisticadas (os agentes biológicos) que são agora o tratamento de primeira linha, em substituição da corticoterapia sistémica crónica. Os agentes biológicos devem ser considerados sempre que a apresentação da asma obedecer a determinados critérios clínicos e laboratoriais, já que permitem minimizar em larga escala as agudizações e o impacto que a doença tem no seu dia a dia, com melhoria da qualidade de vida, da capacidade funcional respiratória e do controlo de sintomas. Para além disso, os agentes biológicos reduzem a necessidade do uso da corticoterapia oral (“cortisona”), que passa a ser menor ou dispensável, e com isso diminuem os danos colaterais muitas vezes associados à necessidade prévia do seu uso.
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