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O médico explica: A tuberculose ainda vive entre nós. Entenda

"A tuberculose é, historicamente, uma das causas de mortalidade mais frequentes na espécie humana. Na Europa, América do Norte e Oceânia, a incidência e mortalidade tem vindo a diminuir. No entanto, mantém-se um problema de saúde pública muito frequente na África, Ásia e América Latina", explica o Prof. Pedro Flores, pediatra no Centro da Criança e do Adolescente do Hospital CUF Descobertas, numa entrevista que deu ao Lifestyle ao Minuto sobre a doença por vezes esquecida, mas que ainda mata.

O médico explica: A tuberculose ainda vive entre nós. Entenda
Notícias ao Minuto

07:30 - 11/08/20 por Liliana Lopes Monteiro

Lifestyle Entrevista

"A [vacina da] BCG é eficaz na prevenção das formas graves (meningite tuberculosa e tuberculose disseminada) nas crianças pequenas. Nalguns países é dada a toda a população, habitualmente em dose única ao nascer. Em Portugal, considerado país de baixa incidência, continua a ser feita em crianças de risco com idade inferior a 5 anos. A definição de risco é feita pelo médico que acompanha a criança: contacto próximo com doente, deslocação a país de elevada incidência, entre outros", conta Pedro Flores.

Alertando: "numa altura em que entidades como a Organização Mundial de Saúde alertam que está a haver um declínio na vacinação devido à pandemia, importa sensibilizar para que os pais não adiem a ida ao pediatra e a discussão sobre a vacinação necessária para os filhos. As unidades de saúde seguem procedimentos e protocolos de segurança para que seja possível as pessoas manterem rotinas de prevenção e tratamentos". 

Apesar de na mente de muitas pessoas imperar a ideia de que a tuberculose é uma patologia distante e do passado, causa de morte de crianças e donzelas imortalizada pelos escritores românticos do século XIX, a verdade é que esta doença pulmonar jamais cessou de existir.

E sim, ainda se morre de tuberculose conforme conta o pediatra: "segundo dados recentes da Organização Mundial de Saúde, mais de 1,7 biliões de pessoas em todo o mundo (25% da população) encontra-se infectada com tuberculose. Em 2018, 10 milhões adoeceram e 1,5 milhões morreram".

Porém, a verdade é que, além da vacina da BCG que atua na prevenção da patologia, já existem também tratamentos altamente eficazes para combater a tuberculose já instalada, sobretudo à base de antibióticos.

Mas afinal, o que é a tuberculose, como se transmite, onde é tratada, quais são os sintomas e fatores de risco? O Prof. e pediatra Pedro Flores explica nesta entrevista tudo o que tem de saber sobre a 'mítica' e paradoxalmente tão presente tuberculose. 

O que é a tuberculose?

É uma doença infecto-contagiosa, causada pelo bacilo de Koch (Mycobacterium tuberculosis). A infecção afecta predominantemente o pulmão. A imunidade do indivíduo consegue, frequentemente, conter a infecção inicial, que se torna latente (situação em que o bacilo se pode manter inactivo no organismo durante muitos anos). No entanto, pode ser grave, na infecção inicial ou após reactivação de tuberculose latente, com destruição significativa do pulmão. Nalguns doentes, a tuberculose pode espalhar-se a outros locais (sistema nervoso central, rim, genitais, ossos), com consequências graves, e pode, inclusivamente, levar à morte.

Como se transmite?

A transmissão é feita por via aérea, de pessoa a pessoa, pela inalação de gotículas e partículas em suspensão no ar. A tosse e o canto aumentam a transmissão, bem como as manobras invasivas das vias aéreas (como a intubação e a broncoscopia). Os focos de tuberculose extra-pulmonar não são habitualmente contagiosos.

É uma doença do 'passado'? Ou ainda está presente em larga escala em Portugal e no mundo?

A tuberculose é, historicamente, uma das causas de mortalidade mais frequentes na espécie humana. Na Europa, América do Norte e Oceânia, a incidência e mortalidade tem vindo a diminuir. No entanto mantém-se um problema de saúde pública muito frequente na África, Ásia e América Latina. Têm havido progressos muito importante no diagnóstico e terapêutica da tuberculose, que são contrariados pela grande associação desta à pandemia de SIDA, bem como ao aparecimento de estirpes de bacilos resistentes às terapêuticas.

Tem cura?

Existem tratamentos altamente eficazes contra a tuberculose. São habitualmente antibióticos com diferentes mecanismos de acção, que devem ser tomados em associações de três a cinco, durante períodos prolongados (6 a 18 meses). Como se compreende, estes esquemas são difíceis de cumprir de forma adequada, ainda por cima em contextos socioeconomicos desfavoráveis onde as populações tendem a ser vulneráveis e pouco instruídas. Em consequẽncia disso, temos assistido, nos últimos anos, ao aparecimento de estirpes de bacilos de Koch resistentes a um ou mais dos medicamentos utilizados, o que dificulta muito o tratamento.

Ainda se morre de tuberculose?

Segundo dados recentes da Organização Mundial de Saúde, mais de 1,7 biliões de pessoas em todo o mundo (25% da população) encontra-se infectada com tuberculose. Em 2018, 10 milhões adoeceram e 1,5 milhões morreram.

Quais são os fatores de risco da tuberculose?

Estão descritos vários factores de risco para tuberculose, associados ao doente ou ao meio ambiente. Entre os primeiros destacam-se as situações que se acompanham por défice de imunidade: infecção por VIH, receptores de transplante, consumo de drogas, tabaco ou álcool, má nutrição, diabetes, cancro, doença renal, hepática ou pulmonar crónica, sexo masculino, extremos da idade. Os seguintes factores ambientais aumentam o risco de tuberculose: contacto com doentes, nascimento em área endémica, pobreza, sobrelotação no domicílio, residência em prisões, lares ou hospitais, situação de sem abrigo, desemprego, educação baixa, minorias étnicas. A tuberculose continua a ser uma “doença da pobreza”.

Como se manifestam os sintomas da doença?

Os sintomas mais frequentes da tuberculose pulmonar são: tosse seca ou com expectoração que pode ter sangue, febre habitualmente baixa e prolongada, falta de ar, cansaço, emagrecimento, palidez, perda de apetite. Nas formas extra-pulmonares, os sintomas dependem do órgão atingido. O contágio inicial pode ser assintomático e a doença vir a manifestar-se mais tarde.

Afeta tanto homens como mulheres?

É mais frequente nos homens.

Há uma faixa etária mais afetada?

Nos países ocidentais, as crianças muito pequenas e os doentes com idade superior a 65 anos têm formas clínicas mais graves de doença. Os adultos jovens são infectados com mais frequência nos países mais afectados, conseguindo que a doença fique latente.

As crianças também podem ser vítimas da tuberculose?

Sim. A Organização Mundial de Saúde estima em 2018, aproximadamente 10 milhões de casos em crianças com idade inferior a 15 anos, com 200 mil mortos atribuídos a tuberculose.

Como é feito o diagnóstico da doença?

O médico avalia a história clínica e o contexto epidemiológico e efectua um exame físico completo. Habitualmente é necessário solicitar radiografia do torax, teste de tuberculina e análises ao sangue. Tenta-se identificar o bacilo na expectoração ou no suco gástrico. Podem ser necessários outros exames, como broncoscopia, TAC, drenagem da pleura, entre outros.

Como é tratada?

Existem numerosos antibióticos específicos, designados genericamente como anti-bacilares. Os mais frequentemente usados são: isoniazida, rifampicina, pirazinamida, estreptomicina e etambutol. Os esquemas terapêuticos obrigam a associações de 3 a 5 destes fármacos durante períodos prolongados (6 a 18 meses)

O paciente tem de ser isolado?

Os doentes em fase de contágio (em que se consiga isolar bacilos na expectoração) devem ficar isolados dos contactos, idealmente em internamento, sempre que possível em quartos de pressão negativa. Quando deixarem de eliminar bacilos, habitualmente após algumas semanas de tratamento, esse isolamento deixa de ser necessário.

Como funcionam os sanatórios?

Os sanatórios constituíam um conceito de tratamento da tuberculose, em voga nos século XIX e XX, antes do aparecimento de medicamentos eficazes. A ideia era isolar os doentes em locais de altitude elevada, com menos oxigénio no ar, o que ajudaria a combater o bacilo, onde a alimentação era saudável e hipercalórica e havia melhores condições de conforto e de repouso, para ajudar na recuperação. Atualmente, alguns doentes continuam a ser isolados enquanto são contagiosos, mas não há necessidade das restantes condições, uma vez que os tratamentos são frequentemente eficazes.

Que medidas de prevenção os indivíduos podem tomar contra a doença?

A luta contra a tuberculose centra-se no diagnóstico e tratamento eficaz dos doentes, rastreio dos contactos e tratamento adequado destes, mesmo de formas ligeiras e assintomáticas. Nos países de elevada incidência, continua a fazer-se a vacinação generalizada com BCG, que tem baixa eficácia, e a efectuar-se rastreios populacionais, nos momentos de admissão a postos de trabalho, serviço militar, etc. Os factores predisponentes para a doença, atrás referidos, devem ser controlados sempre que possível.

E qual é a importância da vacina da BCG na prevenção da tuberculose?

A BCG é eficaz na prevenção das formas graves (meningite tuberculosa e tuberculose disseminada) nas crianças pequenas. Nalguns países é dada a toda a população, habitualmente em dose única ao nascer. Em Portugal, considerado país de baixa incidência, continua a ser feita em crianças de risco com idade inferior a 5 anos. A definição de risco é feita pelo médico que acompanha a criança: contacto próximo com doente, deslocação a país de elevada incidência, entre outros.

Numa altura em que entidades como a Organização Mundial de Saúde alertam que está a haver um declínio na vacinação devido à pandemia, importa sensibilizar para que os pais não adiem a ida ao pediatra e a discussão sobre a vacinação necessária para os filhos. As unidades de saúde seguem procedimentos e protocolos de segurança para que seja possível as pessoas manterem rotinas de prevenção e tratamentos.

Pensa que esta doença alguma vez será erradicada?

Não. É uma doença muito frequente em todo o mundo e que sempre acompanhou a humanidade. Tem características que mostram a enorme adaptação do bacilo à espécie humana. As situações sociais que aumentam o risco de manifestação e contágio da tuberculose estão muito longe de serem melhoradas no mundo. O diagnóstico é difícil. A doença tem uma evolução lenta e insidiosa, sendo muitos casos assintomáticos e latentes, ainda que contagiosos. Nunca se conseguiu uma vacina eficaz: ao fim de mais de um século de investigação intensiva na área, apenas está disponível a BCG, que tem um papel limitado. O tratamento é eficaz mas difícil de cumprir em muitos contextos.

Como tal, não se pode ambicionar, de forma realista, a erradicação da tuberculose.

Leia Também: O Médico Explica. Cancro da pele: É na prevenção que está o ganho

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