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"Psoríase pode evoluir para situações graves que causam grande dor"

Em Portugal, estima-se que a psoríase afete mais de 200 mil pessoas. Sendo que dentro desse número, cerca de um terço está subdiagnosticada e outro terço está subtratado. Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto Jaime Melancia, presidente da Associação Portuguesa da Psoríase - PSOPortugal, fala sobre a patologia de pele que é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma doença não contagiosa grave, cujo um dos maiores problemas é o sofrimento desnecessário dos doentes estigmatização.

"Psoríase pode evoluir para situações graves que causam grande dor"
Notícias ao Minuto

07:30 - 05/08/20 por Liliana Lopes Monteiro

Lifestyle Entrevista

"A psoríase não é uma doença contagiosa. Ainda há quem julgue que esta doença é contagiosa, e reforço, a psoríase não é de todo! A origem da doença não está totalmente esclarecida, mas sabe-se que a hereditariedade tem um papel fundamental no aparecimento da doença. Existe uma predisposição genética para o seu desenvolvimento e envolve alterações no funcionamento do sistema imunitário, que provocam inflamação e aumento da velocidade de renovação das células da epiderme. Nunca é demais reforçar: a psoríase não é contagiosa, não é transmissível", alerta Jaime Melancia. 

Mais ainda, a carência de especialistas faz com que cerca de apenas 50% das pessoas sejam acompanhadas por médicos. Esta falta de acompanhamento leva a que as pessoas afetadas pela doença enfrentem problemas diários, muitas vezes sem necessidade.

Por estas razões, a Associação Portuguesa da Psoríase - PSOPortugal - desenvolveu uma solução - 'Encontre o Seu Dermatologista' - no seu website para ajudar os doentes e familiares de doentes a encontrar um dermatologista mais facilmente. Através de uma simples pesquisa por distrito, concelho e/ou código-postal, as pessoas vão conseguir ter informação sobre os dermatologistas que estão disponíveis para consulta perto das suas áreas de residência.

Jaime Melancia, presidente da PSOPortugal, conta em detalhe ao Lifestyle ao Minuto as particularidades desta patologia dermatológica e como os doentes podem ser ajudados. 

Pode explicar aos nossos leitores o que é, afinal, a psoríase?

A psoríase é uma doença inflamatória, predominantemente autoimune, que afeta sobretudo a pele e que pode surgir em qualquer idade. É uma doença crónica não contagiosa, mas que tem tratamento. O seu aspeto, extensão, evolução e gravidade são muito variáveis, caracterizando-se, geralmente, pelo aparecimento de lesões vermelhas, espessas e descamativas, que afetam preferencialmente os cotovelos, joelhos, região lombar e couro cabeludo. Nos casos mais graves, estas lesões podem cobrir extensas áreas do corpo. As unhas são também frequentemente afetadas, com alterações que podem variar entre o quase impercetível e a sua destruição. Fruto da falta de informação, a psoríase é uma doença que ainda suscita alguns preconceitos e estigmas.

É uma doença contagiosa?

A psoríase não é uma doença contagiosa. Ainda há quem julgue que esta doença é contagiosa, e reforço, a psoríase não é de todo! A origem da doença não está totalmente esclarecida, mas sabe-se que a hereditariedade tem um papel fundamental no aparecimento da doença. Existe uma predisposição genética para o seu desenvolvimento e envolve alterações no funcionamento do sistema imunitário, que provocam inflamação e aumento da velocidade de renovação das células da epiderme. Nunca é demais reforçar: a psoríase não é contagiosa, não é transmissível.

Quantas pessoas em Portugal são afetadas por esta doença?

Em Portugal, estima-se que afete mais de 200 mil pessoas. Deste conjunto, sabemos que aproximadamente um terço está subdiagnosticada e uma outra terça parte está subtratada.

E no mundo?

Estima-se que a psoríase afeta entre 1 a 3% da população mundial, pelo menos 100 milhões de pessoas.

Afeta tanto homens como mulheres?

Afeta homens e mulheres de todas as idades, independentemente da origem étnica, em todos os países.

Em que faixa etária é mais predominante?

Embora a psoríase se possa manifestar em qualquer idade, a maioria dos casos ocorre entre os 15 e os 30 anos, sendo também comum entre os 50 e os 60 anos.

Quais são as causas desta doença?

A psoríase é uma doença determinada geneticamente e abrange alterações no funcionamento do sistema imunitário. Essas alterações provocam inflamação e aumento da velocidade de renovação das células da epiderme. Porém, a origem da psoríase não está totalmente esclarecida. De salientar que embora seja uma doença geneticamente determinada, não significa que a hereditariedade de pais para filhos seja obrigatória. Verifica-se, todavia, uma maior probabilidade de aparecimento da doença em pessoas que tenham familiares portadores da mesma.

Existem fatores de risco?

O stress, alguns tipos de fármacos e fatores que afetem o sistema imunitário podem desencadear a psoríase. Sabe-se que esta doença é mais frequente em países frios - a ausência da luz solar e uma maior secura da pele provocada pelas baixas temperaturas e a exposição a aquecimentos podem favorecer o desenvolvimento de psoríase. A obesidade também está presente em muitos doentes com psoríase, o que poderá ser explicado pelo facto da obesidade poder provocar inflamação crónica, que, por sua vez, pode agravar a psoríase.

Já se pode nascer com psoríase?

A psoríase é uma patologia que tem uma componente genética marcada, sendo frequente existirem familiares de pacientes com psoríase. Isto não significa que a hereditariedade de pais para filhos seja obrigatória. Contudo, verifica-se uma maior probabilidade de aparecimento da doença em pessoas que tenham familiares portadores da mesma.

Como é que esta patologia afeta a vida dos doentes?

Não sendo adequadamente tratada a psoríase pode evoluir para situações graves que causam grande desconforto e dor.  O diagnóstico médico atempado da psoríase é essencial e, aliado a uma terapêutica correta, previne o sofrimento desnecessário dos doentes, os problemas articulares graves e irreversíveis, e, claro, o descontrolo da doença. Para além das consequências físicas, podem também existir graves consequências psicológicas. 76% dos doentes afirmam que sentem o forte impacto psicológico da doença e isso está muitíssimo relacionado com o facto de a doença interferir na relação com o outro, de ter impacto em situações de exposição do corpo como a ida à praia, de ainda ser fator de discriminação no local de trabalho ou no acesso a ele, de influenciar a vida íntima e sexual do indivíduo. Obviamente, estes e outros exemplos, como as perturbações no sono, levam a que haja elevados níveis de depressão associados à doença e um estado de tristeza acentuado, que inclusivamente influencia a relação médico-doente.

De que forma a Associação Portuguesa da Psoríase - PSOPortugal apoia os doentes e as suas famílias?

Fruto do esforço da PSOPortugal junto dos grupos parlamentares conseguiu-se que fosse aprovada a Lei n.º 6/2010 de 7 de maio que enquadrou no escalão A de comparticipação os medicamentos queratolíticos e antipsoriáticos, de aplicação tópica e sistémica, quando destinados aos doentes portadores de psoríase. Infelizmente, toda a terapêutica auxiliar do tratamento da psoríase, como os cremes, loções e champôs, além de não ser comparticipada, tem a taxa máxima do IVA.

No sentido de minimizar o esforço financeiro dos nossos associados com os seus tratamentos, estabelecemos protocolos e acordos de cooperação com estabelecimentos de saúde, nomeadamente farmácias, clínicas, termas e outros, que permitem facilitar aos nossos associados o acesso a cuidados de saúde. Neste âmbito, foi desenvolvido o programa 'A Cuidar da SUA Pele', que resulta de um protocolo assinado entre a PSOPortugal, os laboratórios aderentes e as associações de farmácias. Este programa permite aos sócios da PSOPortugal usufruir de descontos na aquisição de cremes hidratantes, champôs e outros auxiliares terapêuticos, que constam de uma tabela de comparticipações elaborada e disponibilizada pela PSOPortugal. A PSOPortugal conta, neste momento, com perto de mil associados, um número que tem vindo a aumentar sustentadamente ao longo dos anos.

Pode falar-nos sobre o projeto 'Encontre o Seu Dermatologista'?

Conseguimos desenvolver a solução 'Encontre o Seu Dermatologista' no website da Associação que permite aos doentes ou aos seus familiares encontrar um dermatologista mais facilmente, com o apoio da Novartis. Através de uma simples pesquisa por distrito, concelho e/ou código-postal, as pessoas vão conseguir ter informação sobre os dermatologistas que estão disponíveis para consulta perto das suas áreas de residência. Esperamos vir a ter a adesão de mais dermatologistas, que podem solicitar a sua inclusão no formulário disponível no portal. A ideia deste portal surgiu da necessidade de dar resposta às constantes solicitações dos doentes psoriáticos, que recorrem à PSOPortugal no sentido de os ajudarmos a identificar um dermatologista. Obviamente que enquanto associação de doentes sem serviços clínicos, não devemos indicar um ou outro médico em particular, mas sim continuar o nosso trabalho de defesa dos interesses dos doentes com psoríase.

Quais os avanços científicos que espera e antecipa para o futuro relativamente à psoríase?

O tratamento da psoríase tem evoluído de uma forma impressionante nas últimas décadas, as terapêuticas biológicas vieram alterar completamente a forma como a esta doença moderada-a-grave é abordada. Adicionalmente, a psoríase passou de uma doença de tratamento complicado, para a patologia inflamatória com o tratamento mais eficaz em toda a medicina.

Os dermatologistas com quem temos contacto referem também que dispõe atualmente de várias terapêuticas seguras e eficazes que permitem tratar os doentes, mesmo os casos mais complicados. No entanto, ainda há doentes cujos resultados não são satisfatórios, ou que deixam de responder ou desenvolvem efeitos secundários. Por isso, são tão necessários a investigação e desenvolvimento contínuos de novos fármacos.

Outra área em que ainda existe um desafio é nas formas ligeiras e moderadas de psoríase, que não têm indicação formal para as terapêuticas biológicas, e que por isso necessitam de terapêuticas tópicas ou orais que sejam mais eficazes e economicamente sustentáveis.

Leia Também: Relatório Mundial Psoríase e Felicidade: Portugal ocupa o 6º lugar

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