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"O corpo pede doces, mas a transformação que damos ao pedido é perversa"

Tâmara Castelo é fundadora de uma clínica especializada em Medicina Tradicional Chinesa e alimentação saudável. Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, a especialista contou o seu percurso e falou sobre alimentação e equilíbrio.

"O corpo pede doces, mas a transformação que damos ao pedido é perversa"
Notícias ao Minuto

09:30 - 21/02/20 por Teresa David

Lifestyle Medicina Chinesa

É filha de Virgílio Castelo, um ator acarinhado pelos portugueses, e casada com Chakall, o conhecido 'chef do turbante', mas o seu sucesso deve-se a si mesma. Na Clínica que detém com o seu nome, Tâmara Castelo, de 35 anos, aplica os seus conhecimentos em Medicina Tradicional Chinesa e alimentação saudável, conceitos indissociáveis, não fosse a dietética um dos principais pilares da medicina que pratica. 

O seu nome próprio sugere que já estaria predestinada ao mundo dos alimentos mas, na realidade, foi o seu maior problema que a levou à vocação. Entre intolerâncias alimentares e outros problemas de saúde, a primeira Tâmara de Portugal rumou ao Oriente e, de lá, nunca mais saiu, mesmo estando estabelecida em Lisboa. 

Ao Lifestyle ao Minuto falou sobre o seu percurso. 

O 'slogan' da Clínica Tâmara Castelo é "somos o que comemos". O que quer isto dizer?

Eu faço Medicina Chinesa, que é uma medicina geral, mas em que a comida, na minha prática clínica, tem um papel muito muito importante. Utilizamos esse 'slogan' para as pessoas quando entrarem, olharem e perceberem do que se trata. Não é uma consulta de acupuntura clássica, a alimentação tem mesmo um grande peso em tudo o que fazemos aqui.

Acredita que a alimentação é a melhor maneira de prevenir e combater doenças?

Não é uma crença, é um facto. Não é uma questão de acreditar, é uma questão de ver ‘papers’ [estudos científicos] e tudo aquilo que tem vindo a ser publicado nos últimos anos sobre este tema.

Acho que é a isso que se deve o sucesso da Medicina Chinesa - é a questão da subjetividade incrível que tem com cada uma das pessoasComo é o trabalho da Clínica? Diria que se trata de uma espécie de nutrição holística?

Eu diria que a Medicina Chinesa tem como pilar principal a dietética e a forma como nos alimentamos subjetivamente - cada pessoa tem as suas fragilidades. Imaginemos: uma pessoa teve, toda a vida, problemas de estômago e outra um grande inchaço nas pernas, imensa retenção. Estas duas pessoas, em Medicina Chinesa, têm de se alimentar de uma forma completamente diferente. Essa é uma das bases mais importantes da medicina que pratico.

Isso significa que este tipo de nutrição é muito individualizado. O que é verdade para uns, não é para outros...

Naturalmente. A primeira fase de uma consulta de Medicina Chinesa é sempre o diagnóstico clínico, seja ela uma queixa acerca de um problema digestivo, uma insónia, uma enxaqueca, um problema de fertilidade, uma dor. Nós fazemos sempre um diagnóstico clínico geral, independentemente de qual for a questão que leva o doente à Clínica e, portanto, nesse diagnóstico conseguimos ser muito específicos na forma como abordamos o tema da comida e na forma como abordamos o tratamento. Acho que é a isso que se deve o sucesso da Medicina Chinesa - é a questão da subjetividade incrível que tem com cada uma das pessoas.

Problemas na alimentação dos portugueses? A quantidade de comida que ingerem é, sem dúvida, uma questão importante, assim como a quantidade de pão e lacticínios Consegue explicar, em poucas palavras, o que é a Medicina Chinesa e a Homeopatia?

É difícil. A minha base é a Medicina Chinesa, a Homeopatia é um mini satélite que utilizamos e que não é, de todo, a base da nossa Clínica.

A Medicina Tradicional Chinesa é um sistema de medicina, criado há 2300 anos. Tem muita prática clínica; muita tentativa, muito erro; muita tentativa, muito trabalho sobre ela. Hoje em dia é alvo de muitas investigações cientificas. É uma medicina evolutiva, que é aquilo que é interessante numa medicina, e com muita experiência clínica. É um diagnóstico que pode ser feito em paralelo com o diagnóstico da medicina ocidental, é uma medicina que trabalha muito bem em conjunto, de todo alternativa.

Complementar, então?

Nem é complementar, é mais do que complementar para mim porque eu trabalho com muitos médicos e é óptimo que assim seja. Tudo é relevante e tudo é interessante porque uma medicina que é estudada há muitos anos tem umas terminologias e uns conceitos um bocadinho difíceis, como o Yin e Yang , mas que na verdade são conceitos ilustrativos que demonstram questões como, por exemplo, o sistema linfático e o sangue. É muito difícil explicar em poucas palavras, por isso é que nós estamos muitos anos a estudar. É como pedir a um médico que lhe explique uma cirurgia.

Durante muitos anos tive imensos problemas de saúde. Tenho um sistema digestivo péssimo, imensas alergias, sou asmática, tenho eczema atópico… era o clássico bebé que estava sempre doente

Mas utiliza mais fitoterapia, acupuntura...

Um especialista em Medicina Tradicional Chinesa tem conhecimento para fazer acupuntura, prescrever fitoterapia e mudar a alimentação toda da pessoa, de acordo com o momento. Até porque a mesma pessoa pode ter trinta ‘alimentações’ num ano, dependendo do que estamos a tratar. Eu diria que depende dos casos, mas não preciso de utilizar acupuntura em todos eles, não preciso de utilizar fitoterapia em todos eles, mas preciso de utilizar alimentação em todos os casos.

Quais considera serem os maiores problemas na alimentação dos portugueses?

A quantidade de comida que ingerem é, sem dúvida, uma questão importante, assim como a quantidade de pão e lacticínios.

De onde surgiu o interesse por esta área?

Durante muitos anos tive imensos problemas de saúde. Tenho um sistema digestivo péssimo, imensas alergias, sou asmática, tenho eczema atópico… era o clássico bebé que estava sempre doente. A minha mãe levou-me a todo o lado e acabei por ir parar, aos 14 anos, a um médico de Medicina Chinesa que me ajudou imenso nessa altura e aquilo interessou-me. E depois porque eu sou uma fanática por comida, adoro alimentação.

Quando acabei o 12.º ano, o meu pai disse-me 'faz um Gap Year, curte um bocado, relaxa'. Como estar parada não é propriamente a minha energia, olhei para o curso de Medicina Tradicional Chinesa, eram cinco anos e pensei 'os dois primeiros anos são super focados na dietética e no diagnóstico clínico. Vou aprender imenso, vai ser super giro e depois logo se vê o que é que faço…'. Bem, nunca mais não é?! Estou feliz com a minha escolha. Estou satisfeita.

O tempo cura tudo, até estes desgostos que hoje em dia já não é um desgosto. O meu pai [Virgílio Castelo] é meu doente há imensos anos, adora e está super feliz e orgulhosoCom um pai ator e uma mãe assistente de bordo, foi fácil aceitarem esta escolha?

Não, foi péssimo. Há 18 anos achavam que eu estava louca: 'não vais para Medicina?', 'vais fazer Medicina Chinesa e vais viver para a China? Como assim?' 'Não estou a perceber'. A primeira vez que eu fui à China foi em 2003, e a China não era o que é hoje. Ninguém falava inglês... Foi um processo de aceitação difícil. O meu pai achava que eu ia para Medicina e depois diz-me para fazer um Gap Year e de repente pensa 'o que é que eu fui fazer?!'. Foi complicado, mas nunca tive uma dúvida.

O tempo cura tudo, até estes desgostos que hoje em dia já não é um desgosto. O meu pai é meu doente há imensos anos, adora e está super feliz e orgulhoso. Agora, não seria um choque, mas em 2002 não havia tanto conhecimento. Hoje em dia acho que é muito mais fácil e tenho imensa gente que me escreve a dizer 'eu quero entrar em Medicina Chinesa, onde é que eu tiro?'.

Viveu na China. Quais foram as principais dificuldades e as maiores aprendizagens?

Vivi alguns períodos na China, durante três anos. As dificuldades foram, sem dúvida, a comunicação e a cultura, que era fechada e pouco acessível. A maior aprendizagem foi o trabalho em hospital publico.

Estive oito anos sem férias. Tenho, há 14 anos, uma clínica aberta, e trabalho todos os sábados. Todos, sem exceçãoE como é que foi, na altura, a entrada no mercado de trabalho?

Eu sou um comboio em andamento. Não senti muita dificuldade. Mas estive oito anos sem férias. Tenho, há 14 anos, uma clínica aberta, e trabalho todos os sábados. Todos, sem exceção. Portanto depende. Para quem quer trabalhar há sempre trabalho, tens é de te adaptar aos teus doentes e é o que faço ainda hoje. Quem escolhe esta via da medicina, seja ela qual for, tem sempre que ter um sentido de missão e sacrifício grande. Se estamos à espera de trabalhar das 8h às 16h...não vai acontecer.

Como é a sua dieta?

Depende, eu mudo a dieta com as estações. Hoje acordei de manhã e bebi um leite de amêndoa com canela, depois comi uma maçã, depois comi cenoura, depois cheguei aqui e bebi o meu sumo com salsa e maçã. Ontem à noite também foi sumo de salsa e comi quinoa com tomate...não tenho andado com muita fome. Mas depende. Há grupos que eu não como, mas vario imenso. Há três dias fui comer um bife ótimo com legumes salteados, como peixe, feijões...

Obviamente que o corpo pede doces, pede salgados, pede carne, pede peixe e feijões, mas a transformação que nós damos a esse pedido é que às vezes é um bocadinho perversaEquilíbrio...

Sim, tudo o que é extremista assusta-me. Se o corpo está a pedir... claro que não é Chocapic... o corpo não está a pedir Chocapic, isso não existe. 'Ai não doutora que o meu corpo estava-me a pedir Milka Caramelo'... não, não estava a pedir. Estava a pedir um doce. Quando o corpo te pede um doce, cabe-te a ti dar-lhe o doce, mas cabe-te a ti decidir qual é o doce que lhe vais dar. Se estás com um ‘mega craving’ [uma enorme vontade] de chocolate e comeres três tâmaras mejool, ficas bem. Tens é de ter o discernimento de tomar a decisão certa. Obviamente que o corpo pede doces, obviamente que pede salgados e obviamente que pede carne e obviamente que pede peixe e feijões, mas a transformação que nós damos a esse pedido é que às vezes é um bocadinho perversa.

Qual é o principal motivo pelo qual os seus pacientes a procuram?

Tenho muitas grávidas com tudo o que pode acontecer: enjoos na gravidez, problemas do túnel do carpo, insónia, dores de cabeça, a retenção de líquidos que não se pode medicar... Tenho muita infertilidade, bem-estar geral, problemas do sistema digestivo, stress e ansiedade, com a insónia associada ou não. Dores já não sou eu, são outras médicas que fazem, também temos muitas crianças na clínica com problemas respiratórios.

Todas as células do corpo, desde a ponta do cabelo à ponta do pé são alimentadas por aquilo que pomos na boca, é uma responsabilidade monstruosaCom um blogue e vários livros publicados, que mensagem quer transmitir às pessoas?

Que comam melhor, sem dúvida alguma. E que tenham uma vida muito equilibrada. Equilíbrio significa tudo, significa que se apetecer ir beber um gin tónico está tudo bem, mas nos outros dias. ..é muito isto: sem extremismo, muito equilíbrio a comer e dar à comida a importância que ela tem. Todas as células do teu corpo, desde a ponta do teu cabelo à ponta do teu pé são alimentadas por tudo aquilo que pomos na boca, é uma responsabilidade monstruosa.

Como é ser a primeira Tâmara em Portugal?

Uii, pois é. No verão do ano passado tive uma doente que se chamava Tâmara e fiquei altamente incomodada. Olhava e dizia 'isto deve ser Tamara, não deve ser Tâmara' e, depois, quando ela veio, perguntei 'é Tâmara com acento?' e ela disse 'sim, igual ao seu'. Comecei a tremer o olho. 'Como assim?!' Muito estranho para mim, mas acho divertido.

Conheço duas pessoas com o meu nome. Estive oito meses sem nome, estou registada no ano a seguir. É super cómico, mas o meu pai teimou, teimou, teimou. Tanto teimou que conseguiuJá estava predestinado que estaria ligada à nutrição?

Sim, isso é o que o meu pai me diz sempre: 'a culpa foi toda minha'. Nunca pensei muito sobre isso, assumi sempre com as piadinhas épicas da adolescência: tâmara com bacon...O meu nome não é propriamente um nome fácil, mas há piores portanto está tudo bem.

Conheço duas pessoas com o meu nome. Estive oito meses sem nome, estou registada no ano a seguir. É super cómico, mas o meu pai teimou, teimou, teimou. Tanto teimou que conseguiu.

Planos para o futuro?

Estou sempre com 550 coisas, mas não gosto de divulgar. Tenho 'jinks' [acredita que dá azar].

Mas passam pela clínica?

Sim. Os meus planos passam sempre, em linhas gerais, por tempo pessoal para os meus amigos e para os meus filhos, pela Clínica e evolução pessoal.

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