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"Perante queixas ano-retais o importante é excluir doenças malignas"

João Meira e Cruz, cirurgião geral, defende que, perante manifestações anais, muitas vezes fazem-se "tratamentos 'às cegas'". Em entrevista ao Notícias ao Minuto, o especialista destaca a importância de excluir doenças malignas.

"Perante queixas ano-retais o importante é excluir doenças malignas"
Notícias ao Minuto

18:53 - 17/08/19 por Filipa Matias Pereira

Lifestyle queixas ano-retais

Perante queixas ano-retais torna-se imperioso avaliar a presença de uma condição maligna ou benigna. Estas últimas, pese embora não sejam tão graves, não devem ser descuradas, já que "produzem efeitos muito perturbadores da vida quotidiana e são causa de significativo absentismo não quantificado, nem qualificado". 

A opinião é de João Meira e Cruz, cirurgião geral,  que, ao longo da sua atividade hospitalar, se diferenciou em patologia esofágica, trauma, complicações em cirurgia e cuidados intensivos cirúrgicos e proctologia.

Em entrevista ao Notícias ao Minuto, o cirurgião analisa as principais queixas ano-retais, destacando a importância de se fazer um diagnóstico correto para evitar os "tratamentos 'às cegas'". 

Quais as patologias que se enquadram nas queixas ano-retais de causa benigna e quais os principais sintomas?

Face a queixas referidas à região ano-retal, há que avaliar sinais e sintomas que possam fazer suspeitar da presença de uma condição maligna ou complexa ‘versus’ as condições benignas, habitualmente chamadas menores, mas que produzem efeitos muito perturbadores da vida quotidiana e são causa de significativo absentismo não quantificado, nem qualificado.

As patologias ano-retais benignas e consideradas menores são várias, mas as mais frequentes e passíveis de uma abordagem mais criteriosa, permitindo obter resultados melhores na perspetiva custo/benefício são: a doença hemorroidária, a fissura anal, o prurido anal e a fístula/abcesso perineal.

É comum, face a manifestações anais, fazerem-se tratamentos inadequados, que atrasam a cura e muitas vezes permitem complicações, apenas porque não é realizada uma observação cuidada da região e se fazem tratamentos 'às cegas'

Perante estes cenários, o diagnóstico precoce assume especial importância?

O diagnóstico correto, precoce, permite objetivar a condição presente e distingui-la de outras que têm manifestações semelhantes, mas com causas, evoluções e tratamentos distintos. É comum, face a manifestações anais, fazerem-se tratamentos inadequados, que atrasam a cura e muitas vezes permitem complicações, apenas porque não é realizada uma observação cuidada da região e se fazem tratamentos 'às cegas'.

Os diferentes profissionais de saúde, com muita frequência, prescrevem sem saberem o que, na realidade, está a acontecer. Por outro lado, é comum que as pessoas, quando têm incómodos anais, em particular se há sangramento, considerem estar perante ‘hemorróidas’ e tomem medidas inadequadas.

O tratamento de sintomatologia anal, sem diagnóstico correto, é um passo para o prolongamento das queixas, seu eventual agravamento e cronicidade, com sofrimento e absentismo, associados a um consumo desadequado e descontrolado de medicamentos.

Tem conhecimento dos dados epidemiológicos das doenças ano-retais de causa benigna, em Portugal?

A doença hemorroidária afeta cerca de 10 milhões de pessoas anualmente e, acima dos 50 anos, 50% das pessoas sofrem de manifestações atribuídas a doença hemorroidária. Nos EUA, cerca de 100.000 casos de abcesso perineal surgem em cada ano, atingindo maior incidência cerca dos 40 anos de idade e convertendo-se em fístula perineal em 40 a 50 % dos casos. O prurido anal atinge cerca de 5% da população dos EUA.

Perante queixas ano-retais o importante é excluir doenças malignas ou graves e identificar, correta e adequadamente, as causas das queixas

Quais as abordagens terapêuticas mais comuns para os diversos tipos de queixas ano-retais? Em alguns casos, como das hemorróidas, pode ser necessário recorrer um procedimento cirúrgico, correto?

Perante queixas ano-retais o importante é excluir doenças malignas ou graves e identificar, correta e adequadamente, as causas das queixas. Só depois poderá haver tratamento orientado, o que pode incluir medicamentos, adequações alimentares, comportamentais e higiénicas, assim como terapêuticas complementares indicadas para o caso concreto e individualizado. Atualmente, a frequente concomitância de patologias ano-retais impõe ajuizamento individualizado de quem se queixa.

Os procedimentos cirúrgicos, uns mais invasivos, outros menos, têm indicações específicas. De tal modo que há doentes para os quais não está indicado qualquer tratamento cirúrgico, outros cuja condição deve ser abordada de forma conservadora e só se houver progressão ou ineficácia do tratamento haverá indicação para cirurgia e outros, ainda, que têm indicação operatória desde o primeiro dia em que são observados. Mais uma razão para que haja observação e não tratamentos “às cegas”.

Há uma tendência desmesurada para, perante queixas ano-retais e sem observação, solicitarem colonoscopias

Médicos dos cuidados de saúde primários estão sensibilizados para esta realidade e para a necessidade de um tratamento adequado?

Há médicos dos cuidados primários que têm alguma sensibilidade para exercerem a observação mínima indispensável para identificar as lesões em presença. Mas a maioria não tem condições de trabalho, nem formação e, portanto, não está sensibilizada para o imperativo de observar a correspondente região anatomo-funcional de qualquer utente dos serviços de saúde que se lhes queixe de alterações ano-retais. Acresce que há uma tendência desmesurada para, perante queixas ano-retais e sem observação, solicitarem colonoscopias. Ora, a colonoscopia não é o exame ideal para avaliar a região ano-retal, em particular o canal anal.

As queixas mais frequentes referidas à região anal são as perdas de sangue, a dor e o prurido

Pela sua experiência, qual o impacto social destas patologias?

As queixas mais frequentes referidas à região anal são as perdas de sangue, a dor e o prurido. Este último é muito perturbador e muitas vezes difícil de eliminar completamente, a não ser que haja um fator anatómico determinante. A dor pode ser muito intensa e incapacitante, motivadora de absentismo repetitivo, nomeadamente quando associada a uma fissura crónica cuja sintomatologia é recorrente. A perda de sangue é a que maior apreensão causa, particularmente associada à ideia de eventual malignidade e, em alguns casos, pode levar a quadros de anemia grave necessitando de transfusões de sangue e administração de ferro.

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