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Colesterol: O 'assassino silencioso' que mata mais de 4 milhões por ano

Afinal, o que é o colesterol 'bom' e o 'mau'? Quais são os valores ideais? O colesterol elevado pode causar ataques cardíacos? A toma de estatinas é benéfica? Para assinalar e fechar o mês de maio 'O Mês do Coração', António Ferreira, cardiologista no Hospital Santa Cruz, e coordenador da Unidade de Imagem Cardíaca por TAC e RM, falou com o Lifestyle ao Minuto acerca do mal do colesterol que mata quatro milhões de pessoas por ano em todo o mundo.

Colesterol: O 'assassino silencioso' que mata mais de 4 milhões por ano
Notícias ao Minuto

13:40 - 31/05/19 por Liliana Lopes Monteiro

Lifestyle Entrevista

"De uma forma geral, todos deveríamos ter o colesterol LDL inferior a 115 mg/dL. No entanto, os valores alvo dependem sobretudo do risco cardiovascular de um indivíduo. Se o risco for muito elevado (por exemplo, por ser diabético e hipertenso), então o valor recomendado de colesterol LDL já será inferior a 70 mg/dL. De uma forma geral, quanto maior for o risco de uma pessoa, mais baixo deverá ser o seu colesterol LDL por forma a evitar que tenha eventos cardiovasculares", explica o cardiologista António Ferreira. 

O colesterol LDL é vulgarmente conhecido como 'mau' colesterol, por ser aquele que se deposita na parede das artérias, provocando aterosclerose. Quanto mais altas forem as LDL no sangue, maior é o risco de doença cardiovascular;

Segundo o especialista apesar de muitas vezes os valores elevado de colesterol 'mau' ou LDL se deverem a maus hábitos, sobretudo o consumo de alimentos ricos em açúcares e gorduras, sedentarismo, consumo de álcool ou de tabaco. A verdade é que o papel da genética também não pode nem deve ser menosprezado

Nas palavras do cardiologista: "A maior parte do colesterol que temos em circulação não provém da dieta, mas é produzido no fígado, num processo em que fatores genéticos desempenham um papel importante. É, por isso, perfeitamente possível que pessoas que levam um estilo de vida saudável tenham níveis de colesterol muito acima do recomendado". 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, anualmente, morram mais de quatro milhões de pessoas no mundo por doenças causadas pelo colesterol elevado, prevendo-se que em Portugal dois terços dos portugueses sofram desta condição.

Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, o médico cardiologista António Ferreira, responde minuciosamente sobre o tema do colesterol - fatores, sintomas, tratamentos, números, medicação disponível e quando pode ser fatal. 

O que é o colesterol?

O colesterol é um dos tipos principais de gordura existentes no nosso organismo. É utilizado para a produção de membranas das células e para a produção de hormonas, entre outros fins. No entanto, embora o nosso corpo necessite de colesterol, níveis elevados são responsáveis pelo início e progressão da aterosclerose, uma doença que começa precisamente com a deposição desta gordura na parede das artérias e que, ao fim de anos ou décadas, pode culminar em enfartes e acidentes vasculares cerebrais.

Qual é a diferença entre colesterol 'bom' e 'mau'?

A molécula é a mesma. O que distingue o colesterol a que usualmente chamamos 'bom' (HDL – high density lipoproteins) do colesterol a que chamamos 'mau' (LDL – low density lipoproteins) é o tipo de proteínas que o acompanha. Sendo uma gordura, o colesterol não pode andar sozinho na circulação sanguínea (o sangue é um meio aquoso e todos sabem que água e gordura não se misturam). Ora, no caso do colesterol, as proteínas acompanhantes (a que chamamos apoproteínas) é que vão determinar o seu comportamento biológico, nomeadamente se vão fazer com que o colesterol vá para os tecidos do organismo (e se possa depositar na parede das artérias) ou se, pelo contrário, é removido dos tecidos e levado para o fígado para ser 'reciclado'. Portanto, se quisermos ser justos, temos de admitir que a molécula de colesterol em si mesma não é 'boa' nem 'má'. É simplesmente muito influenciável pelas companhias.

Em termos de valores, quais são os ideais e a partir de que valores há motivos de preocupação?

Não existem valores-alvo universais, isto é, que possam ser recomendados a toda a gente. De uma forma geral, todos deveríamos ter o colesterol LDL inferior a 115 mg/dL. No entanto, os valores alvo dependem sobretudo do risco cardiovascular de um indivíduo. Se o seu risco for muito elevado (por exemplo, por ser diabético e hipertenso), então o valor recomendado de colesterol LDL já será inferior a 70 mg/dL. De uma forma geral, quanto maior for o risco de uma pessoa, mais baixo deverá ser o seu colesterol LDL por forma a evitar que tenha eventos cardiovasculares.

E quais são os fatores de risco? O estilo de vida é um deles? E a genética pode desempenhar um papel determinante?

Um estilo de vida saudável é, sem dúvida, um fator muito importante para evitar desenvolver doença cardiovascular. Ter uma dieta equilibrada, praticar exercício físico regular e não fumar ajuda a manter os níveis de colesterol dentro dos limites recomendados. No entanto, é preciso lembrar que, para muitas pessoas, isso não é suficiente. A maior parte do colesterol que temos em circulação não provém da dieta, mas é produzido no fígado, num processo em que fatores genéticos desempenham um papel importante. É, por isso, perfeitamente possível que pessoas que levam um estilo de vida saudável tenham níveis de colesterol muito acima do recomendado.

Existem determinados alimentos que propiciam o aumento do colesterol? Relativamente à alimentação para quem sofre de colesterol alto ou para quem pretende prevenir a condição, o ovo é afinal um ‘amigo’ ou um ‘vilão’?

Sim, sem dúvida que há alimentos que fazem aumentar os níveis sanguíneos de colesterol. No entanto, ao contrário do que se possa pensar, nem sempre os alimentos que têm naturalmente um teor de colesterol elevado são os mais perigosos. Alimentos como ovo, marisco ou fígado são naturalmente ricos em colesterol, mas podem ser consumidos com moderação mesmo por quem necessita de reduzir os seus níveis de colesterol. Os alimentos que parecem ser mais perigosos e que, de facto, aumentam os valores de colesterol dito 'mau' são os ricos em gorduras saturadas. Os exemplos de alimentos ricos em gorduras saturadas incluem a carne (sobretudo a processada na forma de salsichas, hambúrgueres, etc.), a manteiga, os bolos, pastéis e biscoitos, mas também o óleo de coco e óleo de palma. A informação nutricional que acompanha os alimentos processados inclui a percentagem de gorduras saturadas na sua composição.

O colesterol manifesta-se através de sintomas físicos?

Não, e de certa forma é pena que assim seja. Se o colesterol elevado se manifestasse por um qualquer sintoma, talvez isso nos alertasse para o risco que corremos. A própria aterosclerose provocada pelo colesterol elevado é frequentemente silenciosa durante muitos anos, em que vão crescendo placas na parede das artérias, sem que a pessoa tenha qualquer sintoma. Quando uma dessas placas rompe, forma-se um trombo ('coágulo') que entope subitamente a artéria onde está a placa, podendo ter resultados catastróficos como morte súbita ou um enfarte ou AVC incapacitante.

Quais são os números do colesterol em Portugal? O colesterol elevado afeta mais os homens ou as mulheres, ou ambos os géneros da mesma maneira?

Em Portugal, mais de metade da população adulta apresenta valores de colesterol elevados, afetando homens e mulheres de forma sensivelmente igual. Embora seja pouco frequente em jovens adultos, não se pode dizer que seja uma doença do idoso, pois torna-se muito comum logo a partir dos 40 anos de idade.

Quais os tratamentos que existem atualmente para tratar o colesterol? São eficazes?

Quando a dieta e exercício físico são insuficientes, temos ao nosso dispor vários fármacos que, bem manejados, são bastante eficazes e que seriam suficientes para colocar a grande maioria das pessoas nos seus valores-alvo de colesterol. Os fármacos de primeira linha são as estatinas, que atuam no fígado diminuindo a produção de colesterol neste órgão. Em Portugal, estão comercializadas sete estatinas diferentes, com várias dosagens, que permitem adequar a medicação ao grau de redução de colesterol pretendido. Quando as estatinas são insuficientes, podemos associar medicamentos que atuam no intestino, reduzindo a absorção de colesterol proveniente da alimentação. Utilizando adequadamente estas duas classes de fármacos, conseguiríamos controlar a grande maioria dos doentes. Para aqueles em que esta combinação ainda não seja suficiente, temos recentemente ao dispor em Portugal fármacos novos, de dispensa exclusiva hospitalar e administração subcutânea, que são extremamente eficazes. A seleção dos candidatos a estes novos medicamentos tem de ser criteriosa, pois têm custos elevados.

A toma de estatinas é uma boa opção?

Não são uma panaceia, mas são medicamentos eficazes que, apesar de poderem ter alguns efeitos secundários numa minoria dos indivíduos, têm geralmente um perfil de segurança muito bom. São os fármacos que usamos em 'primeira linha', quando as modificações de estilo de vida não são suficientes para que um indivíduo atinja os valores de colesterol LDL que estão recomendados para o seu nível de risco cardiovascular.

É verdade que a toma de certa medicação para tratar o colesterol pode ser danosa?

Sim, é verdade que nalguns casos (felizmente uma minoria), a medicação para o colesterol pode causar efeitos secundários significativos. Os medicamentos mais utilizados são, de longe, as estatinas. Os seus efeitos adversos mais comuns são as dores musculares que, nalguns doentes, obrigam mesmo a interromper a medicação. Apesar destes efeitos secundários existirem, a relação risco/benefício é francamente favorável na grande maioria das pessoas a quem são receitadas estatinas.

Quando o doente não lida com o colesterol elevado, que consequências pode ter para a sua saúde (nomeadamente o desenvolvimento de doenças cardíacas, enfartes, AVCs)?

Pode não ter qualquer consequência clínica, mas aumenta sem dúvida a probabilidade de vir a ter um evento cardiovascular como um enfarte ou um AVC. O risco de vir a ter um destes eventos não depende apenas do colesterol, mas também da presença de outros fatores de risco como o tabagismo, a diabetes, a hipertensão arterial ou a história familiar. A Organização Mundial de Saúde estima que, anualmente, morram mais de quatro milhões de pessoas no mundo por doenças causadas pelo colesterol elevado. Infelizmente, é relativamente difícil conseguir prever quem (e quando) terá um evento cardiovascular.

Em suma, que medidas a população deve tomar para manter níveis de colesterol saudáveis?

Muito resumidamente: não fumar, ter um estilo de vida saudável com alimentação equilibrada (preferencialmente de tipo mediterrânico) e prática regular de exercício físico. A partir dos 40 anos de idade devem ter uma avaliação periódica do seu risco cardiovascular, incluindo análises sanguíneas com avaliação do colesterol.

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