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O médico explica: Tudo o que precisa de saber sobre o cancro colo-retal

Morre um português por hora vítima de cancro digestivo: os números são gritantes e é necessário criar medidas para os travar. Nesta edição da rubrica 'o médico explica' a médica Sandra Custódio fala sobre a doença que é responsável por 10% da taxa de mortalidade portuguesa.

O médico explica: Tudo o que precisa de saber sobre o cancro colo-retal
Notícias ao Minuto

08:15 - 09/04/19 por Liliana Lopes Monteiro

Lifestyle Doença

O cancro digestivo representa 10% da mortalidade portuguesa, um grave problema de saúde pública que tem registado uma subida nos últimos anos e que agrupa três das doenças que mais matam no nosso país: cancro do Cólon e do Reto, cancro do Estômago e cancro do Fígado.

O cancro do Colón e do Reto é a primeira causa de morte por cancro no nosso país, com uma incidência de cerca de sete mil novos casos por ano e um registo de quatro mil mortes anuais, sendo detetado principalmente a partir dos 50 anos. Contudo, este é provavelmente o tipo de cancro que será mais fácil de evitar com medidas adequadas de prevenção.

"O tabagismo, a obesidade, a diabetes mellitus tipo 2 e a alimentação rica em gorduras e carne vermelha são historicamente associados ao aparecimento de cancro colo-retal, embora estas associações não estejam tão bem estabelecidas", alerta Sandra Custódio. 

Os sintomas são variados, mas marcantes. "A perda de sangue nas fezes é um sinal de alarme, que deve fazer o utente recorrer ao médico assistente num curto espaço de tempo, uma vez que corresponde à forma de apresentação mais comum. Alteração dos hábitos intestinais (alternância entre diarreia/obstipação), cólicas abdominais e sensação de esvaziamento intestinal incompleto, correspondem também a sintomas de alerta. O cansaço, a perda de apetite, e a perda de peso, não explicadas por outra causa, estão geralmente associados a uma doença mais avançada", explica a médica. 

A verdade é que morre um português por hora vítima de cancro digestivo: os números são gritantes e é necessário criar medidas para os travar - Sandra Custódio explica em entrevista ao Lifestyle ao Minuto tudo aquilo que deve saber sobre este cancro tantas vezes fatal. 

O que é o cancro colo-retal?

O cólon e o reto fazem parte do aparelho digestivo e compõem o intestino grosso. O cólon é a primeira porção do intestino grosso (120 a 150 cm) e o reto a última parte (10 a 12 cm).

O cancro do cólon e reto começa frequentemente num pólipo que é um crescimento anómalo de tecido epitelial na parede do intestino. Nem todos os pólipos se transformam em cancro. Os pólipos podem ser removidos antes de se tornarem malignos. Se forem identificadas células malignas no pólipo removido, o doente pode ficar curado, desde que este seja superficial. Quando os pólipos não são removidos e sofrem transformação maligna, podem invadir as várias camadas do órgão e podem disseminar-se pelo organismo.

Quais os órgãos que afeta?

Afeta o intestino grosso (cólon e reto). Quando se torna uma doença avançada com capacidade de disseminação, os órgãos mais frequentemente afetados são o fígado e o pulmão, podendo atingir qualquer órgão.

Quais são os sintomas deste tipo de tumor?

A perda de sangue nas fezes é um sinal de alarme, que deve fazer o utente recorrer ao médico assistente num curto espaço de tempo, uma vez que corresponde à forma de apresentação mais comum. Alteração dos hábitos intestinais (alternância entre diarreia/obstipação), cólicas abdominais e sensação de esvaziamento intestinal incompleto, correspondem também a sintomas de alerta. O cansaço, a perda de apetite, e a perda de peso, não explicadas por outra causa, estão geralmente associados a uma doença mais avançada.

Quais são as causas para o aparecimento desta patologia? Existem fatores de risco que contribuem para o seu aparecimento?

A idade é o principal fator de risco, em que 90% dos casos são diagnosticados em indivíduos com mais de 50 anos. Outros fatores de risco a ter em conta são a Doença Inflamatória Intestinal, como a Colite Ulcerosa e a Doença de Crohn, e história familiar de cancro colo-retal, sobretudo em familiares de primeiro grau e/ou idades de diagnóstico jovens (<50 anos). O tabagismo, a obesidade, a diabetes mellitus tipo 2 e a alimentação rica em gorduras e carne vermelha são historicamente associados ao aparecimento de cancro colo-retal, embora estas associações não estejam tão bem estabelecidas.

Geralmente surge em que idade?

A grande maioria surge em indivíduos com mais de 50 anos, sendo a idade mediana de diagnóstico 72 anos. No entanto, pode surgir em qualquer idade, não devendo ser descurados os sintomas e sinais de alarme já referidos, que justificam investigação.

Afeta igualmente ambos os sexos?

É mais frequente nos homens que nas mulheres. Nos países desenvolvidos, cerca de 1 em cada 20 homens e 1 em cada 35 mulheres irá desenvolver cancro colo-retal ao longo da vida.

Também afeta crianças?

O Cancro colo-retal raramente afeta crianças. Está associado a alterações genéticas/hereditárias e história familiar de cancro em idades jovens. É geralmente mais agressivo e associado a um pior prognóstico, quando comparado com os adultos. Dada a sua raridade, o grau de suspeição é baixo, conduzindo a diagnósticos mais tardios.

Em Portugal qual é a incidência deste tipo de cancro?

O cancro colo-retal é o cancro mais frequente em Portugal, com cerca de 7000 novos casos/ano. Corresponde à primeira causa de morte por cancro, sendo responsável por cerca 4000 mortes/ano.

E no mundo?

O cancro colo-retal, é o terceiro mais comum no mundo, e a quarta causa de morte por cancro. A incidência mantém tendência crescente, com 1.8 milhões de novos casos/ano.

É geralmente fatal?

O prognóstico e a possibilidade de cura, vai depender do estadio (extensão) da doença. Quando diagnosticada precocemente, a taxa de cura ronda os 90%.

Atualmente, com a aposta em programas de rastreio e com a educação para a saúde, alertando para os sinais de alarme (perda de sangue nas fezes, alterações dos hábitos intestinais…), que devem fazer os utentes recorrer ao médico, a taxa de cura ultrapassa os 60%.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico definitivo de cancro é realizado a partir da análise histológica de tecido, obtido através de uma biópsia. Esta biopsia poderá ser da lesão tumoral primária do intestino (acessível por colonoscopia) ou, mais raramente e em caso de doença avançada, de alguma lesão metastática à distância, como do fígado ou do pulmão. Exames de imagem, como o TAC e a ressonância magnética, no caso do reto, são essenciais para o estadiamento da doença, ou seja, para definir qual a extensão da doença, por forma a decidir qual a melhor estratégia terapêutica.

Quais são os tratamentos mais eficazes?

O tratamento vai sempre depender do estadio (extensão) da doença. Hoje em dia a estratégia terapêutica deve ser delineada em Consultas de Grupo Multidisciplinares, onde estão presentes profissionais de saúde de diversas áreas e especialidades (Oncologia, Radioncologia, Cirurgia, Gastrenterologia, Radiologia, Anatomia Patológica, Psicologia, etc). Está demonstrado que a discussão multidisciplinar pode alterar o tratamento de cada situação e aumenta a sobrevivência global, sobretudo em situações de doença avançada.

Em situações de cancro precoce, a exérese de pólipo por colonoscopia, pode ser o único tratamento necessário. Na maioria dos casos o tratamento que vai ditar a cura é a cirurgia. É essencial a remoção do tumor com margens livres e de gânglios linfáticos regionais.

No caso de doenças localmente avançadas (gânglios regionais metastizados, ou presença de outros fatores de risco) o tratamento é geralmente multimodal. Engloba a cirurgia, a realização de quimioterapia, e no caso do cancro do reto deve ser equacionada a possibilidade de realização de radioterapia associada ou não à quimioterapia, antes do tratamento cirúrgico. A combinação destes tratamentos reduz o risco de recidiva e aumenta a sobrevivência global. Em situações de metastização à distância, falar em cura é mais difícil, no entanto, está demonstrado, que quando possível, há benefício em erradicar toda a doença visível (tumor primário e metástases). Para isso podem ser combinadas várias armas de tratamento: quimioterapia associada ou não a outros tratamentos sistémicos (anticorpos monoclonais), cirurgia (tumor primário e/ou metástases), radioterapia (tumor primário e/ou metástases), técnicas de ablação, etc. O tratamento multimodal pode conduzir à cura, e quando isso não é possível, aumenta o tempo livre de doença e a sobrevivência global.

Qual é o prognóstico para o futuro, há esperança de se vir a encontrar uma cura?

A melhor forma é apostar na sua prevenção, evitando os fatores de risco conhecidos, e no seu diagnóstico precoce. É essencial a promoção de hábitos de vidas saudáveis: dieta equilibrada, prática regular de exercício físico, qualidade do sono (cerca de 8 horas diárias).

Em Portugal, está implementado um programa de rastreio, cujo principal objetivo é o diagnóstico de lesões pré-malignas ou de lesões malignas em estadio inicial. Este programa assenta na realização de Pesquisa de Sangue Oculto nas Fezes a indivíduos assintomáticos entre os 50 e os 74 anos, a cada 2 anos. Sempre que o teste for positivo, é mandatória a realização de uma colonoscopia total diagnóstica. Este exame para além de fazer o diagnóstico de lesões malignas, deteta pólipos adenomatosos, que podem ser removidos durante o exame. Estes pólipos adenomatosos correspondem a lesões precursoras de cancro, que quando identificadas e excisadas atempadamente, é evitada a sua progressão para cancro.

Para o caso de doenças mais avançadas, existem cada vez mais ferramentas de diagnóstico e monitorização de doença, assim como novos tratamentos.

Um exemplo é a utilização da biópsia líquida, uma ferramenta inovadora, que no cancro colo-retal, começa a dar os primeiros passos na prática clínica. Distingue-se das biópsias de tecido convencionais, por ser uma técnica simples, não invasiva, cujos resultados poderão estar disponíveis rapidamente. Esta técnica consiste numa colheita de sangue e posterior análise do material genético tumoral em circulação. Em alguns casos, permite a caracterização do perfil molecular do tumor, e consequentemente contribui para uma escolha terapêutica mais diferenciada e célere, de acordo com as alterações encontradas, aumentando assim a probabilidade de sucesso. Assim, prevê-se que a utilidade das biópsias líquidas venha a ser, num futuro próximo, bastante abrangente, com impacto a nível do diagnóstico, do tratamento e monitorização da doença ao longo do tempo, podendo inclusive antecipar a sua progressão.

A evolução e desenvolvimento deste tipo de técnicas, em várias áreas da Oncologia, antecipam que a Medicina de Precisão será também uma realidade no cancro colo-retal, em que o tratamento desta doença será adaptado a cada indivíduo, com a perspectiva de potenciar a eficácia e minimizar os efeitos secundários.

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