Por que tantas mulheres não denunciam a violência doméstica?
Não surpreendentemente, falta de recursos materiais, tais como não ter trabalho ou pouco poder económico, são alguns dos fatores predominantes para que as vítimas permaneçam em relacionamentos tóxicos.
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Lifestyle Dia da Mulher
Falta de apoio – e até culpa – da família, amigos e de profissionais de saúde ou policiais podem provocar o aumento dessa sensação de impotência e desespero causada pelo abuso constante.
Depois, como explica um artigo científico publicado na revista especializada The Conversation, impera regra geral um medo constante, tendo como base a realidade vivida, caraterizada por violência, controlo e perseguição e o temor que essas ações sejam exacerbadas pelo parceiro abusivo após abandonarem a relação.
Por exemplo, o risco de homicídio frequentemente prolonga o tempo que a mulher decide procurar ajuda ou a sair de casa.
Obstáculos escondidos
As razões psicológicas para tantas mulheres decidirem ficar no relacionamento são naturalmente pouco visíveis, o que tantas vezes torna difícil para a sociedade em geral simpatizar com as vítimas.
Os investigadores Daniel G. Saunders e Deborah Anderson descreveram àquela publicação que num primeiro momento a mulher acha que há algo errado com ela ou que é ela que de algum modo está a provocar a situação, e por isso procuram ‘melhorar’ e ficam.
Outras mulheres, segundo os académicos, argumentam que apesar do comportamento monstruoso do parceiro este também é por vezes amoroso, sensível e amável – e por isso ficaram.
“Ele chorou e pediu desculpa”, são frases como estas que tantas vezes são ouvidas explica Saunders.
Willoughby ilustra temas comummente encontrados num estudo que ambos realizaram: os abusadores alteram entre bondade extrema e atos monstruosos; assim a vítima acaba por sentir compaixão quando o homem pede desculpa, esperando que aquele que ainda amam mude; e entretanto o abusador vai destruindo a confiança da vítima.
Abandonar o relacionamento é assim por vezes um processo complexo que atravessa vários estágios mentais: minimizar o abuso a que são sujeitas, tentando até ajudar o perpetuador, procurando por exemplo realizar terapia de casais; finalmente aperceber-se que estão num relacionamento abusivo e perder esperança que as coisas alguma vez irão mudar; e, finalmente, o processo da mulher focar-se finalmente nas suas próprias necessidades pela sua segurança e lutar para ultrapassar quaisquer obstáculos externos.
Descrença e vergonha
Por vezes as respostas do público e profissionais podem dificultar o processo de abandono da relação e do lar. Por exemplo, num estudo realizado o público em geral considerava uma agressão a um parceiro ou parceira como sendo menos séria do que um ataque a um estranho, inclusive se a mesma força de violência fosse utilizada.
E apesar da aceitação da sociedade, incluindo de profissionais de saúde, força policial e juízes ter vindo a diminuir nas últimas décadas, o ato de culpar a vítima de alguma forma pelo abuso a que é submetida ainda persiste e está relacionada a visões e perceções sexistas, tais como a crença de que a discriminação contra as mulheres já não é uma realidade e que as mulheres já têm as mesmas oportunidades do que os homens.
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