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Mergulhar de um penhasco: “Senti que estava a saltar para sempre”

O Notícias ao Minuto esteve em São Miguel, durante o Red Bull Cliff Diving World Series e falou com alguns atletas para tentar perceber o que vai na cabeça de quem salta para o mar a uma altura que se equipara a oito andares. No final, também nós experimentamos saltar - ainda que de uma altura com um terço do que é saltado em competição.

Mergulhar de um penhasco: “Senti que estava a saltar para sempre”
Notícias ao Minuto

14:30 - 20/07/18 por Mariana Botelho

Lifestyle RedBull Cliff Diving

�Assustam-me as possíveis consequências de um salto que corra mal. Quase tanto como ter um emprego das 9 às 5 num escritório”. Quem o diz é David Colturi, atleta de cliff diving, que ficou em segundo lugar na etapa açoriana de Red Bull Cliff Diving World Series, que aconteceu no passado fim de semana, no ilhéu de Vila Franca do Campo.

Esta é uma modalidade que assusta qualquer um dos (poucos) que a pratica. “Cada mergulho, em qualquer localização, assusta-me sempre”, diz Steven Lobue, que dominou o pódio da última etapa decorrida, “acho que todos os mergulhadores dirão o mesmo”. Mas mesmo com medo, não trocavam por nada este que é o desporto radical mais antigo da história.

Nos Açores, única etapa em que além da plataforma há saltos feitos diretamente das rochas, a dificuldade acresce um pouco, mas a etapa em Portugal é sempre apreciada e acarinhada. Para Gary Hunt, que não falhou uma única etapa por cá, “na sétima edição já sabemos com o que contar, por isso podemos apreciar”.

Mas em que pensam antes de se ‘atirar’ de um penhasco ou de uma plataforma a 27 metros do mar?

Steven Lobue gosta de “dançar um pouco para garantir uma boa vibe”, um ritual que se antecede àqueles segundos de concentração mesmo antes do salto: “gosto sempre de tirar um momento para apreciar o lugar onde estamos. Pensar em como chegamos aqui e em toda esta beleza que é vista de um ponto de vista a que poucos têm acesso. Se pudermos apreciar isto, ganhemos ou percamos, está tudo bem”.

"Se pudermos apreciar toda esta beleza, quer ganhemos ou percamos está tudo bem"Focar-se no momento e contemplar o local onde se encontra é também o hábito de David Colturi que respira fundo e absorve a atmosfera. “Mas a partir do momento em que salto, tudo desaparece. Tudo o que posso ouvir é a água, o impacto do meu corpo e focar-me em dois aspetos fundamentais: ter o corpo estático o suficiente para evitar lesões e não pensar demasiado. Temos de confiar no nosso corpo.”

Notícias ao MinutoO americano David Colturi após um salto na etapa açoriana© Red Bull

Não há dúvida de que há muita técnica por detrás do trabalho de quem se aventura constantemente nos vertiginosos saltos, e Meaghan Benfeito confirma-o.

Saltadora olímpica no Canadá, país que representou nos Jogos Olímpicos de Verão 2016, no Brasil, Meaghan conhece bem muitos dos que competem em cliff diving, com quem treina em piscina e cuja evolução acompanha há cerca de vinte anos.

“Crescemos juntos, e ter a oportunidade de ver o quão loucos se tornaram é muito divertido”, conta ao Notícia ao Minuto nesta que é a primeira vez que assiste ao vivo à competição. “Costumo ver online, mas ver aqui ao vivo, aquilo por que passam, é muito diferente. Na TV não parecem nervosos, mas aqui, consegues ver que é assustador. Eles têm medo daquilo que fazem mas fazem no parecer tão fácil. Aprecio muito poder estar aqui”, conta.

O convite da atleta olímpica a São Miguel teve uma intenção especial por parte da organização, que sabe que os avós de Meaghan nasceram na ilha. “É apenas a minha terceira vez aqui, fico um bocadinho triste por isso, mas ter dois países que me apoiam é algo que não poderia pedir mais. Em Montreal é muito diferente, não temos água nem verde, temos neve e está sempre frio. Ter a possibilidade de vir aqui e incrível”, admite.

Notícias ao MinutoMeaghan Benfeito e David Colturi, na conferência de imprensa do final do evento nos Açores© Red Bull

Quanto à inclusão do cliff diving nos jogos olímpicos, algo que foi sugerido pela organização, a saltadora olímpica considera ser algo que deveria acontecer. “É impressionante ver o que eles fazem, não é para qualquer um, por isso acho que deveria ser parte da competição. As pessoas apreciam-no, eles são incríveis, estão sempre cheios de energia e felizes, e isto é algo que precisamos nos jogos olímpicos.”

A celebrar o berço dos seus avós, a proximidade com os cliff divers e o facto de saltar para a água ser também a sua natureza, Meaghan Benfeito foi desafiada a saltar das rochas. Fê-lo com David Colturi, amigo de longa data, de uma altura de entre 15 a 16 metros. “Já estou habituada à distancia entre a água e os 10 metros de onde salto, cinco metros a mais foi muito, senti como se estivesse a saltar para sempre, mas foi divertido”, conta-nos.

Também os jornalistas que acompanhavam o evento foram convidados a saltar. Neste caso, de uma plataforma a nove metros da água do mar. As orientações foram dadas por Meaghan e David e a segurança era garantida pelos mergulhadores presentes na zona onde acontecem os mergulhos (tal como é feito nos saltos de competição). “Eu estou aqui, se for preciso, salto a seguir a vocês” garantiu David Colturi, “mas espero não ser preciso!”, brinca.

Ao aproximar-mo-nos da plataforma, vemos o mar a ficar mexido, ao ponto de só se ver espuma rodeada pelas altas rochas do ilhéu. “O mar é incerto, podemos treinar centenas de vezes e o salto e não correr como queremos pelo movimento das ondas”, explicou Colturi momentos antes, quando o grupo de jornalistas ainda não se encontrava descalço e na zona da plataforma.

“É bom sentir a força da natureza, este sentimento de existência e pertença. É isto o cliff diving”.“É bom sentir a força da natureza, este sentimento de existência e pertença. É isto o cliff diving”. Este foi o testemunho final do americano, mas desta parte só nos lembramos e confirmamos depois de entrar no mar a toda a força após um salto que não deu tempo para pensar.

Nove metros é um terço da altura da plataforma de onde saltam os atletas masculinos. Para as mulheres, o salto é feito de 21 metros, mas atrevemo-nos a dizer que o respeito pelo mar e a sensação de que ‘a natureza é que manda’ está lá. Colturi transmitiu na perfeição e levou-nos a entender porque há quem faça disto vida durante todo o ano e por todo o mundo.

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