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Resistência a antibióticos? "Os médicos têm de prescrever menos e melhor"

Segundo a OMS, prevê-se que em poucos anos os problemas de saúde associados à resistência a antibióticos matem mais do que o cancro. Carlos Palos, coordenador do grupo local do Programa de Prevenção, Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos do Hospital Beatriz Ângelo falou ao Notícias ao Minuto sobre esta realidade, vistaatualmente como um problema.

Resistência a antibióticos? "Os médicos têm de prescrever menos e melhor"
Notícias ao Minuto

08:00 - 02/06/18 por Mariana Botelho

Lifestyle Medicamentos

Os antibióticos não são novidade. Aliás, existem na natureza, sendo produzidos por fungos, plantas ou outras bactérias. Hoje é possível encontrar-se bactérias resistentes com mais de 4 milhões de anos no gelo dos pólos, explica-nos Carlos Palos, consultor de Medicina Interna, Especialista em Medicina Intensiva e Coordenador da Comissão Nacional PPCIRA do Grupo Luz Saúde.

Apesar da sua já longa presença no nosso planeta, e de o próprio ser humano ter no organismo tantas bactérias quanto células humanas, foi apenas no século XX que se começou a usar bactérias resistentes (os antibióticos) em pessoas, nomeadamente a Penicilina, que foi descoberta por Fleming, em 1928.

A descoberta foi de extrema relevância para o avanço da medicina, sem a qual outros progressos não poderiam ter acontecido, por exemplo na área da oncologia. No entanto, o uso de antibióticos em exagero e sem consciência traz problemas associados à grande resistência aos medicamentos, que tornam o nosso organismo sensível a certas bactérias.

Expliquemos a sua forma de atuação. “Os antibióticos são produtos naturais ou sintéticos que atuam nas bactérias com vista à sua destruição ou redução da sua vitalidade”, refere Carlos Palo. “Cada vez que tomamos um antibiótico, estamos a selecionar bactérias resistentes. Com o passar dos anos, a utilização de cada vez mais antibióticos tem agravado o processo”, elucida o especialista, que salienta que a grande maioria dos antibióticos utilizados a nível mundial é aplicada na agro-pecuária e não diretamente em humanos. A contaminação é, por isso, feita através da água e de alimentos consumidos.

As bactérias estão mais resistência e o ser humano mais exposto

A capacidade de multiplicação das bactérias é enorme: “a cada 20 minutos, uma bactéria multiplica-se em duas e nem todas são exatamente iguais, adquirindo ou partilhando entre si alterações genéticas que lhes conferem resistência aos antibióticos.” As que sobrevivem são as que se multiplicam, e deixam o ser humano novamente sensível ao novo corpo bacteriano.

Para acabar com esta crescente multiplicação, é essencial que se diminua a sua utilização. Diz Carlos Palo que os especialistas têm feito um esforço para sensibilizar os profissionais de saúde para “uma boa prescrição, distribuição e administração dos antibióticos.”

São várias as organizações responsáveis por esta ‘missão’, sendo que em Portugal a Direção Geral da Saúde é a entidade responsável por tais campanhas, que se devem estender aos cuidados de saúde primários, ou seja, ainda antes de o doente chegar ao hospital, e onde a prescrição é habitualmente feita. A este nível, o especialista entrevistado refere que “tem de existir um investimento em métodos de diagnóstico, que Portugal não tem efetuado. Os médicos têm de prescrever menos e melhores antibióticos”.

Também a população em geral tem vindo a ser informada sobre o que é este tipo de medicação e como deve ser administrada, já que toda a indevida leva ao “risco de provocar resistências das nossas bactérias, além de outros efeitos secundários como diarreias e infeções por fungos".

A toma de antibióticos deve, então, ser evitada ao máximo?

A esta pergunta Carlos Palo responde que “é uma boa opção não tomar antibióticos quando não são necessários”. Apesar disso, “eles existem para os usarmos para destruir as bactéricas que nos causam infeções. Ou seja, a solução não está em não tomar, mas em tomar ‘bem’ e apenas quando necessário, para diminuir o número de bactérias resistentes, pois o seu uso não nos torna mais sensíveis, “o que acontece é que na próxima utilização, esses antibióticos podem não ser eficazes porque as bactérias se tornaram resistentes”. 

Este tanto é um bom método de defesa para o organismo humano, que novos antibióticos estão a ser descobertos, o que é fundamental no combate a novas bactérias, “mas devem ficar reservados unicamente para situações extremas nos quais os outros não consigam atuar”, esclarece o especialista, que deixa uma mensagem: “novas estratégias de cooperação entre entidades públicas e privadas têm de ser encontradas”. “O problema e as soluções têm de ser encarados numa perspetiva global: humana, animal e ambiental. É o conceito de 'One Health' (Saúde Única), obrigando a um esforço concertado entre áreas que têm vivido separadas", remata.

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