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"Tem de se encontrar talentos novos, mas não esquecer quem fez história"

Atualmente a viver no Brasil, Maria João Bastos esteve de férias em Portugal e conversou com o Fama ao Minuto.

"Tem de se encontrar talentos novos, mas não esquecer quem fez história"

Com 28 anos de carreira no mundo da representação, Maria João Bastos já conta com um currículo recheado de trabalhos e não é só em Portugal.

A atriz está a viver atualmente no Brasil, onde acabou de contracenar com Ricardo Pereira na novela ‘Novo Mundo’, mas nunca se esquece da terra natal. Recentemente, esteve em Portugal e conversou com o Fama ao Minuto sobre todos estes anos de carreira e as experiências profissionais que foi concretizando.

Dona de uma boa forma física aos 41 anos, Maria João Bastos revelou os seus segredos para manter uma silhueta perfeita, tendo sempre o “mesmo cuidado durante o ano todo”. Além disso, falou sobre as grandes perdas da sua vida (o pai e a sua cadelinha Amélie) e também da proximidade que tem com a mãe.

Quando é que nasceu a vontade de representar?

Desde muito cedo que mostrei à minha família que tinha essa vontade. Todas as minhas brincadeiras passavam por isso, relacionadas com espetáculo, teatro, músicas, cantar. Fui mostrando uma apetência muito grande para tudo o que tinha relacionado com isso e, depois, fui também estimulada por eles. As coisas foram surgindo naturalmente: Com 12 anos, comecei a fazer teatro num grupo de Benavente. Claro que para isso foi preciso ter o apoio dos meus pais, e sempre tive. As coisas foram surgindo dessa forma. Depois vim para Lisboa atrás do sonho de ser atriz, que fui concretizando.

Quem são as suas maiores inspirações no mundo artístico?

São vários os atores e atrizes que admiro, como a Merly Streep, que é talvez a que eu admiro mais por todo o seu percurso, a forma como está na sua carreira, a forma como é camaleónica, as suas escolhas, o que representa enquanto atriz e a atriz que é. Isso fascina-me muito. Mas existem outros, são muitos. Existem várias referências diferentes ao longo dos diferentes momentos da carreira de uma pessoa.

Entre muitas outras, quando interpretou Liliane Marise, não deixou ninguém indiferente e foi uma personagem cujo êxito se prolongou durante algum tempo. Quais foram os maiores desafios que sentiu quando deu vida a Liliane Marise?

Foram vários: O aprender a cantar, a dançar e a fazer ambas as coisas ao mesmo tempo. Depois foi todo um trabalho de composição. Não foi necessariamente difícil, mas foi muito trabalhoso. A forma de andar, falar, os erros gramaticais, o trocar os provérbios todos. Tudo isso foi muito estudado e pensado antes de começar a gravar e até durante toda a novela foi-se fazendo um trabalho continuado para trazer coisas novas à personagem.

Sem dúvida de que o cantar e dançar, que era algo novo para mim, exigiu muito esforço da minha parte, muito trabalho, muita dedicação, concentração e foco. Mas também foi um prazer porque foi um grande desafio e eu gosto de desafios.

Na altura chegou a dar um concerto no Pavilhão Atlântico. Essa ideia foi logo aceite?

Essa ideia só surgiu quando a novela terminou. Durante a novela existiram vários convites para viajar para várias cidades do mundo, principalmente na Europa, que nunca foram aceites porque isso não fazia parte do meu trabalho. O meu trabalho era fazer a novela e representar uma personagem. Para mim não fazia sentido e foram todos recusados.

Depois, no final da novela, houve um pedido por parte do público para que pudesse ver a Liliane Marise ao vivo, pelo menos uma vez, achei bonito até uma personagem que tinha apenas um ano de vida ter toda essa repercussão. Por ser um público que tanto me apoiou e que tanto viveu essa personagem, tanto carinho me deu durante o tempo em que eu dei vida a Liliane Marise, achei justo que pudesse vê-la ao vivo e aceitei fazer o concerto no Pavilhão Atlântico.

Foi inesquecível, dificilmente na vida viverei uma experiência tão forte a este nível como a de interpretar a Liliane Marise no Pavilhão AtlânticoComo foi o dia em que subiu ao palco para cantar perante todos os fãs? O que sentiu?

Foi uma experiência incrível. Estive três meses a preparar-me para esse dia porque aí era extremamente difícil para alguém que não tinha experiência estar duas horas em palco a cantar e a dançar. Foi feito um trabalho minucioso a nível de preparação física que passava também por um acompanhamento de uma nutricionista, um controlo muito grande a todos os níveis. Foram três meses em que estive totalmente dedicada à preparação daquela noite que ia ser difícil da forma que eu a queria fazer, que era ser eu a fazer tudo. Foi um esforço que valeu muito a pena. Algo daquela grandeza duvido que volte a acontecer, relacionado com uma personagem. Foram 15 mil pessoas que assistiram a dar vida a uma personagem que eu criei. Não é todos os dias que isso acontece e eu queria estar preparada o máximo possível. Senti-me sempre preparada. Naquele dia senti um nervoso miudinho no estômago, naturalmente pela novidade que iria viver, mas senti-me sempre muito confiante.

Foram duas horas incríveis e depois foram mais quatro horas a dar autógrafos. Foi uma noite muito bonita. Uma homenagem bonita que eu fiz ao público e que o público me fez como atriz. Foi inesquecível, dificilmente na vida viverei uma experiência tão forte a este nível.

Não é a primeira vez que representa no Brasil. Como é que surgiu o primeiro convite?

Surgiu há 18 anos. Tinha acabado de chegar de Nova Iorque, tinha estado lá a estudar. Estava a almoçar com uma amiga quando recebi um telefonema da Globo Internacional a convidar-me para fazer a próxima novela do horário nobre. Fiquei muito espantada, não acreditei porque achei que era uma brincadeira de uns amigos porque sabiam que era uma coisa de que eu gostava e era conhecido esse meu sonho de fazer uma novela na Globo.

Na altura até brinquei um bocadinho ao telefone e disse que tinha de pensar e que me ligassem mais tarde. Quando me ligaram mais tarde, percebi que não era brincadeira e fiquei muito surpreendida e feliz. Obviamente que aceitei. Foi um orgulho enorme receber esse convite.

Tem havido uma vontade de manter parceria com a Globo e isso deixa-me orgulhosa

Era um sonho conquistar o povo brasileiro?

Era um sonho meu de criança. Assistia às novelas brasileiras com a minha família e era um sonho um dia poder estar ali a contracenar com aqueles atores e na Globo que é uma grande produtora de televisão. Foi um passo a mais na minha carreira, uma internacionalização, e era algo que eu tinha alguma vontade de experimentar.

Quando surgiu o convite não hesitei e fui para o Brasil. Já é a quinta novela que faço na Globo, de uma parceria que se tem mantido ao longo destes 18 anos e que é ótima porque assenta na admiração, no respeito pelo meu trabalho e eu pelo trabalho deles. Tem havido uma vontade de manter essa parceria e isso deixa-me orgulhosa.

Sente que já conseguiu conquistar o público brasileiro?

Sim, sem dúvida. Não foi só nesta novela. Esta, por acaso, tem tido muita repercussão, mas não foi só nesta novela. O público ainda hoje nas ruas me fala do ‘Clone’, do papel da minha jornalista Amália. Muita gente, mesmo, e foi há 18 anos. Depois disso já fiz ‘Sabor da Paixão’, ‘Sítio do Picapau Amarelo’ e fiz o ‘Boogie Oogie’. Já são várias novelas. O público brasileiro já me conhece bastante bem. 

O que traz sempre quando regressa do Brasil e o que leva sempre que vai para o Brasil?

Duas fotografias que andam sempre comigo onde quer que esteja, independentemente, de eu ser uma pessoa que gosta de fotografias. Em casa tenho vários quadros, várias fotografias, várias coisas, mas existem duas que andam sempre comigo e que, como tal, quando vou para o Brasil levo-as e ponho nas molduras e quando venho do Brasil trago e ponho nas molduras de cá. 

Quais as principais diferenças entre representar no Brasil e em Portugal? 

Diferenças não existem. Representar é igual em qualquer parte do mundo. É uma entrega, o trabalhar uma personagem e dar-lhe vida. Seja onde for, em que formato for, nós atores damos vida a outras personagens. Agora a nível de estrutura existem algumas diferenças. A Globo é uma produtora com muitos anos, com uma estrutura enorme e aí existem algumas diferenças. Gravam-se os exteriores dentro do Projac, não se grava na rua como se grava aqui. Mas o representar uma personagem não muda.

Considero o Brasil a minha segunda casa. Já faz parte da minha vidaO que a fez querer regressar ao Brasil?

Já considero o Brasil a minha segunda casa. É ir a casa, estar com os meus amigos de 18 anos que já são família, são as propostas de boas personagens que eu acho que vão acrescentar algo à minha carreira, o regressar a um lugar que me é especial. Já faz parte da minha vida.

O que mais aprendeu com a estrutura da ficção brasileira?

O trabalho de preparação que se faz na Globo antes de um projeto é muito intenso e isso ensina-nos muito porque eles têm uma preparação grande, proporcionam aos atores muitas ferramentas que são caras de proporcionar, mas eles têm essa capacidade. Se calhar em Portugal nós não temos a mesma capacidade financeira, investimento num produto que é impossível ter, eles são uma das melhores produtoras do mundo e exportam para o mundo inteiro. Não é comparável a estrutura que eles têm com a nossa. Também não é expectável que o investimento seja o mesmo. 

Pretende dar continuidade à sua carreira lá ou há planos para regressar a Portugal definitivamente?

Mantenho esta relação há 18 anos e assim pretendo continuar. O que me move são os projetos, as personagens, os desafios. Se forem em Portugal são em Portugal, se forem no Brasil são no Brasil, como poderão ser noutro país. Desde o momento que eu considere que o projeto me vá acrescentar algo como atriz, me vá ensinar, fazer crescer, é isso que me move. Não me restrinjo apenas a um lugar, a um país. Já há muito tempo que não faço isso e pretendo continuar a investir noutras propostas, ideias, oportunidades, noutros mercados.

Gostava de experimentar novos mundos como Hollywood?

Não sei se ia para lá viver, isso não creio, mas obviamente que se surgisse uma oportunidade não diria que não. Como não diria que não a outro mercado que eu achasse interessante, mas é mais o projeto do que o mercado. Tem de ser um projeto que me fascine e que me interesse, não propriamente o mercado em si.

A maior lição que o John Malkovich me deu foi que quando se está preparado não há nada a temerJá teve a oportunidade de interpretar alguns papeis no cinema internacional, inclusive de representar ao lado de John Malkovich. O que aprendeu com o ator?

A maior lição que o John me deu foi realmente que quando se está preparado não há nada a temer, vai correr bem com certeza. É entrar num jogo e divertirmo-nos. Nós ensaiámos juntos, conversámos muito sobre a nossa cena e eu lembro-me do que ele me disse na última vez que estive no camarim dele a passar a cena: ‘Não vamos esperar mais porque tu estás preparada, eu estou preparado, portanto vai dar certo. Vamo-nos divertir’. Ele passou-me tanta segurança...

Sente que Portugal ainda está muito atrás no que toca ao mundo artístico em relação aos restantes países europeus?

Acho que nós temos produtos muito bons e muitas capacidades. Isso vê-se nos festivais de cinema europeus, onde a participação de produção portuguesa é grande. Isso mostra que nós temos uma grande capacidade de fazer chegar. Temos é pouco suporte, pouco investimento, pouco dinheiro às vezes para fazer as coisas e isso dificulta sem dúvida nenhuma. Mas não me parece que tenhamos pouca capacidade. Existe é pouco investimento, pouco dinheiro para fazer bom cinema.

Em termos de representação, Portugal perdeu recentemente algumas das suas referências, tendo várias outras bastante envelhecidas. Acha que está a ser feito o suficiente para rejuvenescer o panorama?

Preocupar-me-ia mais em dar mais oportunidades a atores que têm grandes carreiras e que deviam estar a representar porque são muito bons. Obviamente que se tem de encontrar novos talentos e investir em novas oportunidades, novas pessoas, mas não vamos esquecer quem fez história no cinema português e na televisão portuguesa. É importante essas pessoas terem um espaço e um lugar.

Quando estou a representar estou a fazer uma personagem, portanto não existe nada que, se se justificar, eu não fizesseHá alguma coisa que acredita ser incapaz de fazer no mundo da representação ou está aberta a todos os desafios?

Não. Eu quando estou a representar estou a fazer uma personagem, portanto não existe nada que, se se justificar, se for essa a história que se está a contar, eu não fizesse. Até porque não faz sentido. Acho que não há nada que eu me opusesse a fazer. Dentro do guião que eu escolho, sim, crio as minhas limitações.

Olhando para trás, ainda que tenha muita carreira pela frente, o que diria à jovem Maria João Bastos, que conselho de carreira lhe daria?

Continua com essa determinação e com essa garra. Continua a correr atrás dos teus sonhos.

O que retira destes 28 anos de carreira? O que ainda falta aprender?

Falta aprender muita coisa. Felizmente nós somos seres que precisamos constantemente de criar, aprender, estimular, desafiar e evoluir. Eu pelo menos sinto-me assim como pessoa e, obviamente, sinto-me assim como profissional porque sou uma artista e os artistas precisam constantemente de se alimentar. Olhando para trás, orgulho-me muito do meu percurso e das escolhas que fiz. Acho que uma carreira bem sucedida se prende sempre com as escolhas que se faz e nem sempre é fácil. Às vezes temos de dizer que não e aprender a dizer não, não é fácil, mas é imprescindível. Nem todos os momentos foram fáceis, mas isso ainda tornou tudo mais precioso.

Tive uma infância muito feliz. Foi-me dada a liberdade de poder ser quem quisesse, de poder escolher o meu caminhoQuais as melhores memórias que ficam da sua infância?

Tive uma infância muito feliz. Diria a liberdade que me foi dada de poder ser quem quisesse, de poder escolher o meu caminho. Isso acho que é talvez das coisas que me marca mais e que faz mais parte da minha personalidade, que foi importante na minha formação.

Aos 18 anos perdeu o seu pai... Hoje já aprendeu a lidar com a dor desta perda?

É uma saudade que nunca passa, mas que se aprende a viver com ela.

Quais os melhores conselhos que ficaram do seu pai?

São vários. A liberdade que os meus pais me deram de poder ser aquilo que eu queria, o apoio, o fazerem-me acreditar que eu podia conseguir, que bastava eu querer e trabalhar para isso, foi a melhor herança que eles me deram sem dúvida nenhuma. Esse apoio foi fundamental para que eu estivesse onde estou hoje e conseguisse tudo o que consegui e para que me tivesse realizado profissionalmente. Sem essa base não sei se teria conseguido às vezes ultrapassar certas coisas difíceis. Subir degrau a degrau, às vezes tropeçamos. O saber levantar e continuar talvez seja a grande lição de vida que eu recebi deles.

Disse, recentemente, que apesar de estar no Brasil janta todos os dias com a sua mãe. Sente que a sua ligação com ela ficou mais forte?

Sinto que eu fiquei mais protetora. Sinto que desde o momento em que perdi o meu pai talvez tenha transferido muitas coisas para ela. Sempre fomos muito unidas, mas acho que tivemos de nos unir as quatro para superar. Passei a sentir uma responsabilidade maior do que até então. Como se eu tivesse essa responsabilidade de agora cuidar dela. E ela ficou com essa responsabilidade de cuidar sozinha de nós e juntas conseguimos esse apoio que foi fundamental na vida de todas.

Recentemente, sofreu com a partida da sua cadelinha, Amélie. Uma dor que permanece… Do que é que sente mais falta?

Ela estava sempre comigo. Ela passava o dia inteiro comigo, fazia parte da minha vida 24 horas por dia. Sinto falta dela em todos os momentos.

Já pensou em adotar outro cão?

Não pensei em nada disso. Ainda é muito cedo, mesmo.

Tenho cuidado com a alimentação e procuro sorrir e ser feliz

Dona de uma boa forma física, quais os segredos para manter a vida saudável? 

Quando a minha vida me permite, tento sempre praticar desporto. Nem sempre consigo com tanta viagem e às vezes os projetos são demasiado intensos ou em lugares difíceis. Gostava, às vezes, de ser mais disciplinada para conseguir manter uma rotina diária, mas efetivamente não consigo, é mais por períodos. Mas quando tenho um período em que isso para mim é fácil e consigo, sou uma pessoa que gosta de praticar desporto com regularidade. Tenho cuidado com a alimentação e procuro sorrir e ser feliz. Acho que isso é a primeira porta para que depois tudo seja harmonioso. Não basta fazer exercício físico, tudo é um equilíbrio.

Se calhar, às vezes, faz-me melhor parar, descansar e ler um livro do que ir para o ginásio uma hora. Respeito um pouco aquilo que o meu corpo e a minha mente me pedem e acho que esse equilíbrio é o que me torna saudável. Sou saudável porque faço várias coisas e procuro ter um estilo de vida saudável. E isso é muita coisa, não é só ir ao ginásio.

Depois de uma crise profunda que marcou o país, durante os últimos dois anos temos tido algumas conquistas e muitas razões para sorrir. Salvador Sobral é o mais recente 'feito' português. Que comentário lhe merece este período e esta vitória?

Gostei muito de ver o Salvador. Acho que ele merecia. É um cantor extraordinário e fez uma performance singular e muito marcante, por isso é que ganhou. Foi consensual, uma vitória bem merecida, assertiva e acho que, acima de tudo, o Salvador encantou as pessoas com a pessoa que demonstra ser. Pela humildade, por ser genuíno, pela verdade com que canta, a verdade com que fala. Encantou as pessoas e isso é que é ser artista, esse carisma. Não basta apenas cantar bem e não basta apenas ser simpático. Ele tem tudo. Encantou Portugal, a Europa e eu fiquei muito feliz com a essa vitória.

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