Dalila Carmo abriu o coração para, pela primeira vez, falar sobre a doença com a qual foi diagnosticada há 20 anos: epilepsia.
Tal aconteceu durante a ida da atriz, de 51 anos, ao podcast da Antena 1 'Fala com ela', apresentado por Inês Meneses.
Confessando que sente muitas saudades de fazer teatro, Dalila revela que se afastou em 2000, depois de ter desmaiado em palco. Foi nessa época que descobriu o seu diagnóstico.
"Há uns anos desmaiei em palco e isso foi um episódio muito traumático e que, de certa forma, condicionou a minha relação com o teatro e me obrigou a doseá-lo, a faseá-lo e, sobretudo, a fazê-lo rodeada apenas por pessoas de quem me sinto próxima e com quem eu não tenho um sentimento de culpa", reflete.
"Isto vem de uma condição médica crónica e eu assustei-me muito. Foi em 2000/2001 e só para aí há cinco anos, depois do 'Noite de Estreia', é que comecei a perceber: 'ok, está tudo mais ou menos controlado'. Mas a verdade é que o trauma e o medo de que isso me voltasse a acontecer me impediu de fazer muitos projetos", confessa.
Na altura em que desmaiou, Dalila diz "ter ficado sem chão", com um "sentimento de impotência". "Ficamos às portas da morte, porque são síncopes. Isso é pavoroso. É o medo da morte", explica.
"Eu tenho epilepsia. É a primeira vez que eu o estou a dizer, nunca falei sobre isto. É uma coisa que condiciona, porque te limita imensa coisa do ponto de vista cognitivo, das emoções, da capacidade de trabalho. Há coisas que tens de fazer opções e eu já percebei que não posso ser uma máquina e que não posso fazer duas ou três coisas ao mesmo tempo, tenho de parar. Às vezes tenho pena de não ter força física e mental para não produzir mais, mas não consigo", afirma.
De que forma Dalila Carmo lida com o diagnóstico de epilepsia?
A atriz explica que passou a relativizar as coisas e que o facto de conhecer (dentro do possível) como funciona a sua cabeça a tem ajudado a lidar com a sua condição.
"Passamos a saber quais são as nossas limitações, as nossas balizas. Mesmo quando eu vou de viagem o meu neurologista põe as mãos à cabeça, porque fica sempre com medo que eu tenha um episódio sozinha. O grande perigo é isto acontecer quando eu estou sozinha. Nunca aconteceu, mas eu tenho esta mania de achar que sei resolver as coisas sozinha, porque já sei o exercícios", conta.
"O problema é que ele me disse: até agora tens conseguido, tens tido essa premonição, sabes que vai acontecer e tens uns segundos para reagir. Só que esta é uma condição obscura, é uma condição que nunca sabemos o que pode desencadear e pode haver um dia em que ela não me avisa e pode me acontecer, eu não estar de aviso prévio e não ter essa capacidade, seja quando estou a conduzir fora. Não sei, nunca sei. A própria medicina não sabe explicar", continua.
"Não posso deixar de viver, não posso deixar de fazer as coisas, é só estar consciente, porque a partir do momento em que sabemos das nossas condições e dos nossos limites é muito mais fácil tu aprenderes, procurares as tuas ferramentas e a trabalhar nelas", realça.
Por outro lado, a artista acredita que é importante falar sobre isto com as pessoas mais próximas, de maneira a que estas saibam como agir.
"Durante imenso tempo foi um tabu, imensa gente me disse que não podia falar sobre isto, porque podia ficar sem trabalho e, de facto, sempre vivi muito encolhida por esta condição. Só agora é que estou a aprender a descontruir. Eu tenho isto, desculpem. Não consigo fazer mais, facilmente tenho um 'burnout' [esgotamento] e a minha cabeça precisa de ter a liberdade", diz, por fim.
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