Completam-se hoje 28 anos desde que o mundo se despediu da princesa Diana, após um trágico acidente de carro no túnel da Ponte de l'Alma, em Paris, França.
Tal como a princesa de Gales, também o namorado desta, o milionário egípcio Dodi Al-Fayed, assim como Henri Paul, motorista que conduzia em fuga dos paparazzi, a alta velocidade, perderam a vida de imediato.
O Notícias ao Minuto esteve à conversa com a historiadora Aline Gallasch-Hall de Beuvink, professora universitária e especialista em famílias reais, que nos falou sobre a morte da eterna 'princesa do povo' e sobre a 'Firma' na atualidade, marcada pelas polémicas à volta de Harry e o futuro de William no trono, uma vez que Carlos III continua a batalhar contra um cancro.
Na altura em que a princesa Diana morreu, com que perceção é que ficou desta morte? Afinal, foi um dos acontecimentos mais marcantes dos anos 1990.
Sem dúvida! A morte da princesa Diana foi um choque, porque ela era ainda muito nova, tinha 37 anos. Era um ícone não só de beleza e de moda, mas também pela maneira como revolucionou a forma como o mundo via a família real.
O funeral da princesa Diana aconteceu na Abadia de Westminster a 6 de setembro de 1997© Getty Images
Sabemos que a família real inglesa é o protótipo. Há várias famílias reais, mas não têm tanto impacto como a inglesa por todas as questões históricas, como o império britânico, o papel que teve na II Guerra Mundial, etc.
A princesa Diana revolucionou-a. Primeiro porque o casamento dela, um conto de fadas, apaixonou o mundo inteiro. Depois devido à tragédia relacionada com o caso de Carlos com Camilla. Na altura, foi um escândalo muito grande.
Tudo isto gerou uma apetência do mundo inteiro para estar a controlar os passos da princesa Diana. Controlar de forma doentia, foi isso no fundo que precipitou a morte dela. Os filhos, sobretudo o príncipe Harry, culpam a imprensa pela morte da mãe. Precipitou, é verdade, porém ela morreu porque o motorista estava bêbado.
Portanto, até a morte dela foi uma tragédia a todos os níveis. Tornou-a mais próxima da população, daí até ter sido chamada de 'princesa do povo'. Não estou a endeusar a princesa Diana, atenção, acho que ela cometeu muitos erros, também era muito nova e não teve perceção de certas coisas devido à sua ingenuidade.
Contudo, chamou a atenção para problemas gravíssimos, como por exemplo as minas. Também teve aquele gesto de abraçar e acarinhar as pessoas com SIDA. Isso foi um marco.
Em 1996, um ano antes da sua morte, a princesa Diana visitou o London Lighthouse, um centro de cuidado a pessoas infetadas com VIH© Getty Images
Considera que o casamento de Diana e Carlos teria tido o mesmo impacto se acontecesse hoje?
Como historiadora não posso dizer que agora o impacto seria outro. Não me parece. O casamento de William com Kate também teve bastante impacto. Esses 'ses' não se põem.
O príncipe Carlos e a princesa Diana deram o nó a 29 de julho de 1981 na Catedral de São Paulo, em Londres© Getty Imagens
A Meghan não tem nada a ver, é uma alpinista, uma dissimulada, está mais do que comprovado.Há muitas pessoas que comparam a história de Diana de Gales com a do filho, Harry e Meghan. Concorda com esta perspetiva?
A Meghan não tem nada a ver, é uma alpinista, uma dissimulada, está mais do que comprovado, já se percebeu que ela manipulou o Harry de maneira a conseguir pertencer à família real.
O príncipe Harry e Meghan no dia em que anunciaram o seu noivado: 27 de novembro de 2017© Reuters
A Meghan está a forçar essas comparações desde o início. Qual é a mulher que vai para um primeiro encontro usando o perfume que a mãe dele usava? É doentio.As comparações surgiram quando Harry se queixou de ter sido perseguido por paparazzi em Nova Iorque, por exemplo. E mesmo quando Meghan diz que as suas dores não foram ouvidas nem valorizadas pela realeza.
A Meghan está a forçar essas comparações desde o início. Qual é a mulher que vai para um primeiro encontro com o perfume que a mãe dele usava? É doentio.
O mundo inteiro sabe que Harry é um rapaz com problemas, que ficou profundamente abalado com a morte da mãe, nunca superou, portanto procurou para sua mulher uma figura semelhante à mãe. Ela, apercebendo-se disso, não fez outra coisa se não tentar imitar a princesa Diana.
Foi provado que eles não foram perseguidos em Nova Iorque, foram até alvo de chacota a propósito disso. Já foi comprovado que na famosa entrevista a Oprah Winfrey ela mentiu pelo menos 17 vezes.
Em 2021, Harry e Meghan deram uma entrevista a Oprah Winfrey para falarem sobre a sua polémica saída do núcleo sénior da família real britânica© Getty Images
Eles estão em queda livre. No início as pessoas acreditaram, mas começaram a perceber rapidamente que tudo o que eles estão a fazer não se coaduna com aquilo que eles defendem. Uma pessoa não pode dizer que quer privacidade e expõe a sua vida completamente.
Nunca se poderá comparar o caso de Meghan com a princesa Diana, porque apesar de tudo Diana tinha noção da importância da Coroa, da instituição. E o que Harry e Meghan estão a tentar fazer é tentar destruir a instituição.
Harry deu uma entrevista à BBC na qual referiu que queria fazer as pazes com o pai, o rei Carlos III. Não haverá aqui um ganho de consciência de Harry depois de saber que o pai tinha cancro?
Não acho isso. Acho é que ele está a ficar sem dinheiro, porque os contratos que eles tinham com várias empresas não estão a ser renovados. Não têm onde ir buscar dinheiro. Está a virar-se para o pai e a ver se, através de chantagem emocional, consegue voltar a ter a vida que tinha antes.
Se o Harry tivesse algum peso na consciência, antes de falar com o pai teria dito publicamente que o que disse era mentira. Se não fez isso, não está com boas intençõesNão acredita que Harry esteja a ser sincero, portanto.
Não, não acho, porque sempre que a Meghan tem possibilidade, quando é entrevistada, dá sempre uma facada à família real, manda sempre uma indireta, e ele nunca veio pedir desculpa por aquilo que se disse.
Se ele tivesse algum peso na consciência, antes de falar com o pai teria dito publicamente que o que disse era mentira. Se não fez isso, não está com boas intenções. É a maneira como vejo as coisas.
Por outro lado percebe-se que Carlos III tem uma enorme paciência em relação a Harry. Será que é porque ele próprio também cometeu tantos erros no passado? Parece que o rei tem uma benevolência que William, por exemplo, não tem.
Não, o William tem uma personalidade diferente. Além disso vai ser o próximo rei.
Carlos III é pai em primeiro lugar, naturalmente que nunca vai deixar de gostar do filho. E tem um carinho especial porque o Harry era muito pequenino quando tudo aconteceu, portanto teve um impacto diferente quando a mãe morreu.
Aquilo que Harry e Meghan disseram prejudicou muito a família real, a instituição, danificou muito a confiança que os súbditos tinham. Aquilo que fizeram impactou na saúde da rainha Isabel II e do marido, o príncipe Filipe. Filipe de Edimburgo estava nos últimos meses de vida, muito debilitado, e o Harry não teve nem dó nem piedade para dizer as mentiras que disse.
Filipe de Edimburgo, marido da rainha Isabel II morreu aos 99 anos a 9 de abril de 2021© Getty
No futuro quando William for rei há a possibilidade de haver uma reaproximação entre os irmãos?
Julgo que não será possível reatar os laços enquanto Harry e Meghan não reconhecerem que erraram. Enquanto publicamente não assumirem que a família real não era aquilo que eles pintaram, dificilmente vão reatar.
Mudando um pouco de assunto, agora na realeza temos um Carlos que é rei e uma Camilla que contra todas as expectativas se tornou rainha. O tempo ajudou a mudar a imagem que as pessoas tinham deste romance?
Julgo que as pessoas perceberam que o amor venceu. Repare que no final da vida a princesa Diana já tinha desculpado a situação. Se ela própria o fez, quem somos nós para não o fazer?
A rainha Camilla tem feito um trabalho extraordinário. Apesar de Camilla e Carlos III não serem os mais acarinhados da família real, mesmo assim contra todas as expectativas têm subido na popularidade.
Carlos e Camilla casaram numa cerimónia civil a 9 de abril de 2005© Chris Jackson/Getty Images
Camilla é um exemplo de resiliência, sobretudo se nos lembrarmos que durante anos foi alvo de chacota e, ainda assim, manteve o mesmo comportamento.
Repare que enquanto a rainha Isabel II foi viva, Camilla estando casada com o príncipe de Gales nunca ficou com este título, precisamente por causa da memória da princesa Diana.
A rainha Camilla tem-se mostrado a pessoa ideal para ocupar o lugar que ocupa. É aquela pessoa que está junto do rei e que o ajuda. Aguenta o que for preciso aguentar porque a instituição está em primeiro lugar e nem toda a gente é capaz de fazer isso. Em certa medida a princesa Diana não o conseguiu fazer.
Carlos III, mesmo aparentando estar saudável, continua a lutar contra o cancro…
E o cancro é incurável. Ele está a fazer quimioterapia e radioterapia para ir aguentando, mas já vieram notícias que dizem que é incurável.
É inevitável pensar num futuro cada vez mais próximo que William não queria assumir para já.
Não é por acaso que o Harry está a tentar reconciliar-se, porque sabe que o cancro que o pai tem é incurável e que não tem muito tempo.
Sabe que o irmão não é tão benevolente para com ele como o pai é. O que ele disse no livro, a forma como tratou Catherine e a maneira como deixou Meghan se intrometer na família, são demasiadas coisas para se deixar passar.
Até porque há aqui uma quebra de confiança. "Estou aqui com o meu irmão e o que será que vai dizer um dia que se zangar comigo", poderá pensar.
Nem é só isso. Todos os membros da família real, da mais restrita à alargada, quando Harry e Meghan foram às várias cerimónias, como o Jubileu e o funeral da rainha, nenhum membro da família real ficou sozinho com eles. Exatamente porque não sabiam se eles tinham gravadores. Só falaram do tempo.
William e Harry estão de costas voltadas desde que o duque de Sussex anunciou em 2020 que iria seguir um caminho independente com Meghan Markle.© Getty Images
Estando William mais perto de ser rei, quais serão os maiores desafios que terá no seu reinado?
Um dos maiores desafios será lidar com os problemas familiares. Julgo que estará preparado para ocupar o lugar do pai. Seja quais forem os desafios que terá de enfrentar acho que vai estar à altura. Já mostrou que é uma pessoa capaz, responsável, resiliente e que tem a garra do pai e a humanidade da mãe. Para além disso é acarinhado por todos. Acho que será uma nova fase para a coroa britânica.
Há mais traços de semelhança entre Catherine e a princesa Diana do que aquilo que querem forçar entre Meghan e Diana.E terá a seu lado a princesa Kate.
Sim. Há mais traços de semelhança entre Catherine e a princesa Diana do que aquilo que querem forçar entre Meghan e Diana. Ninguém foi mais perseguida do que ela quando era namorada e noiva do príncipe William. Foi humilhada e alvo de chacota não só por toda a imprensa britânica, mas por parte da elite, dos amigos de William. Ela aguentou com uma força admirável.
Quando eles separaram e tudo indicava que não voltariam, ela manteve-se em silêncio absoluto, nunca falou sobre a relação deles, nunca fez um comentário e foi tentadíssima para o fazer. Mostrou que tinha todo o perfil para estar à frente desta instituição ao lado do futuro rei do Reino Unido. Eles estão preparadíssimos para o que vem aí.
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