'Pátio da Saudade' chega hoje, Sara Matos protagoniza. Falámos com elenco

Sara Matos, José Raposo, Ana Guiomar, Gilmário Vemba e José Pedro Vasconcelos integram o elenco do filme 'O Pátio da Saudade', que se estreia esta quinta-feira, dia 14 de agosto. Os atores conversaram com o Notícias ao Minuto sobre este projeto realizado por Leonel Vieira.

Sara Matos - O Pátio da Saudade

© O Pátio da Saudade

Marina Gonçalves
14/08/2025 10:41 ‧ há 1 hora por Marina Gonçalves

Fama

O Pátio da Saudade

Foi no verão do ano passado que aconteceram as gravações de 'O Pátio da Saudade', a mais recente longa-metragem do realizador Leonel Vieira que chega aos cinemas esta quinta-feira, dia 14 de agosto. 

 

No papel da protagonista está Sara Matos, com a personagem Vanessa, e a atriz lembrou junto do Notícias ao Minuto o "imenso calor" que estava quando rodaram o filme, sem esquecer a "diversão" que foram as gravações.

Como nos conta a sinopse, "Vanessa (personagem de Sara Matos), é uma atriz de televisão que recebe a inesperada notícia da morte de uma tia afastada do Porto, que lhe deixou em testamento um antigo teatro em ruínas, símbolo dos tempos dourados da Revista à Portuguesa.

Apesar das insistências do seu agente, Tozé Leal (papel de José Pedro Vasconcelos), para vender o edifício, Vanessa sente-se profundamente ligada à memória do teatro e decide reunir os amigos Joana (Ana Guiomar) e Ribeiro (Manuel Marques) para montar um espetáculo capaz de ressuscitar a antiga glória do teatro. No entanto, a sua ambição enfrenta a resistência de Armando (José Raposo), proprietário de um teatro rival que fará de tudo para travar este sonho."

Falando da sua experiência neste projeto, Sara Matos destacou que "foi espetacular". "Foi uma rodagem muito leve, muito divertida. Estava rodeada de humoristas, de atores que fazem comédia espetacularmente bem. Não sou propriamente a personagem que tem de fazer rir, sou o fio condutor."

A personagem de Sara Matos, Vanessa, integra o elenco de uma sitcom que lhe dá "visibilidade, reconhecimento, estabilidade financeira", mas "ambiciona mais". Até porque acaba por ficar muito associada a este papel na sitcom como um 'rótulo'.

Questionada pelo Notícias ao Minuto sobre se isto acontece na sua vida real, a atriz respondeu: "No meu caso, não sinto que tenha acontecido porque tenho trabalhado bastante nas três áreas. Mas a verdade é que também é importante perceber que temos uma personagem que várias vezes lhe perguntam 'você é menina do biquíni amarelo, não é?'"

O que acaba por ter aqui presente uma objetificação? "Não é bem isso. A verdade é que a Vanessa está numa fase de vida em que isso foi o trabalho que expôs até ali, por isso é natural que as pessoas se lembrem dela precisamente por causa disso. Se nós não levarmos isso tão a peito, é natural que a pessoa pergunte 'você é a menina do biquíni amarelo', porque a conhecem. E é aqui que ela inicia a sua vontade de ir a castings, fazer audições… Fazer algo diferente.

Qualquer um de nós sente isso ao longo da vida, quer arriscar, quer fazer uma coisa diferente, e isso dá para tudo, profissionalmente, amorosamente, em relações entre mães e filhos. E é justo, está tudo certo com isso, mas não nos podemos esquecer do trabalho que fizemos até lá. É importante também criar um espaço de paz e perceber que não é do nada que as pessoas perguntam 'eu conheço-a do biquíni amarelo'. É porque a estrutura, a vida dela, o percurso artístico baseou-se muito naquele tipo de formato. Se não entrarmos logo a pé juntos é justificável, neste caso."

'O Pátio da Saudade', diz Sara Matos, é um filme "ideal para o verão" e "para toda a família". "Principalmente agora nesta altura das férias em que passamos horas na praia. Podem fazer uma coisa diferente e ir ao cinema."

Além deste filme, partilha, Sara Matos está prestes a ver estrear uma série na HBO da qual faz parte, mas não adiantou mais pormenores, apenas referindo que é um drama. Depois, revela também, tem mais projetos a estrear no início do próximo ano. 

José Raposo: "A revista terá sempre lugar enquanto voz de crítica do que se passa socialmente e politicamente no país e no mundo"

No papel de Armando está José Raposo, tendo sido um grande "entusiasmo" para o ator o facto de o filme incluir o teatro de revista - um género pelo qual tem um grande carinho. 

Entre os elogios a Leonel Vieira que, diz, "é um grande realizador, diretor de atores e uma pessoa que tem um conhecimento muito abrangente do cinema", José Raposo conta ao Notícias ao Minuto a história que compõe este 'O Pátio da Saudade'. 

"Tem um pouco a ver com o decair da revista no sentido de ter ficado um género de teatro decadente. O filme retrata a importância que sempre teve em relação à identidade dos portugueses - a revista à portuguesa. Há uma revista sempre em permanência no Teatro Maria Vitoria, mas houve épocas onde haviam quatro, cinco, seis teatros a fazer revista à portuguesa."

Abordando um ponto mais específico sobre a sua personagem, que começa com uma certa inveja mas termina com a união da classe artística, comenta: "Tem muito a ver com isso, que é o que é necessário cada vez mais, que as pessoas se unam, que se deixem de nichos, de conchinhas, de grupetas, que isso acontece muito no meio artístico - não vale a pena dizer que não, porque é verdade. Sempre lutei contra isso, não pertenço a nenhum desses nichos nem a nenhum desses grupos. Sempre fiz de tudo porque sou ator, quero é representar."

"A revista é tida como um género conotado com o regime antigo, fascista. E isto é de uma estupidez tão grande e tão injusta porque, exatamente no tempo do fascismo, a revista era o único espetáculo onde, mesmo com censura, se conseguia criticar o regime político - com as piadas, com bocas, era tudo um pouco nas entrelinhas, o que motivava os autores e os atores a terem uma criatividade maior para não serem muito diretos na crítica. Mandavam as bocas de uma forma muito subtil. E o público apanhava tudo isso, por isso é que adorava ir à revista porque era ali que se revia", sublinha José Raposo.

"O facto de termos tido, felizmente, uma revolução e a liberdade existir fez com que a revista se abrisse muito mais na crítica, portanto, não podia esconder. Muita gente diz que isso foi um pouco a razão de a revista ter começado a decair. Acho que não, porque não há motivos maiores para criticar tudo o que se passa hoje em dia. Tanto que utilizam muito hoje em dia no stand-up, por exemplo, a crítica política e social. A revista terá sempre lugar enquanto voz de crítica do que se passa social e politicamente no país e no mundo", acrescenta o ator. 

No entanto, destaca, "a revista nunca morreu", até porque, realça, há vários projetos deste género teatral espalhados pelo país, mas mais "regionais, amadores". 

"É engraçado que mesmo tendo origens em França, é um tipo de espetáculo que se adaptou muito bem à nossa forma de ser e de estar, à anedota do português. Somos muito da anedota, da graça brejeira. Brejeira, não é ordinária", reflete.

O ator aproveita ainda para deixar uma 'mensagem' ao Governo. "O teatro de revista, acredito que mais tarde ou mais cedo vá reaparecer em grande porque tem tudo para ser um grande espetáculo. O grande problema em Portugal são os orçamentos. É sempre o dinheiro, não há dinheiro para a cultura, não há dinheiro. A revista, ainda por cima, é um espetáculo glamoroso, exige um investimento. Mas estou de acordo que seja conotado como um espetáculo comercial. É, sem dúvida, um género comercial, para o grande público, para ganhar dinheiro pela bilheteira e não com subsídios. Os subsídios isso é outra história. A revista nunca viveu de subsídio nenhum. Acho, no entanto, que devido à situação frágil em que se encontra este género de teatro, o Estado - pela sua importância, exatamente como um teatro que se identifica muito com a nossa cultura – devia fazer como fizeram os espanhóis, que instituíram uma Companhia Nacional de Zarzuela. A Zarzuela já não tem aquela força que tinha há uns anos, como a revista tinha aqui, e eles fizeram a Companhia Nacional. Porque não uma Companhia Nacional de Revista Portuguesa? Fazia todo o sentido."

Além disso, o ator recordou: "O Raul Solnado criou um grupo em que fomos à Assembleia falar com os políticos para ver se se conseguia formar uma companhia nacional de revista portuguesa, que fazia todo o sentido, mas os políticos aqui estão-se a marimbar. Nem para a cultura quanto mais agora para um género específico. É muito complicado, infelizmente."

Ana Guiomar: "Gostava de fazer muito mais cinema do que aquilo que faço"

Em conversa com o Notícias ao Minuto, Ana Guiomar não deixa de abordar um dos pontos do filme que é a procura dos atores por projetos "eruditos", fazendo uma ponte para a realidade foras das câmaras. 

"Nós estamos sempre à procura de projetos, às vezes, que sejam mais eruditos ou nos validem mais, e aqui há esse sentimento. Esse sentimento e essa ânsia, essa busca pela intelectualidade é muito interessante, pelo menos para mim como atriz e fez-me muito pensar nisso."

Questionada sobre os tão falados rótulos a que por vezes alguns atores possam estar 'associados', a atriz confessa: "Gostava de fazer muito mais cinema do que aquilo que faço. Gostava de fazer muito mais séries do que aquilo que faço. Também agora tenho uma ligação à TVI, obviamente que para outros canais não vou poder trabalhar."

"O que sinto é uma confiança muito grande quando se começa a trabalhar com pessoas. Se fosse realizadora e escolhesse A, B ou C, e aquelas pessoas não me falhassem, ia continuar a trabalhar com elas. Estive 11 anos no mesmo teatro e acho que tem muito a ver também com isso, com confiança", explica. 

Para Ana Guiomar, 'O Pátio da Saudade' foi gravado depois de ter terminado 'Festa é Festa', da TVI. "Foi exaustivo, não foi um filme longo - foi um mês e meio/dois. Foi muito divertido."

"Os décors são lindíssimos, a fotografia é espetacular, o texto é leve, o elenco é giro porque já nos conhecíamos todos uns aos outros e já nos respeitávamos muito, e acabámos por conseguir brincar dentro das nossas personagens e construir alguma coisa. Foi mesmo 'cool'. O Leonel filma muito bem, sabe perfeitamente aquilo que quer, faz a direção de atores também exatamente como quer…", diz ainda. 

No que a projetos diz respeito, a atriz está a gravar uma nova novela com a TVI, mas "não pode falar sobre isso". E por este ano será nessa trama que se focará, pois tem gravações planeadas até dezembro - um "período muito exaustivo". Ainda assim, não deixa de ambicionar subir de novo aos palcos, mas teatro só no próximo ano.

Gilmário Vemba: "Estou a conquistar coisas que não estava a contar. E este filme também é uma amostra disso"

Atualmente mais direcionado para a carreira enquanto humorista, Gilmário Vemba está "muito feliz" com a "oportunidade" que Leonel Vieira lhe deu ao integrar o elenco de 'O Pátio da Saudade'. 

"Normalmente, nós que viemos do teatro e depois vamos para a comédia, ficamos nessa caixa", comenta, acrescentando que esta é também "uma temática do filme, dos atores que são postos numa caixa". Mas aqui conseguiu uma "personagem 'normal'", deixando de lado o humorista Gilmário Vemba. 

Fazer parte de um painel de atores muito conhecidos, e alguns da 'velha guarda', foi um dos pontos de destaque para Gilmário Vemba. "Lembro-me de ver a Alexandre Lencastre e não acreditava que ia contracenar com ela. É um ícone, uma referência", recorda ao falar das gravações do filme, não esquecendo outros grande nomes como José Raposo (entre outros).

"Muitos dos que lá estavam fazem parte do meu historial de comédia, pessoas que passaram por 'Os Malucos do Riso', pessoas que passaram pelo 'Levanta-te e Ri', pessoas que fizeram parte de séries e novelas que vi em Angola... Poder partilhar a tela com essas pessoas é realmente espetacular."

Mas esta não foi a primeira experiência de Gilmário Vemba no cinema, pois a sua estreia aconteceu em Angola, de onde é natural, com o filme 'A Dívida'. 

"Aquilo calhou na altura da pandemia. Juntei-me a uns amigos e a um realizador moçambicano e fizemos um filme que se chama 'A Dívida'. Um projeto completamente diferente, com um orçamento baixo, mas que está engraçado. Mesmo nessas condições nós ainda fomos sucesso de bilheteira em Angola", conta. 

Sobre a sétima arte no seu país natal, partilha: "Cinema mais ou menos democratizado temos há pouco tempo, mesmo assim, ainda não temos no país todo. Mesmo em Luanda ainda há dificuldades para muita gente poder ter acesso ao cinema."

Por Portugal é onde tem feito sucesso e construído uma carreira mais sólida. "Portugal surpreendeu-me pela positiva. Não estava a contar conquistar isto em tão pouco tempo. Caí mesmo ali na linha certa, de estar no momento certo, no sítio certo, e isso funcionou espetacularmente para mim. Em muito pouco tempo tornei-me nesta figura amada por muitos portugueses, que vão aos meus espetáculos. Sinto o carinho das pessoas pessoas que gostam de me ter nos projetos.

Estou a conquistar coisas que não estava a contar. E este filme também é uma amostra disso, poder estar nos cinemas, estar num cartaz recheado com figuras do mundo do cinema e do teatro incríveis. Obrigada por isso, Portugal."

José Pedro Vasconcelos: "É um filme de comediantes, feito por comediantes, e pode ser uma aposta muito feliz"

Do elenco, entre muitos atores, faz ainda parte José Pedro Vasconcelos, que também conversou com o Notícias ao Minuto, sendo que este é o seu regresso ao cinema e, mais uma vez, com Leonel Vieira. De recordar que também fez parte de 'O Pátio das Cantigas', de 2015. 

Sobre este 'O Pátio da Saudade", refere que é um "projeto muito interessante porque fala dos atores, de teatro, de televisão..."

"É um projeto de comédia analógica no sentido em que é popular, fala de revista e numa altura em que tudo é tão rápido e tão instantâneo, sinto saudades de ver comediantes. É um filme de comediantes, feito por comediantes, e pode ser uma aposta muito feliz", enaltece. 

Além deste filme, que se estreia hoje, 14 de agosto, nos cinemas portugueses, José Pedro Vasconcelos vai voltar com a peça de teatro 'Escolhas' em setembro, no Teatro Villaret, em Lisboa, que depois vai partir para o Porto e subir ao palco do Teatro Sá da Bandeira. Também, diz, está para breve a estreia da segunda temporada do programa 'Alguém Tem de o Fazer', da RTP. 

Questionado sobre o facto de ter projetos tanto na representação como na apresentação, José Pedro Vasconcelos afirma: "Para mim não há outra forma de fazer isto."

"Comecei a fazer teatro profissional aos 15 anos, mas quis sempre fazer várias outras coisas e nunca perdi essa vontade, esse desejo, e é isso que me alimenta. E isso ajuda-me imenso como ator. Quanto mais vidas tu viveres depois, eventualmente, melhor conseguirás fazer o teu trabalho. Atores como eu que trabalham pouco, quando trabalham ficam muito felizes. Portanto, o facto de estar a estrear este filme deixa-me muito feliz", remata.

Leia Também: "Este filme é parábola sobre a identidade do nosso país e do espetáculo"

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas