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"Já fui muitas vezes salva pela minha profissão e esta é mais uma delas"

Matilde Breyner está de volta ao teatro e ao trabalho depois de uma perda gestacional que marcou, para sempre, a sua vida. Em entrevista ao Fama ao Minuto, mostrou-se concentrada na peça 'Trair E Coçar É Só Começar', que confessa tê-la salvado desta fase negativa.

"Já fui muitas vezes salva pela minha profissão e esta é mais uma delas"

Seis anos depois de ter subido a um palco pela última vez, Matilde Breyner está de volta ao teatro e logo com uma boa peça de humor. A atriz integra o elenco de 'Trair E Coçar É Só Começar', que está em cena no Brasil há mais de 36 anos, e que tem conseguido esgotar o Auditório dos Oceanos, no Casino Lisboa, várias vezes desde a sua estreia, que aconteceu no passado dia 19 de outubro.

A carreira de Matilde começou, precisamente, em teatro e na última peça que fez, 'The Motherfucker With the Hat', conheceu o marido Tiago Felizardo. Agora, a artista de 38 anos está de volta ao trabalho, ela que no início do verão passado sofreu uma perda gestacional durante o segundo trimestre da gravidez. Talvez por isso (e por outras razões), a artista de 38 anos confessou, numa entrevista ao Fama ao Minuto, que a profissão já a salvou por diversas vezes e que esta é "mais uma delas". 

O que nos pode contar sobre o papel que interpreta em 'Trair E Coçar É Só Começar'?

O meu papel é o da 'Teresinha', amiga do casal que é dono da casa onde se passa a peça. Sou uma visita habitual desta casa e uma amiga que aparece para uma coisa e acabamos todos a fazer uma coisa que não estava nos nossos planos [risos].

A Matilde já conhecia a peça?

Não conhecia, nunca tinha ouvido falar, não sei como porque adoro comédia e teatro brasileiro. Confesso até que, quando li a peça, achei 'sim, isto é engraçado', mas não vi o potencial da peça. A peça tem um potencial gigante, muito maior do que aquilo que está no papel. A peça vive muito do público e do feedback. Quando ouvi o [José] Raposo a ler... Eu não sabia que era ele que fazia de empregada, só percebi no primeiro dia de ensaios... Ele só podia ser a empregada. A peça cresce muito quando começa a ser falada e acho que nós ainda não estamos no potencial máximo que ela tem, precisa de ser rodada com o público e vai crescer muito. 

Quando começou a sentir a responsabilidade de assumir uma peça desta dimensão?

Foi logo no primeiro telefonema, quando me disseram qual era o elenco. São pessoas com quem nunca trabalhei e com quem pensei que não iria trabalhar tão cedo. Nunca tinha trabalhado com o José Raposo e queria muito, ainda para mais em teatro, que é a nossa essência enquanto atores. De repente dizem-nos que é uma peça que está em cena no Brasil há mais de 36 anos... A peça está tão bem escrita que, para adaptá-la à realidade portuguesa, não precisou de muitas alterações. É uma peça que está escrita há mais de 30 anos e que também nunca precisou de adaptações para os dias de hoje. Ela resultava antes e resulta hoje em dia.

Eu já era fã do Marcos Caruso e saber que ia fazer um texto escrito por ele... O Marcos não está cá porque está a fazer uma peça no Brasil mas esteve sempre muito presente na altura dos ensaios e no dia da estreia. Esteve sempre a mandar vídeos, falámos com ele via Zoom, e é uma honra estar a trabalhar com os melhores. É uma responsabilidade gigante.

O que a levou a aceitar o convite?

Não era uma altura em que eu estava a pensar começar a trabalhar mas, de repente, ligaram-me para fazer uma peça e por ser a Plano 6 [produtora], pensei que era uma peça infantil. Depois disseram-me que era uma peça para o Casino Lisboa e que tinha de ler o texto para dar uma resposta em 24 horas. Eu estava em Los Angeles e ia apanhar um avião. Quando me falaram dos nomes do elenco eu pensei 'quero lá saber o texto, que venha a peça, não preciso de ler'. Foi um 'sim' automático.

Este é um elenco que parece funcionar muito bem apesar de ser composto por atores muito diferentes e com experiências distintas...

Eu conhecia o trabalho de alguns dos atores, outros desconhecia totalmente. Quando começámos a trabalhar percebi de onde vinham, qual a experiência que tinham, que uns era melhores no improviso, outros mais da comédia... Começámos a trabalhar e percebi que estávamos todos ao mesmo nível. O Carlos Areia, por exemplo, eu sabia quem ele era mas não o conhecia e não há palavras para o descrever. Foi uma aprendizagem gigante ver o Carlos a trabalhar e fazer um brilharete numa entrada de 5 minutos de um padre... Não concordo quando as pessoas falam em 'papéis pequeninos no teatro' porque se aparece pouco, não acredito em papéis pequenos e o Carlos é um exemplo disso. Nos ensaios, o Carlos contribuiu sempre com conhecimento, com o 'know how'. Com o José a mesma coisa, só vê-lo a trabalhar... Parece fácil o que ele faz, mesmo sendo a coisa mais difícil. Em relação aos colegas mais novos, tem sido um prazer crescer com eles. Fico muito orgulhosa quando as pessoas vão ver a peça e dizem 'vocês estão todos ao mesmo nível, está tudo bom'.

A sua carreira começa em teatro e esta é uma área à qual tem estado sempre ligada. Sente que voltar ao teatro é como voltar a 'casa'?

Eu preciso do teatro para me sentir atriz. Não estou a desvalorizar o trabalho em televisão, mas o que nos prepara para o trabalho em televisão é o teatro. O teatro é a base da formação de um ator. Há pessoas que começaram em televisão e ainda não tiveram oportunidade de fazer teatro, não estou a dizer que são menos atores por isso, mas o respeito que eu tenho pela profissão foi aprendido no teatro.

Depois comecei a fazer televisão mas sempre com muitas saudades do teatro. Fui fazendo algumas coisas aqui e ali mas estive algum tempo sem fazer teatro. A última peça que fiz foi onde conheci o Tiago [Felizardo], no Teatro do Bairro, e já foi há seis anos. Nem tinha percebido que já foi há tanto tempo. Agora, quando comecei a fazer esta peça, caiu-me a ficha e percebi que tinha mesmo muitas saudades. Se pudesse, adorava viver do teatro, mas em Portugal é impossível. Adoro fazer televisão também, mas saio do teatro e sinto-me atriz, penso 'que bom que é trabalhar no que gosto'. A televisão tem um ritmo mais rápido e são muitos meses a fazer aquilo. Aqui podemos ir mais ao detalhe.

E gosta, também, porque no teatro tem a reação das pessoas mesmo ali à frente?

Sim, isto é uma profissão que vive do público, mesmo quando estamos a fazer televisão. É o público que nos valida enquanto atores. No teatro temos isso no imediato. Eu sou sempre a mais rápida a desmaquilhar-me e a sair e ontem encontrei uma senhora à porta em lágrimas que me disse 'obrigada por este momento, foi tão bom, foram duas horas tão bem passadas', e eu olhava para ela e dizia 'obrigada por virem, obrigada ao público porque é dele que vivemos'. As pessoas ficam mesmo contentes depois de saírem de uma sala e terem estado duas horas a rir. Gostava que as pessoas fossem mais ao teatro em Portugal porque é uma arte que nos faz esquecer o que se passa lá fora. 

E sendo que está tão feliz em teatro, vai dedicar-se profissionalmente a 100% ao 'Trair E Coçar É Só Começar'?

Agora estou a fazer a peça, que foi um presente inesperado que me deram. Já fiz televisão e teatro ao mesmo tempo e jurei para nunca mais, é mesmo muito desgastante. Estou concentrada nisto e está a saber-me muito bem. Não estou preocupada com outros projetos e até disse à minha agente 'não te esforces muito, isto está muito bem assim'. A peça é uma tareia e se continuarmos assim, com as salas cheias, estamos muito bem encaminhados. Quem sabe se vem uma 'tournée', era muito giro.

Tem assumido este registo cómico, é por aqui que vai querer continuar a trabalhar?

Sempre quis fazer comédia mas em Portugal não dá para definir um caminho. Temos um mercado pequenino, somos poucos, há poucas produtoras... Eu adoraria fazer só comédia e, modéstia à parte, eu sei em que é que sou boa. Na novela 'Para Sempre' estou a fazer uma personagem mais séria, mais carregada e quase que não consigo ver os episódios. Quando estava a fazer a 'Rua das Flores' eu via quase todos os episódios e acho que isso diz muito sobre onde me sinto mais confortável. 

Esta peça é uma boa montra para as pessoas do meio perceberem 'ela até faz isto bem'. Fiz a 'Mulher do Sr. Ministro', a 'Rua das Flores' e nas redes sociais mostro um bocadinho de comédia com os Tik Toks, mas às vezes isto não chega. Às vezes é preciso uma boa peça, como esta, para mostrar a quem interessa que estou aqui e que gosto de fazer isto.

A Matilde disse recentemente que esta peça era "terapêutica", isto depois de uma fase tão negativa. Como tem sido assumir o registo da comédia depois do que lhe aconteceu recentemente?

O teatro é terapêutico porque temos de estar ali e não dá para dizer 'agora não me apetece, dói-me a barriga, tenho de sair'. Entramos numa bolha mágica que nos afasta da realidade, somos aquela personagem e não nos lembramos de mais nada. Ali não sou a Matilde e se calhar em casa estou a pensar nos problemas todos da minha vida e chego ao palco e esqueço-me de quem sou. Por isso acho que esta peça veio numa altura especial e certa e salvou-me de estar a 'bater com a cabeça nas paredes' em casa. Ainda por cima é uma comédia. Foi um presente que me foi enviado, um presente que veio do céu.

Em cena com este peça consegue estar um bocadinho menos triste com esta fase?

Menos triste não diria, mas já fui muitas vezes salva pela minha profissão e esta é mais uma delas. 

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