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"Chegar a esta idade e ter de provar o que quer que seja não é agradável"

Carlos Areia falou com o Fama ao Minuto e confessou estar a viver uma das melhores fases da carreira, embora não esqueça outros períodos menos positivos.

"Chegar a esta idade e ter de provar o que quer que seja não é agradável"
Notícias ao Minuto

08:00 - 24/10/22 por Filipe Carmo

Fama Carlos Areia

Aos 78 anos, Carlos Areia vive uma "uma das melhores fases da sua carreira". Quem o diz é o próprio, numa entrevista exclusiva que deu ao Fama ao Minuto, conciliada com a estreia da peça 'Trair E Coçar É Só Começar', cujo elenco integra.

Embora viva agora um período em que é muito requisitado em televisão, cinema e teatro, o ator fez questão de sublinhar que não foi sempre assim. No final, houve tempo para falar do casamento, que não está previsto acontecer em breve, embora esteja noivo de Rosa Bela desde 2019.

A peça 'Trair E Coçar É Só Começar' é um sucesso no Brasil. Saber disso pesou na hora de aceitar o convite?

Lembro-me de, no início, termos sentido essa responsabilidade. Com um produto novo nunca sabemos como vai correr, mas sabendo à partida que a peça tem a força que tem, isso traz uma responsabilidade acrescida. As comédias brasileiras são diferentes das nossas. Embora falemos a mesma língua, temos maneiras diferentes de contar estórias e de apresentá-las em cena. Quem adaptou e dirigiu esta peça teve o cuidado de meter o nosso carimbo, a nossa portugalidade, e parece que o conseguimos. Têm sido ultrapassadas todas as nossas expetativas.

E trabalhar com o grande ator brasileiro Marcos Caruso, como tem sido?

O Miguel Thiré [encenador], quase diariamente, esteve em contacto com o Marcos, recebendo e dando opiniões. Todo este projeto foi acompanhado pelo Caruso e muito bem dirigido pelo Miguel, o que foi muito importante para o resultado.

As coisas, para resultarem em comédia, têm de ser feitas com muita verdade

O José Raposo disse ao Fama ao Minuto que o Carlos havia sido fundamental a dar dicas e sugestões de como adaptar ainda melhor esta peça ao público português...

Sim, é um processo normal. Tendo uma opinião enquanto ator, não me vou coibir de dá-la. Tiveram confiança em mim, talvez pelos anos que tenho de teatro e comédia, e aceitaram de bom grado as indicações que dei sobre coisas que eu sabia que iam resultar. Isso faz parte do grande espírito de equipa que se criou no elenco, que é uma coisa fora de série. Eu já fiz parte de muitos elencos e projetos e nunca tinha apanhado um elenco que se ligasse e entendesse tão bem.

Eu ando cá há muitos anos, conheço o meu público, o público para quem trabalho. Conheço-os muito bem, ouço-os respirar, ouço-os falar, sei o que gostam e o que precisam, daí as minhas intervenções em relação ao que penso que irá resultar em cena. Comecei a fazer teatro com 16 anos, tenho 78... São alguns anos. Distraídos, aprendemos, se estivermos com atenção, aprendemos ainda mais.

É, de facto, um elenco muito diferente e composto por pessoas com diferentes experiências...

É mais um trunfo que o elenco tem, pelas idades, pelas linhas de representação. Uns com mais comédia, outros com menos. Eu costumo dizer que a comédia é uma coisa muito séria e quem vem do teatro dito sério ajuda muito nesses momentos. As coisas, para resultarem em comédia, têm de ser feitas com muita verdade. 

O ator quer trabalhar, acima de tudo. Poderão existir dois ou três que podem dar-se ao luxo de escolher os seus projetos, mas nem todos podemos fazer isso

Com uma carreira tão experiente, porque fez sentido integrar este projeto, nesta altura?

Para mim faz sempre sentido porque o ator quer trabalhar, acima de tudo. Poderão existir dois ou três atores que podem dar-se ao luxo de escolher os seus projetos mas nem todos podemos fazer isso. O meu primeiro desejo é trabalhar. Se o trabalho for da grandeza do 'Trair  E Coçar É Só Começar' então ainda melhor. Nem sequer olhei para trás. Sabendo da grandeza do projeto, do meu gosto pelo teatro e pelo facto de querer trabalhar, aceitei sem hesitar.

O Carlos tem sido convidado para inúmeros projetos em diferentes áreas da representação. Concorda que esta é, talvez, uma das melhores fases da sua carreira?

Não posso negar que talvez seja, realmente, uma das melhores fases da minha carreira em termos de trabalho e projetos, só é pena que tenha acontecido tão tarde. Deveria ter acontecido há uns anos mas aconteceu, o que é bom. Tive uma fase, em janeiro, em que andava a fazer cinema, uma novela, uma série e teatro, estava completamente preenchido. Aconteceu ao fim destes anos todos, pior seria se não tivesse acontecido. Ainda bem que aconteceu, só tenho pena que não tenha sido há mais anos, de forma a cimentar ainda mais a minha carreira. 

Apetecia-me dizer algumas verdades sobre esse ambiente que se vive na minha profissão

Acha que essas várias oportunidades que lhe têm sido entregues são o reconhecimento da sua carreira e da sua qualidade?

Penso que sim. Às vezes apetecia-me dizer coisas, mas posso ser mal entendido e, se calhar, não ganho nada com isso. Apetecia-me dizer algumas verdades sobre esse ambiente que se vive na minha profissão. Existem grupos, vários deles combateram o teatro de revista, que eu fiz durante muitos anos, bem como o José Raposo. A revista foi combatida de uma maneira que achámos - e continuamos a achar - muito injusta. Classificaram as pessoas como 'revisteiras', de forma muito negativa, e isso marcou alguns atores. Eu não me importo nada de ser 'revisteiro', assumo completamente e não tenho medo nenhum de falar sobre revista ou sobre qualquer outro tipo de teatro.

É pena que, com esta idade, ainda tenha de provar alguma coisa. Ainda este ano tive a prova disso. Fui contratado para um trabalho no teatro dito sério e, quando o meu nome foi avançado, disseram 'ele é da revista, é cómico' e alguém se impôs e disse 'não, ele é ator, talvez seja melhor aceitarem, fazerem uma leitura e depois logo veem'. Fiquei no elenco e íamos todos mal, mas eu era o que ia menos mal, felizmente. Depois disseram-me 'afinal, você consegue fazer'. Chegar a esta idade e ter de andar a provar, ainda, o que quer seja, não é muito agradável. Não me importo, gosto de desafios. Eu sei aquilo que sou capaz de fazer e quando aceito um projeto, faço-o porque sei que sou capaz. 

E como se sente quando é elogiado pelos colegas de profissão como foi, recentemente, pelo Rui Unas, que o classificou a si e ao José Raposo como "mestres"?

Eu respondi-lhe e agradeci. Expliquei que não tenho mestria nenhuma naquilo que fazia, o que faço é por amizade, por respeito e por admiração. Mestria é outra coisa. Agradeço, mas expliquei que haviam outros requisitos para chegar à mestria. É muito bom ser reconhecido entre os nossos pares, enche-nos o ego.

Estar com o Zé é fazer parte de uma equipa que, tal como se diz no futebol, entra em campo a ganhar por 5-0

Continua a saber bem mesmo depois de vários anos de carreira?

Sim, é sempre bom. Tento sempre fazer o melhor e ser entendido, embora não aconteça sempre. Quando acontece, ótimo.

Como é voltar a estar em palco com o José Raposo, um colega que conhece tão bem?

Estar com o Zé é fazer parte de uma equipa que, tal como se diz no futebol, entra em campo a ganhar por 5-0 [risos]. Depois é só manter o resultado e não sofrer golos. Há uma cumplicidade muito grande entre nós, é uma coisa de pele, que se cola, que se entende com o olhar e com a respiração... Estivemos alguns anos descruzados, mas estivemos sempre em contacto, embora ele, muitas vezes, não atenda o telemóvel [gargalhadas]. Quando atende, parece que falámos no dia anterior.

Recebeu, este ano, um prémio Áquila pela participação na novela 'Por Ti'. Como foi ser distinguido por este trabalho?

Foi estranho, não estava nada à espera. Fiz aquilo a que me propus, de uma maneira simples, nada de especial, para mim. Fiz com honestidade e verdade. 

Depois de ter feito novela, voltar ao teatro é como voltar a 'casa'?

Sim, costumo dizer que o teatro está para a representação como a ginástica para o desporto. No Brasil, há grandes atores de televisão que no teatro não resultam tão bem. O teatro é muito importante, para mim é o expoente máximo da representação. Não há máquinas. Há gestos que não se podem fazer em televisão porque tudo tem uma dimensão maior, no teatro estamos a representar para 600 pessoas e uma piscadela tem de ser feita de forma mais acentuada para que a consigam ver na última fila.

Numa altura em que tem 'vestido a camisola' da SIC, tem algum projeto pensado no canal para breve?

Espero que sim, estou à espera. O meu nome anda para lá em alguns projetos e estou à espera do resultado, não há nada em concreto. Vesti a camisola da SIC e há uma coisa que aprendi logo em miúdo: a empresa onde trabalhamos é sempre a melhor, é a que nos dá trabalho. A SIC tem sido uma grande empresa para mim e visto a camisola deles com muito orgulho. Estou à espera que o telefone toque e queria muito.

Gostaria de voltar a fazer uma novela? 

Agrada-me muito o registo da novela, gosto muito. Se for um registo de comédia, ótimo, é onde me sinto melhor. O registo dramático da novela oferece outros desafios, o que é bom.

Tenho uma mulher extraordinária, que me entende melhor a mim do que eu a entendo a ela

A peça estreou em Lisboa e no próximo ano segue para o Porto...

Grande Porto [gritos]! A gente do Porto recebe bem, adoram teatro e a maior parte dos atores adoram ir lá porque são recebidos de uma maneira extraordinária, parece que nos conhecem. Olham-nos nos olhos e dizem que gostam de nós. Eles adoram-me e eu adoro-os.

E sobre a personagem que faz nesta peça, sabemos que é um padre...

É um padre com características inerentes à sua idade, esquece-se das coisas. Vai àquela casa com uma missão e sai de lá com outra. Vai criar ainda mais confusões do que as que já existem entre aqueles casais. Não posso desvendar muito, mas a peça tem um final espetacular e o padre tem outro final espetacular. 

Por falar em padre, e sobre um tema mais pessoal, o Carlos e a Rosa Bela continuam noivos. Podemos esperar novidades sobre o casamento em breve?

Não, não avançou tanto quanto gostaríamos porque entrou a pandemia e trocou-nos as voltas todas, se bem que o casamento não é muito importante. A mulher gosta do momento, é bonito, e eu também gostava de oficializar, mas a nossa ligação está muito forte e não é o casamento que vem acrescentar alguma coisa. É bonito, bebem-se uns copos, dá-se uns abraços, mas a nossa relação cimentou de tal maneira que não é o casamento que vem acrescentar. Se tiver de acontecer, acontece algum dia.

No mês passado celebraram 14 anos de namoro, o que sentem por terem atingido este bonito marco?

O tempo passou muito bem. Tenho uma mulher extraordinária, que me entende melhor a mim do que eu a entendo a ela. Aceita-me e gosta de mim tal como eu sou, com os meus defeitos... Os 14 anos passaram muito bem, sem peso nenhum. Tive um casamento, há muitos anos, quando o D. Afonso Henriques andava por aí [risos], e chegou a uma altura em que já era um peso, o que não sinto nesta relação e espero nunca sentir. Estamos mesmo muito bem, felizmente.

Leia Também: "Não somos daqueles atores que querem que os filhos fujam da profissão"

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