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"Aquilo que se gerou depois é uma coisa que para mim é muito comovente"

Após ter sido nomeado a pessoa que mais inspirou os portugueses neste 2020 tão atípico, Bruno Nogueira esteve à conversa com os jornalistas para falar deste reconhecimento. Um momento que ficou marcado, acima de tudo, pela pandemia, sem esquecer os novos projetos na SIC.

"Aquilo que se gerou depois é uma coisa que para mim é muito comovente"

Bruno Nogueira foi o vencedor do prémio 'Inspiring Person of the Year' da mais recente edição dos E! People Choice Awards. Um troféu que foi, sobretudo, reflexo do reconhecimento do público após o “movimento” que criou – sem contar com tamanha dimensão – durante o confinamento.

‘Como É Que o Bicho Mexe?’ preencheu o serão de muitos portugueses durante a primeira fase da pandemia da Covid-19. Aquele encontro que, com uma taça de vinho e boa companhia, trazia um arco-íris aos dias mais cinzentos.

Este prémio é muito simpático e é o resultado de várias circunstâncias que vão para lá do meu trabalho”, começou por dizer o comediante em conversa com os jornalistas numa conferência de imprensa feita através de uma videochamada, como ditam os novos tempos.

“Acho que nesta fase as pessoas precisavam de canalizar as suas dúvidas e ansiedades para algum sítio, eu também as tinha, e como estava sozinho com três crianças e com a criatividade um bocadinho perra, senti necessidade de fazer qualquer coisa. O facto de as pessoas terem aderido e terem transformado isso numa coisa maior do que aquilo que era pensado no início é uma equação que não consigo perceber como é que se chega até lá”, acrescentou.

“Consigo perceber que há vários fatores que levaram a isso, nomeadamente, e acima de tudo, o fator pandemia e confinamento. Aquilo que se gerou depois é uma coisa que para mim é muito comovente, e dá muito que pensar porque é uma coisa que tem zero de planeamento, ou de meios técnicos, trabalha só com a verdade e isso fez com que as pessoas, de alguma maneira, se identificassem e que criassem ali uma espécie de família, de porto seguro”, continuou.

A hora estava marcada e os seguidores “pelos menos tinham a certeza de que das 21h às 23 ou às 22h30 havia ali uma coisa certa”. Sem se saber exatamente o que poderia acontecer em cada direto, feito no Instagram, e quem iria participar, a companhia e boa disposição estavam garantidas. “Apesar da sua imprevisibilidade, havia a certeza que nós nos iamos juntar ali àquela hora. Criou-se ali uma espécie de movimento de resistência ao vírus”, continuou.

Para o comediante, o que mais o marcou “neste movimento” foi a palavra “obrigado”, manifestação que não estava habituado a ouvir. “Enquanto ator e humorista, estou habituado a quando me encontram na rua ou quando faço alguma coisa e reagem nas redes, as palavras que me mandam de retorno são sempre ‘que engraçado’, nunca é aquilo que foi neste que foi ‘obrigado’. Foi quando começou a haver esse agradecimento - que até me deixa um bocadinho envergonhado, confesso, porque não sei bem lidar com ele”, explicou, referindo-se ao momento em que começou a perceber a diferença que aqueles encontros estavam a fazer na vida dos que se encontravam do outro lado do ecrã.

“Comecei a perceber que havia, e há, pessoas que estão em situações muito delicadas. Não só de saúde, como naquela fase em que houve o confinamento geral, pessoas que estavam a viver um luto e que não podiam sair de casa, tinham de lidar com o problema de uma forma ainda mais intensa do que teriam de lidar se pudessem estar com amigos ou com família. Pessoas que se tinham acabado de se separar, pessoas que estavam internadas, pessoas que tinham outras doenças e que a Covid veio atrasar os tratamentos das doenças que tinham… Isso foi um contacto com uma realidade que me assustou pelo tamanho, por perceber o que as pessoas depositavam em mim de um certo pedido de continuar para verem algum sentido no meio disto tudo. Mas, ao mesmo tempo, foi quando percebi, da pior maneira, mas da maneira mais intensa que poderia perceber”.

Será que este movimento abriu portas para um projeto pensado para o mundo digital?

O público habituou-se a ver o trabalho de Bruno Nogueira na televisão ou em cima do palco, mas será que com o sucesso inesperado de 'Como É Que o Bicho Mexe' abriu portas para uma nova oportunidade no mundo digital?

O humorista insiste que o que mais o “agradou” foi o facto de o 'Bicho' “não ter sido pensado”, no entanto, não deixa esta porta completamente fechada a sete chaves.

“Se tivesse sido pensado, ter-me-ia surpreendido menos e acho que também não teria funcionado tão bem. Acho que aquilo que funcionou foi precisamente o facto de eu descobrir o formato em direto, ter descoberto quem é que eram os convidados em direto, ter descoberto a duração do programa em direto, ter descoberto qual era a linha condutora em direto... As pessoas, de certa maneira, sentiram-se cúmplices e fizeram parte da criação daquele acontecimento. Isto para mim é muito antagónico porque ganhar um prémio numa plataforma que não estou habituado a utilizar, ou que não utilizo de uma forma profissional, que utilizo só para partilhar coisas de trabalho e para ver umas coisas, não deixa de ser irónico”, disse.

“Portanto, não tenho nada pensado especificamente para redes sociais, mas também não tinha isto pensado e aconteceu. Não faço ideia, vou deixar ver o que é que acontece”, admite.

As muitas inspirações de Bruno Nogueira

Tendo sido considerado a pessoa que mais inspirou neste 2020 tão atípico, o comediante foi questionado sobre as suas próprias inspirações.

Inicialmente, Bruno Nogueira mostrou-se com algumas dificuldades em nomear pessoas, afirmando que “há várias pessoas e projetos que o inspiram”.

Acima de tudo, há maneiras de encarar a profissão que me inspiram muito mais do que pessoas. Acho que usar pessoas é sempre um perigo porque quando gostamos de alguém, nós gostamos da imagem que temos dessa pessoa, não é necessariamente o que aquela pessoa é. Mas há pessoas que profissionalmente têm uma conduta, ou que abdicam de certas coisas em função de um bem que para elas é maior do que aquele que é óbvio, e isso inspira-me sempre”, destacou.

Enumerando algumas profissões que o deixam muito inspirado, enalteceu o trabalho dos escritores “por conseguirem fazer uma coisa que nunca vai conseguir fazer na vida”, detalhando o facto de “o conseguirem fazer ficar preso a uma resma de papel durante não sei quanto tempo”.

Não consigo dizer nomes, consigo dizer que há profissões que me inspiram muito mais do que necessariamente a minha porque, como tenho sempre a ambição de aprender um bocadinho de tudo, fico sempre espantado com aquilo que [por exemplo] um músico consegue fazer à frente de um piano, ou de compor… Há várias coisas que me inspiram para além de pessoas que em nada tem a haver com profissões públicas”, acrescentou.

Será que nesta segunda vaga vamos ter um ‘segundo encontro’ de ‘Como É Que o Bicho Mexe?’

Agora que vivemos uma fase mais crítica da pandemia, com os casos positivos de Covid-19 a aumentarem de dia para dia, e as medidas a apertarem, Bruno Nogueira admite que tem questionado o que poderá fazer para contribuir de novo para aliviar a pressão destes tempos difíceis. No entanto, ainda não há certezas do que poderá acontecer num futuro próximo.

“É uma coisa que me tenho andado a questionar, porque o que aconteceu da primeira vez é que havia um confinamento e as pessoas estavam fechadas em casa o dia todo e não havia grande esperança. Agora, sendo um confinamento parcial, embora sinta que se está a aproximar a altura de fazer qualquer coisa, ainda não sei”, respondeu após ser questionado sobre o possível regresso de ‘Como É Que o Bicho Mexe?’.

Estou a tentar perceber qual é a evolução desta segunda vaga para perceber se isto é uma coisa temporária e aí não fará sentido, ou se é uma coisa que se vai prolongar um bocadinho mais tempo e aí pensar se chateio as pessoas outra vez ou não”, disse ainda, confessando que sente a responsabilidade de estar presente nesta fase mais crítica.

“Adorava dizer que não, mas sim. Pelo menos fazem-me sentir isso, e eu não me afasto dessa responsabilidade porque sempre fui muito matemático nas minhas escolhas profissionais e nas coisas que repito ou não. O ‘Bicho’ está aqui ao abrigo de uma cláusula à parte de todas as outras porque não sinto que deva haver estratégia nisto, porque é uma coisa maior do que isso. Não é uma coisa profissional, é quase o mínimo que posso fazer”, desabafou.

“Sinto porque as pessoas me dizem isso, e faz-me sempre muita confusão porque se há médicos e tantas profissões que não se podem dar ao luxo de fazer uma pausa nesta altura,… Portanto, estou só a tentar perceber a dinâmica desta segunda vaga para perceber de que maneira é que posso contribuir para aliviar um bocadinho o que está a acontecer”, continuou.

“A comédia tem sempre um papel muito importante”

Durante a conferência, Bruno Nogueira foi também questionado sobre o papel da comédia nesta fase da pandemia, e se as pessoas vieram a dar uma nova importância a esta arte.

“Acho que é fases difíceis da história mundial, - quer seja em guerra, quer seja em pandemia – a comédia tem sempre um papel muito importante porque apresenta-se como uma espécie de holograma de que tudo poderá ficar bem, ou tudo está mais ou menos normal. E é também uma forma de comunhão porque quando tu te ris é em conjunto e há uma espécie de união à volta de uma coisa que te faz sentir bem. A mim a comédia salva-me em várias situações, não só enquanto sendo protagonista disso em situações que me parecem ser mais difíceis de ultrapassar, como também como consumidor de comédia”, disse.

“Acho que, infelizmente para o mundo e para o país, os últimos tempos têm sido muito produtivos para quem faz comédia, não falta propriamente material nem ocasião para a fazer. Claro que, a quem faz comédia, dá particular prazer quando as coisas não batem todas certo para transformar isso em humor. Num país e num mundo em que tudo corre bem, em que tudo está pacífico, é mais difícil encontrar pontos de vista alternativos para fazer rir”, acrescentou.

“No caso da pandemia, acho desenvolveu várias coisas, e viu-se isso com os talk shows e com a música. Aconteceu pessoas, de repente, encontrarem uma nova maneira de se adaptarem a estes tempos, de conseguirem fazer música, de conseguirem fazer um talk show estando em casa, fazendo por Skype ou por Zoom…”, continuou, destacando o lado bom e mau das novas formas arranjadas para combater as impossibilidades que esta pandemia trouxe.

Acho que não só na comédia, mas em várias coisas demonstrou que isso também tem um lado mau que é as pessoas, de repente, perceberem que é possível fazer coisas com grande impacto e pouco dinheiro. É o que acontece também com o teletrabalho. Muitas pessoas fecharam os escritórios porque perceberam que tendo os trabalhadores em teletrabalho é a mesma coisa. Não é, é trágico, porque se não há um convívio entre pessoas e se estás fechado em casa ou a trabalhar em casa o tempo todo, isso invariavelmente tem um preço. É muito estimulante agora porque apareceu agora”, salienta.

Bruno Nogueira reforça que os trabalhar em casa pode “parecer estimulante +orque é novo”, mas quando “tudo isto acalmar”, é também importante perceber que houve “ferramentas” usadas para “ultrapassar isto tudo” e há coisas que “invariavelmente têm de voltar, como os espetáculos ao vivo”.

Há experiências que não se conseguem mesmo replicar, principalmente em comédia. Pode-se fazer uma ou outra coisa, mas a experiência ao vivo de um espetáculo de comédia nunca se vai conseguir replicar”, frisou.

SIC? O que é que está para vir?

Bruno Nogueira foi uma das novas apostas da SIC para este 2020, estando a preparar novos projetos para o canal. Sobre o que está para vir, o comediante confessou que ainda estão a decidir. Isto porque neste momento é difícil cumprir todos os planos antecipados, e o lema é mesmo ‘um dia de cada vez’.

“Ainda estamos a decidir. Há coisas que já estão definidas e que já estão a ser preparadas. O problema dos tempos em que vivemos é que é muito difícil estar a equacionar um projeto e a orçamentar um projeto sem saber o que é que estás a equacionar e a orçamentar - porque podes estar a orçamentar uma coisa que dura cinco semanas a ser filmado e que provavelmente vai demorar oito porque alguém vai ficar contaminado na equipa e toda a gente tem de ficar fechada durante não sei quantos dias. Estamos a tentar - tendo em conta a ideia que já tinha sido tida - perceber como é que se consegue adaptar a esta nova realidade sem ser um prejuízo para ninguém que está a fazer, e sem comprometer a ideia - porque só podes reduzir até um determinado ponto de maneira a não comprometer a ideia. É isto que se está a avaliar, mas teremos novidades muito em breve”, assegurou.

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