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"Era importante que o artista ganhasse mais e sem ser a recibos verdes"

O gosto pelo trabalho faz de si uma mulher sem medos de meter a 'mão na massa'. Conquista é a palavra de ordem para Inês Castel-Branco - uma das entrevistadas de hoje do Vozes ao Minuto - pois foi desde cedo que chegou a vontade de querer ser independente. Por vezes com saudades de ser criança, mas crente no amor, continua apaixonada pela arte de representar.

"Era importante que o artista ganhasse mais e sem ser a recibos verdes"

Desde que começou a interagir com a representação que a vontade de querer dar vida a personagens falou mais alto. Sem medo de trabalhar, Inês Castel-Branco tornou-se independente aos 17 anos, idade com que saiu da casa da mãe. 

Cedo começou a trabalhar, em áreas diferentes, como por exemplo num café, mas foi como modelo que deu as primeiras pisadas junto dos holofotes. No entanto, foi o mundo da representação que a fez ficar 'apaixonada' e, depois de 'descobrir' a arte, foram muitos os trabalhos a que deu vida, tanto no teatro como na televisão, sem esquecer o cinema. Aliás, é esta quinta-feira, dia 7 de março, que estreia o filme 'Snu', protagonizado por si e por Pedro Almendra.

Em conversa com o Notícias ao Minuto, Inês partilhou um pouco sobre este romance que chega hoje aos grandes ecrãs e que irá deixar os espectadores "apaixonados" por esta história de amor.

Além disso, a atriz não deixou de falar da nova era do digital e da importância desta para os artistas.

Mãe do pequeno Simão, de oito anos, abordou ainda a maternidade, considerando este "um desafio constante". 

Estreia esta quinta-feira o filme ‘Snu’, que fala da história de amor de Snu Abecassis, personagem interpretada por si, e Francisco Sá Carneiro (Pedro Almendra). Agora que este projeto chegou ao fim, como é que o descreve?

É um filme que não só está muito bonito como também está muito bem contado. É normal que os espectadores se apaixonem por eles os dois e pela história de amor deles. Depois é uma época em que é tudo muito bonito, os anos 70, pelo menos para mim, para o meu gosto. E tem uma fotografia incrível do João Ribeiro, que só melhora tudo. Como eles faziam parte de uma elite, também têm os guarda-roupas, as casas... é tudo muito bonito neste filme.

Snu Abecassis não tinha obrigação nenhuma de tentar mudar Portugal e tentouO que mais destaca na sua personagem?

O melhor de tudo foi ter conhecido esta personagem que foi muito importante para nós e ninguém sabe quem ela é. Não tinha obrigação nenhuma de tentar mudar Portugal e tentou. Na altura em que chega a Portugal, está em plena ditadura, em 1962 - ela é casada com um português -, e passado dois anos já está a abrir a Dom Quixote numa tentativa de trazer a liberdade, através das palavras e dos livros, a um povo que não tinha... E para ela a liberdade sempre foi um dado adquirido...

Portanto, de repente, chegar a um país onde não há liberdade, em que a maior parte do povo é analfabeta, criar uma editora para fazer as pessoas lerem e nessa editora muitas vezes editar o que acontecia fora de Portugal e ser perseguida pela PIDE exatamente por isso… Ter-se apaixonado por este homem, que era o oposto dos nórdicos, totalmente latino, e ter dado uma reviravolta à vida dela para ficar com ele, mesmo contra tudo e contra todos, a serem muito mal tratados… não consigo escolher só uma coisa.

A Snu é um mulher de garras e com vontade de mudar mentalidades. Existem parecenças entre esta personagem e a Inês Castel-Branco?

Talvez só na curiosidade… Também tenho algumas causas e gosto de ajudar as pessoas, mas não numa dimensão tão grande como ela. Ela pensava muito 'maior' do que eu.

Faz falta uma Snu Abecassis na sociedade portuguesa de hoje em dia?

Uma Snu faz sempre falta, mas acho que hoje em dia já não era tão necessário. Esta liberdade que para nós é um dado adquirido, para a geração dos nossos pais foi uma coisa que eles ganharam. O papel dela seria provavelmente outro. Acho que ela estaria envolvida na política, de certeza.

Um romance que deixou o país escandalizado, mas que também comoveu os portugueses. O amor vence sempre?

Acho que é um bocadinho romântica essa frase, mas quero acreditar que sim. Às vezes não vence, mas acho que se nós acreditarmos... não chega só querermos, também temos de acreditar. Sim, acho que o amor vence tudo.

Sou uma pessoa trabalhadora, que gosta de cuidar das pessoas de quem gosta, que tem alguma preocupação com injustiçasComeçou a trabalhar desde cedo. Também saiu cedo de casa da mãe… Foi importante esse percurso para definir a pessoa que é hoje?

Sim, todas as decisões que tomamos acabam por moldar um bocadinho aquilo que somos, e as experiências que tivemos, as pessoas com quem nos damos... Quis ser responsável desde muito cedo e afinal isto é uma armadilha, como aquela frase ‘don't grow up it's a trap' (não cresça, é uma armadilha). Muitas vezes preferia ficar criança durante muito mais tempo. Se houvesse um comprimido para ficarmos crianças mais tempo eu tomava.

Mas como é que se define?

Acho que sou uma pessoa trabalhadora, que gosta de cuidar das pessoas de quem gosta, que tem alguma preocupação com injustiças, que gosta de cozinhar...

Nunca fiquei deslumbrada, pelo contrário. Fiquei desiludida com aquela imagem que as pessoas têm da fama que não é nada de especial Teve sempre os pés assentes na terra? Mesmo com os primeiros sinais da fama…

Sim! Nunca fiquei deslumbrada, pelo contrário. Para já porque veio gradualmente na minha vida, não fiquei famosa de um dia para o outro. Fui fazendo umas novelas, umas personagens pequeninas e hoje em dia já é uma condição a que estou completamente habituada. Não houve nenhum momento que ficasse deslumbrada, pelo contrário, fiquei desiludida com aquela imagem que as pessoas têm da fama que não é nada de especial.

E quando é que sentiu que a representação era aquilo que queria seguir?

Cada vez que representava, na escola ainda, – porque fui para a escola técnica de televisão e cinema – e cada vez que estava a fazer um exercício sentia que era aquilo que queria fazer para o resto da vida.

Entre os muitos papéis que interpretou ao longo destes anos, fez não há muito tempo de vilã a Francisca (Xica bastarda) em ‘Amor Maior’. Mas também já deu vida a personagens bem divertidas como nos 'Batanetes'… Prefere interpretar vilãs ou personagens mais divertidas?

Gosto de todas, mas a comédia… tenho muitas saudades de fazer comédia. Acho que a comédia nos faz ficar mais felizes. Quando faço comédia saio do trabalho muito mais leve porque fiz os outros rir, porque me ri. Mas no geral gosto é de representar.

Fez investimentos noutras áreas... Para um artista em Portugal é essencial ter um 'plano B'?

Acho que era importante que os artistas ganhassem mais e sem ser a recibos verdes… mas é importante qualquer pessoa ter um plano B. Muitas vezes até não é um plano B, é só uma mudança de vida. Não querer fazer só uma coisa na vida. No meu caso não era um plano B, foram ideias que tive, sócios que arranjei e a coisa fez sentido, nasceu e cresceu. É ótimo, mas não paga muitas contas.

Porque é que gostava de trabalhar com o Woody Allen?

Gosto muito dos filmes dele, como gosto dos filmes do Pedro Almodóvar… São realizadores que têm a sua própria linguagem e forma de contar histórias que me agrada bastante. Mas não sou esquisita.

E em Portugal, quais são as suas maiores inspirações?

Gosto muito do João Canijo e do trabalho dele. E da Patrícia Sequeira.

Fui apresentar um Globo de Ouro e não sorri, e nessa noite tinha centenas de mensagens desagradáveis, algumas até muito desagradáveis Tendo interpretado vários tipos de personagens… Alguma vez viveu alguma situação inusitada com um fã?

Não! Quer dizer, antigamente isso acontecia-me mais. Na altura dos ‘Batanetes’ tive crianças a dizer para gritar ou chorar. Na altura dos ‘Morangos com Açúcar’ as crianças pediam-me para gritar na rua… Mas nunca me aconteceu nada surreal. 

Vivemos cada vez mais num mundo digital… As redes sociais são fundamentais para um artista?

Depende. É uma forma de divulgar o nosso trabalho, se as pessoas têm curiosidade em seguir-me, é uma forma de comunicação direta com essas pessoas, de elas não saberem de nós através dos media, mas sim da nossa boca. Depois, obviamente, também é uma forma de fazer dinheiro, a certa altura. Agora as marcas também se interessam pelos nossos seguidores e pelo impacto que temos neles. Serve também para divulgar causas… Consegue ser bastante útil uma rede social para um artista, mas também não acho que seja imprescindível. Respeito que haja artistas que se estão nas tintas para o Instagram e o Facebook e que queiram é estar na deles.

Elas são o lugar onde as pessoas não têm medo de expressar as suas opiniões, nem sempre boas…. Alguma vez se deparou com um comentário mais desagradável que tenha ficado na memória?

Tenho todos os dias. Lembro-me daquele momento dos Globos de Ouro, que acho que foi a vez em que fui mais atacada. Fui apresentar um Globo de Ouro e não sorri, e nessa noite tinha centenas de mensagens desagradáveis, algumas até muito desagradáveis.

Como é que lida com estes comentários?

Bloqueio. Se tiver bem comigo própria aquilo não me afeta, mas já houve alturas em que não estava bem e afetou-me. Mas, no geral, agora até tem estado tudo bem e às vezes até me rio. E bloqueio sempre porque se aquilo é o meu espaço não tenho de estar a ouvir coisas negativas.

Foi um bocadinho aquela bolha em que cresci com a minha mãe e os meus irmãos que fez um bocadinho o que sou hoje E comentários positivos, qual o que lhe vem logo à memória?

Gosto sempre de comentários em relação ao meu trabalho e na altura da Xica bastarda recebia vários, tipo: ‘fazes aquilo mesmo bem, apetece-me bater na televisão’. Esses comentários são sempre bons.

O que mais a marcou a sua infância?

Os meus irmãos estarem sempre a chatear-me, estou a brincar [risos]. O facto de a minha mãe ser mãe solteira de três filhos, de trabalhar muito, de ser especial e de ter uma relação connosco especial. Foi um bocadinho aquela bolha em que cresci com a minha mãe e os meus irmãos que fez um bocadinho o que sou hoje.

Defina família…

Acho que as famílias são todas peculiares, mas são aquelas pessoas que nós amamos ‘no matter what’ [não importa como].

Foi mãe do pequeno Simão há oito anos… O que é para si maternidade?

Um desafio constante. É o trabalho mais difícil de todos, educar uma criança, um homem neste caso. Não sei como é que será educar uma mulher porque não tenho, mas sinto alguma responsabilidade para o transformar num homem diferente de outras gerações. Num homem que não ajuda a mulher, mas faz o mesmo do que ela.

Quer ser uma mãe como a sua foi para si?

Sim… Para a minha mãe foi mais difícil porque eram três, portanto, acho que tenho esse privilégio de ser só ele. Tem uma atenção redobrada. Mas sim, muitas vezes estou a educá-lo e ouço a minha mãe.

A minha mãe sempre foi assim, completamente imprevisível e isso é uma das piadas dela. Gosto dela exatamente como ela é A sua mãe, Luísa Castel-Branco, é uma das comentadoras do ‘Passadeira Vermelha’. Como é que lida com essa exposição dela?

Não vejo o ‘Passadeira Vermelha’… Não lido muito bem porque todos os dias tenho alguém a ligar-me a dizer: ‘aquilo que a tua mãe disse...’. E eu respondo sempre: ‘para já, não vejo esse programa, depois, não sou a minha mãe. O que ela disse é lá com ela, liga-lhe, não me chateies a mim’. Mas a minha mãe sempre foi assim, completamente imprevisível e isso é uma das piadas dela. Gosto dela exatamente como ela é.

Imagina-se a fazer este tipo de trabalho? Porquê?

Não me imagino, mas também não posso dizer nunca. Às vezes precisamos de pagar contas.

Carreira internacional, era um sonho?

Não. Houve uma altura em que pensava mais nisso, quando era mais nova. Depois, desde que fui mãe, deixei de pensar nisso.

Quais os projetos que pensa realizar em dez anos?

Se continuar a fazer o que faço agora serei muito feliz, que é teatro, televisão, cinema e ser mãe.

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