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"Um povo sem cultura é um povo desgraçado e nós estamos muito mal"

José Raposo é uma das figuras mais conhecidas e acarinhadas pelo público. Seja no cinema, televisão ou teatro, são muitos os trabalhos que completam o seu vasto currículo e há muito para recordar e contar. Hoje é o entrevistado do Vozes ao Minuto, partilhando os muitos momentos que já viveu, recordando os que já partiram e enumerando o que poderia melhorar no país… e no mundo.

"Um povo sem cultura é um povo desgraçado e nós estamos muito mal"

O teatro é que eu não deixo, nunca”. A afirmação pertence a um dos mais reconhecidos atores portugueses, José Raposo, que privilegia os palcos, "porque essa é a base de representar”.

Aos 55 anos anos, o artista, que nasceu em Angola e que se mudou para Portugal na adolescência, vai estrear já este sábado, dia 2 de fevereiro, a peça 'Vou Levar-Te Comigo', no Auditório da Gandaia, Centro Comercial O Pescador, na Costa de Caparica, Lisboa. Apesar do grande amor por esta forma de arte, não deixa de dar o seu contributo à ficção nos ecrãs portugueses e soma também muitas participações em televisão e cinema.

Não tem o 'canudo', mas a larga experiência faz de si uma dos atores mais conhecidos e acarinhados pelo público. Tudo o que sabe aprendeu com os mais velhos, por quem continuam a ter uma enorme estima e vai sempre lembrar. 

José Raposo é o entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto. Além da representação, fala ainda das mudanças que faria no mundo se lhe fosse concedido esse poder, isto sem esquecer do que falta melhorar no país (quando o tema são as artes).

A família não ficou de parte, até porque se prepara para ser pai pela terceira vez, de uma menina, o primeiro bebé fruto do casamento com Sara Barradas. Além da filha que nasce em março, o ator é ainda pai de Ricardo, de 25 anos, e de Miguel, de 32, do casamento anterior com Maria João Abreu.

Vai estrear-se em palco com a peça ‘Vou Levar-te Comigo’ já amanhã. Um espetáculo cheio de música que além da sua participação, conta ainda com Sara Barradas e Vera Mónica. O que de melhor há nesta peça e por que razão as pessoas a devem ver?

Queria fazer uma peça para andar pelo país e quando estava a fazer o ‘Circo Paraíso’, numa conversa com a Vera Mónica, como somos atores e cantamos os dois, a Vera deu-me o exemplo de um show brasileiro dos anos 50/60, com Clara Nunes e Paulo Gracindo, em que eles estiveram três anos a fazer aquilo em tournées… O espetáculo consistia em ela cantar e ele dizer uns textos - ora poemas, ora umas crónicas sobre o Brasil da altura. Vi aquilo e disse que podíamos fazer isto cá, com algo relacionado connosco. Falámos com o Fernando Heitor, que é o autor do texto, apresentei-lhe a ideia e ele escreveu a história, que é um fio condutor para nós cantarmos.

É uma história de dois atores já com uma certa carreira que se conheceram há muitos anos e que tiveram, inclusivamente, uma relação e depois separaram-se, e falaram com uma guionista encenadora, que é a Sara, que lhes vai dirigir um espetáculo baseado nos percursos profissionais e pessoais que eles os dois tiveram nas suas carreiras. Isto vai desaguar nas canções das suas vidas. 

Por exemplo, eu nasci em Angola e vim para Portugal aos 13, 14 anos, enquanto a Vera no Brasil mas veio embora com seis anos e foi para Angola. De Angola veio com 16, 17 para Portugal… ‘Vou Levar-te Comigo’ é o nome de uma canção dos Duo Ouro Negro, um grupo angolano que teve muito sucesso nos anos 60, 70 e 80 e ainda hoje é um pouco transversal às várias gerações. Por isso, deu título à peça.

Acho que se pode definir este espetáculo como uma comédia musicada, porque não é nem comédia, nem revista, nem musical. Somos três atores e três músicos ao vivo. No fundo somos seis protagonistas porque, aliás, os músicos também têm falas pelo meio. O espetáculo é uma espécie de um ensaio para um futuro espetáculo, onde existe a encenadora, os dois atores e os três músicos.

Portanto, no fundo vai mostrar o processo da criação de um espetáculo?

Sim, baseado nestas condições que disse.

Esta não é a primeira vez que está em palco com a companheira, Sara. A preparação para um trabalho torna-se mais fácil quando feita com alguém com quem partilha o dia a dia?

Quando esse alguém tem talento, que é o caso da Sara, sim. E óbvio que há cumplicidades que se criam. Mas, acima de tudo, tem a ver com sermos os dois atores e termos talento e cumplicidade. Óbvio que é a nossa produtora que produz este espetáculo, ‘Estreia, Sucesso e Despedida’, é o terceiro espetáculo que nós produzimos. O primeiro foi em 2012, uma comédia do brasileiro Paulo Pontes que se chamava ‘Isto É Que Me Dói!’; o segundo foi um texto baseado no Woody Allen mas escrito pelo meu filho, Miguel Raposo.

Mas por exemplo, no processo de criação de uma personagem, ensaiam juntos?

Não, até porque nem temos muito tempo. Não temos tido porque felizmente há outras coisas. Aliás, estamos a ensaiar todas as tardes e depois há sempre coisas para fazer. Além dos outros trabalhos que estamos a fazer, nós produzimos, por isso temos telefonemas a fazer, ida aos sítios para falar com os teatros… Não temos mesmo muito espaço para estar a ensaiar em casa. Quer dizer, a pessoa pode ler o texto antes de se deitar, isso sim. Mas não ensaiamos concretamente os dois. Só lá com o encenador, o Paulo César.

A Sara é como qualquer grávida do mundo e enquanto puder trabalhar…  Mas quando ela tiver a bebé no final de março, aí terá de ser substituída na peçaO espetáculo vai andar pelo país e a Sara, que vai ser mãe no final de março, vai estar em cena até ter o bebé. De certa forma deixa-o mais descansado por poder acompanhá-la nestes últimos meses? Sente-se mais seguro por saber que está consigo?

Sim, isto é só aos fins de semana. Durante a semana estamos juntos. É claro que é bom ela estar próxima porque assim mais proximamente a acompanho. Mas, se pensarmos bem, as pessoas que têm outras profissões, que durante a semana trabalham das 9h às 19h, estão, se calhar, menos tempo com as respetivas mulheres ou maridos do que nós. Nesse sentido não nos podemos queixar. A Sara é como qualquer grávida do mundo e enquanto puder trabalhar… Aliás, no espetáculo a encenadora (que é a Sara) está grávida, não se sabe muito bem de quem e depois do fim acaba-se por perceber quem é o pai. Mas quando ela tiver a bebé no final de março, aí terá de ser substituída.

Está prestes a chegar a primeira menina à família e como referiu numa conversa anterior com o Fama ao Minuto, vai ser a princesa… O que mais o deixa ansioso nesta nova jornada?

A ansiedade normal de um pai que está desejoso de ver a cara daquela coisinha linda, como é que é, oxalá saia à mãe porque ela é muito bonita…

O seu maior desejo é poder vê-la crescer, casar e ter filhos?

Sim, é o normal. É o que aconteceu com os meus filhos. Por exemplo, um casou e o outro não. Não faço essas previsões. Nessas coisas acho que, sem dúvida, cada um é que deve fazer as suas opções, a partir do momento em que é adulto e que tem capacidade para o fazer. Agora, o que me interessa é passar os valores que me passaram os meus pais.

E quais são esses valores?

Os normais, aqueles do respeito pelo próximo, de perceber que a ganância e a mediocridade e essas coisas todas que sabemos que são inerentes ao ser humano, mas que se houver uma boa formação pode-se, e deve-se, excluí-las da nossa vida. Os valores positivos que acho que qualquer pai normal, pelo menos, deseja passar aos filhos e foi o que tentei passar aos meus. Não estou a dizer que é só pela educação que se tem uma boa formação, porque depois há personalidades próprias e há influências da sociedade nas pessoas. Mas a formação de casa, dos pais, tem sempre muita influência na maneira de ser das pessoas.

Antes de viver este amor com a Sara, esteve mais de 20 anos ao lado de Maria João Abreu… O amor que se sente numa nova relação é igual ao da primeira?

O amor é o amor. Não há respostas para isto. O amor é um sentimento que não se explica. Não há esses termos de comparações. As pessoas apaixonam-se e depois amam-se… é o amor.

Como já referiu várias vezes, tem uma família muito unida e conta com o apoio dos filhos em tudo. Isto foi fruto do que semeou ao longo destes anos?

Sim, claro. Eles, por exemplo, ficaram felicíssimos quando souberam da notícia da irmãzinha. Acho natural, normal. Como disse há bocado, isso tem a ver com a formação que nós [pais] damos, com os valores…

Agora tudo se passa muito rápido, descartam-se os mais velhos. Cada vez se dá menos trabalho aos mais velhos, cada vez se ouve menos os mais velhos e isso a mim é uma das coisas que mais me chocaRecordando a sua infância… Já que nasceu em Angola, o que de mais angolano há em si?

A noção do tempo, muito retardada, muita calma… Gosto de ter tempo para ter tempo e é uma coisa que cada vez há menos nas nossas sociedades atuais. É muito ritmo acelerado em relação a tudo. Passa tudo muito depressa. Por exemplo, já não há tempo, o respeito pelas pessoas mais velhas, aquela adulação que se tinha pelos mais velhos por serem os sábios, por serem as pessoas que têm o conhecimento. Agora tudo se passa muito rápido, descartam-se os mais velhos. Vejo isso na minha profissão, e nas outras também acontece, mas falo da minha porque é onde estou inserido. Cada vez se dá menos trabalho aos mais velhos, cada vez se ouve menos os mais velhos e isso a mim é uma das coisas que mais me choca.

Em entrevistas anteriores falou sobre quando foi chamado para o casting que acabou por marcar o seu primeiro trabalho na representação, nessa altura a sua mãe preferia que tivesse ido a uma entrevista na Caixa Geral de Depósitos…

Sim, isso é uma história que se conta muito e que se sabe porque a minha mãe ainda hoje acha que eu devia estar na Caixa Geral e Depósitos…

Em Portugal não há apoio quase nenhum para a cultura por parte dos governos. Aqui é muito difícil da pessoa aguentar-se enquanto artista, e estou a referir-me a todas as áreas da arte Os seus pais nunca concordaram com a sua escolha?

Não, a minha mãe. O meu pai concordava. Aliás, ele foi ator amador e tinha um grande orgulho em mim. A minha mãe é que dizia que era melhor estar na Caixa Geral de Depósitos. E há muitas pessoas que pensam assim porque veem isto não como um profissão, mas como um hobbie, uma coisa engraçada, umas palhaçadas... As pessoas não têm noção do quão exigente esta profissão é, e difícil. Trabalha-se muito, é muito irregular porque os trabalhos são uns a seguir aos outros, portanto, nunca se sabe quanto tempo é que se está parado ou não. As pessoas estão sempre à espera de um telefonema... Não é nada fácil. Claro que há exceção, há casos de pessoas que tiveram sorte e talento. Mas a maior parte dos profissionais, principalmente em Portugal, onde não há apoio quase nenhum para a cultura por parte dos governos. Aqui é muito difícil da pessoa aguentar-se enquanto artista, e estou a referir-me a todas as áreas da arte.

Mas sempre sentiu que o teatro fazia parte da sua vida?

Sim, desde que comecei, aos 18 anos. Faz parte da minha vida e faria, com certeza, sempre porque tenho essa tendência e tenho talento. Acima de tudo, isto é um dom, não é qualquer pessoa que é ator.

A aparência pode ser um fator limitativo no mundo do espetáculo?

Sim, nos dias de hoje a imagem conta muito. Principalmente na televisão, a imagem é uma das coisas que conta muito, até demais, na minha opinião. Acho que nos últimos tempos se descura um pouco o talento em função da imagem. Claro que é possível juntar as duas coisas.

Sente que é por isso que os atores mais velhos acabam por não ter o devido reconhecimento e que acabam por não ser chamados com o passar da idade?

Sim. Estou a falar em relação à televisão em que, de facto, os atores mais velhos, os atores gordos e feios, que não tenham a tal aparência mínima, são postos de lado. E é muito injusto.

Considera então que hoje em dia a seleção dos novos talentos é muito diferente do seu tempo?

Sim, sem dúvida nenhuma.

Para melhor ou para pior?

Pois, se descuram o talento, nesse sentido, é para pior. Felizmente, e é importante dizer isto, não é em todos os mercados. No teatro não se passa isso e também há exceções na própria televisão, mas cada vez são mais pequenas. Mas, principalmente em relação aos atores mais velhos, é muito injusto não os chamarem para personagens da idade deles.

Como referiu há pouco, a vida de um ator nem sempre é fácil e por vezes o telefone deixa de tocar… Alguma vez se sentiu afastado?

Sim, claro que sim. Para já, no início, andamos a mostrar-nos, a pesquisar grupos, pessoas e a saber como é que funciona o mercado... Eu não sou dos que mais se pode queixar. Felizmente, ao longo da vida tenho tido sempre trabalho, mas há realmente períodos que são mais complicados. Mas conheço casos dramáticos, pessoas, inclusivamente, que tiveram que procurar outras profissões porque isto não estava a dar.

Um povo sem cultura é um povo desgraçado. A cultura é o espelho do povo e nós nesse aspeto estamos muito mal. Nós regredimos, o que é uma coisa estranhíssima, devíamos era ter progredido muitoE acha que muitas vezes não ser chamado pode estar ligado ao facto de não estarem em contacto com as pessoas certas? Ou seja, também existem os chamados ‘tachos’ no universo do entretenimento?

Sim, claro, mas isso não é só na nossa profissão. É em todo lado. Qualquer tipo de profissão tem os lobbies muito bem cimentados e, sim, dificulta a entrada nos vários mercados. Por exemplo, quando as pessoas se formam têm sempre mais dificuldade em entrar sem ter os tais conhecimentos. É cada vez mais complicado. 

Hoje consegue-se viver apenas do teatro?

Não, isso é impossível.

O que é que é preciso para o conseguir ou para possibilitar que isso aconteça?

Era preciso que o Estado primeiro apoiasse mais a cultura. Depois que o Estado também possibilitasse que nas escolas houvesse uma ligação ao teatro muito mais intensa. Ou seja, criarem disciplinas de teatro e subsidiarem as escolas no sentido de levarem as crianças a ver teatro. Além de se estudar teatro, devia-se levar as crianças ao teatro porque são hábitos que se criam. E um povo sem cultura é um povo desgraçado. A cultura é o espelho do povo e nós nesse aspeto estamos muito mal. Nós regredimos, o que é uma coisa estranhíssima, devíamos era ter progredido muito. E estou a falar concretamente do teatro. De facto, se não é por iniciativa própria de alguns professores e algumas escolas que levam os alunos a ver teatro, não se faz porque não vem no plano de estudos. Devia pertencer ao Estado ter essa função de educar. Não é só para serem atores, antes pelo contrário, é para serem espetadores. Isso só havendo uma cultura, só incentivando a gostar-se de dramaturgos, de autores…

Cada vez se retira mais ao currículo escolar os nomes dos nossos escritores. Não percebo como é que, por exemplo, o Gil Vicente já não é obrigatório, que era o pai do teatro português… Muitas vezes ouço opiniões de que, de facto, a nossa história dramatúrgica não é tão rica como, por exemplo, a inglesa ou a francesa, mas temos os nossos dramaturgos e temos belíssimos dramaturgos. Não são em tão grande quantidade, não temos um Shakespeare ou um Molière, mas temos um Gil Vicente. Os próprios autores mais contemporâneos, temos gente extraordinária…

O próprio Governo devia obrigar as companhias a que representassem uma percentagem de autores portugueses por ano para nós conhecermos a nossa cultura. Isto para não falar do teatro mais popular, por exemplo, o da revista, que é um teatro que fiz muito, do qual gosto muito, e que é muito falado pejorativamente. Ou seja, há um preconceito muito grande em Portugal que esse é um teatro de menor qualidade e isso é mentira. Sempre disse isto, depende de quem escreve, de quem faz, de quem dirige… Se se juntar uma boa equipa de profissionais pode ser um espetáculo fabuloso. Nas escolas de teatro em Portugal sei que se diz mal deste género, da revista. Não entendo, nem nunca vou entender isso porque é um teatro em que és devidamente português. É uma coisa que tem características muito nossas e que podia ser elevada a outro nível, se houvesse apoio estatal e se não houvesse tanta contestação da parte da própria classe artística.

Entre os muitos trabalhos feitos, tanto na representação como na dobragem de personagens, deu voz ao famoso Pumba, personagem de um dos desenhos animados mais acarinhados, ‘O Rei Leão’. Formato que vai regressar agora em filme... Também vai fazer de Pumba nesta longa-metragem?

Por acaso ainda não me disseram nada, não sei. Pode ser que haja outro Pumba.

Aprendeu a arte do Hakuna Matata (a arte de não se preocupar e levar a vida sem problemas)?

Sim, por acaso tem muito a ver comigo. Sou muito tranquilo, muito descontraído na vida. Gosto de conhecer pessoas, de estar bem, de tentar fazer felizes os que estão à minha volta. Mas isto não é conversa da boca para fora, basta perguntar a pessoas que me conhecem. Sou uma pessoa bem disposta e que gosta de estar com energias positivas das outras pessoas à volta.

Já apresentei vários projetos em televisão, mas nunca me levam muito a sério porque só há duas ou três grandes instituições que decidem, como todos nós sabemosDe todos os projetos que fez até aqui, qual foi o que mais lhe tocou particularmente?

Muitos!!! E depois é aquela coisa de que gosto de recordar as coisas boas. Quando as pessoas dizem que a nostalgia é uma coisa horrível… Não, não é nada. Quando as coisas são boas não é tão bom recordar?

E qual é o projeto que mais gostava de ter feito (TV, Cinema, Teatro)?

Tantos! Não há um específico. Mas é muito complicado. Já apresentei vários projetos em televisão, mas nunca me levam muito a sério porque só há duas ou três grandes instituições que decidem, como todos nós sabemos. Entre as direções das televisões e as grandes produtoras é que se decide tudo. Não é um rapazinho tão pequenino como eu que pode dizer: ‘Olha, gostava de fazer isso’. Eles querem lá saber. Por isso é que no teatro eu posso fazer isso. Este projeto, ‘Vou Levar-te Comigo’, é exatamente uma coisa que quero fazer e com quem quero. Só aqui é que posso fazer aquilo que quero mesmo.

Em relação às televisões, temos de nos sujeitar aos trabalhos que existem. E quando nos convidam, é evidente, temos de ganhar a vida e eu já fiz muitas coisas que gosto em televisão. Às vezes na RTP Memória passam coisas de que já nem me lembrava bem. Está a passar agora, por exemplo, a ‘Roseira Brava’. Adorei fazer aquela telenovela com colegas que muitos deles já faleceram. Eram mestres autênticos da arte de representar. Vejo aquilo e recordo com todo o prazer. Há coisas muito boas em televisão que se fazem, claro, agora não são propostas por mim porque não tenho esse poder, não sou nenhum produtor conhecido…

Como disse mesmo agora, já contracenou com vários atores e alguns deles até já partiram… Quais as maiores saudades que ficam do que foi vivido?

Acima de tudo é isso, são as saudades das pessoas com quem aprendemos. Fazem-me falta esses mestres. Nunca gosto de dizer nomes porque me esqueço sempre de uma pessoa ou de outra e é injusto. Mas tive a sorte de trabalhar com gente fantástica, fabulosa, que sabia muito disto. As gerações depois são outras e há sempre gente fantástica em todas as gerações, obviamente. Mas aprendi, claro, com gente mais velha e tenho que falar deles.

Não fiz conservatório, não tive formação académica e aprendi com os encenadores, os atores e os realizadores com quem trabalhei, que foram estas pessoas mais antigas. Fui vendo e aprendendo

Há algum momento em especial que lhe tenha tocado e que continua muito vivo na memória?

Há muitos. Não posso falar de um… Por exemplo, a propósito desta novela, estão lá nomes que me ensinaram muito e que também fizeram teatro comigo, como o Nicolau Breyner, Armando Cortez, Henrique Canto e Castro… Não fiz conservatório, não tive formação académica e aprendi com os encenadores, os atores e os realizadores com quem trabalhei, que foram estas pessoas mais antigas. Fui vendo e aprendendo.

Já com 55 anos de vida, mais de 40 vividos em Portugal, o que mudou para melhor no nosso país e o que continua escondido?

O que mudou, como todos nós sabemos, foi o tempo do fascismo para depois a democracia. A liberdade é uma coisa que não tem preço. Tudo mudou para melhor nesse sentido. Para pior tudo o que tem mudado é o que nós sabemos e que está à nossa volta. A corrupção que existe, as desigualdades que não deveriam acontecer num regime de democracia. Por muitos governos que se formem, parece que é muito difícil de combater coisas que já estão a ser corrigidas há muito tempo. Concretamente em relação à cultura, que é a área onde trabalho, é um crime nos dias de hoje, num regime democrático, a cultura estar tão maltratada.

Se lhe fosse concedido o poder de mudar apenas uma coisa em si ou no mundo, o que mudaria?

No mundo não mudava só uma coisa, tinha de mudar muitas… Posso dar o exemplo desta história da questão ecológica. Estamos a destruir-nos aos poucos e os políticos estã a marimbar-se para isto porque só veem o presente e a economia sobrepõe-se a tudo, a todas essas formas ideológicas de poder mudar o mundo para melhor. E não deixam que a questão ecológica possa evoluir. Sabemos o que se está a passar no mundo em relação às florestas que destroem, às grandes indústrias que mandam e decidem tudo e se sobrepõem a esses interesses. É tudo isso que está mal e era isso tudo que mudava se pudesse, mas é muito complicado. 

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